Por James Coffin (RA, jul. de 1994)
Alguns vêem a lei dominical escondida em toda manchete. Outros esperam por ela como um sinal para levarem a sério sua vida espiritual.
Faz algum tempo visitei um ex-colega de classe, que não é mais adventista do sétimo dia. Após algumas horas pondo em dia o que havia ocorrido em nossa vida desde os dias escolares, nosso diálogo foi direcionado para o campo espiritual.
"Quando, em sua opinião, sairá uma lei dominical nacional?" ele perguntou. Em seguida, tentou me convencer de que, tão logo uma lei fosse aprovada, eu poderia contar com seu retorno à igreja. Até então, ele preferia permanecer como estava. Eu me retirei meneando a cabeça.
Por que muitos adventistas e ex-adventistas consideram a vida cristã como uma experiência desinteressante, restritiva e desanimadora?
E mais, por que o significado de uma lei dominical se tornou tão confuso em nossa mente? Muitos vêem a lei dominical como um definido convite final para a fuga. Enquanto a lei não chega, por que desperdiçar tempo sentado no aeroporto? Para essas pessoas a lei dominical dá a impressão de que a apatia é motivo para segurança.
Para outros, porém, nada atrai tanto a imaginação espiritual quanto a expectativa de uma iminente imposição da lei dominical. Desse modo, todo e qualquer acontecimento que sugira a mais remota possibilidade do surgimento de uma lei dominical, é visto com todo o seu potencial de motivação profética e espiritual. Qual a razão?
Origem da idéia
Na primeira parte de Apocalipse 13, lemos a respeito de uma besta de muitos chifres ante a qual todo o mundo se inclina. A última parte do capítulo descreve uma besta semelhante a um cordeiro que começa a falar como um dragão, tentando forçar todos a adorar de um modo específico. A besta semelhante ao cordeiro vai além, impondo sanções econômicas e até a pena de morte aos que não aceitam o sinal em sua testa ou mão.
Os protestantes de outrora apressaram-se a rotular o papado como a besta de muitos chifres da primeira parte de Apocalipse 13. Portanto, os adventistas não foram os primeiros a pensar assim. Somos, porém, originais quando retratamos esse assunto, em todos os detalhes, na última parte do capítulo. Para tanto, nós nos escudamos nos escritos de Ellen G. White.
Em síntese, Ellen White diz que a besta semelhante a um cordeiro são os Estados Unidos, nação fundada sobre os princípios do protestantismo. A questão em jogo é a lealdade centralizada no dia de adoração. Um pouco antes do retorno de Jesus, ela diz, o protestantismo e o catolicismo se unirão com o objetivo de forçar a observância universal do domingo. Uma lei dominical nacional será promulgada nos Estados Unidos, seguida de uma lei dominical internacional. Todos os que concordarem com a união católico-protestante e prestarem homenagem ao dia de adoração espúrio, receberão a marca da besta.
O cenário que Ellen White descreve é inteiramente compatível com o elementar esboço profético apresentado em apocalipse 13. Entretanto, sem a revelação divina, seria impossível -mesmo com um cuidadoso estudo das Escrituras e da História - chegar à minuciosa seqüência de eventos que ela apresenta.
O fato de nossas expectativas quanto à lei dominical se basearem em Ellen White não as invalida em nenhum aspecto. Tal compreensão, todavia, deveria estabelecer diferença na maneira como retratamos os acontecimentos do fim ™ ao falarmos ao público. Não devemos apresentar tão enfaticamente nossas idéias particulares concernentes a essas verdades claramente demonstradas mediante o estudo das Escrituras e da História.
Ellen White e as leis dominicais
Tiremos algumas conclusões analisando o que Ellen White diz sobre leis dominicais.
1. As leis dominicais têm sido uma possibilidade marcante na maior parte da história da Igreja Adventista do Sétimo Dia. "Acontecimentos que, há mais de quarenta anos, baseados na autoridade da palavra profética, declarávamos estarem iminentes, desenrolam-se agora perante nossos olhos. Já os legisladores da nação [refere-se aos Estados Unidos] foram instados a emendarem a Constituição, restringindo a liberdade de consciência. A questão de impor a observância do domingo tornou-se de interesse e importância nacionais." -Testemunhos Seletos, vol. 2, pág. 318 (escrito em 1889).
2. A promulgação da lei dominical é verdadeiramente um sinal de que estamos perto do fim. "Deus mantém um registro sobre as nações: os dados conspiram contra elas nos livros do Céu; e quando se tomar lei o fato de que a transgressão do primeiro dia da semana deverá ser punida, então sua taça estará cheia" (The SDA Bible Commentary, comentários de E. G. White, vol. 7, pág. 910).
3. A instituição da lei dominical é um sinal para que os seguidores de Deus saiam das grandes cidades.
"Como o cerco de Jerusalém pelos exércitos romanos era o sinal de fuga para os cristãos judeus, assim o arrogar-se nossa nação o poder no decreto que torna obrigatório o dia de repouso papal será uma advertência para nós. Será então tempo de deixar as grandes cidades, passo preparatório ao sair das menores para lares retirados em lugares solitários entre as montanhas." - Testemunhos Seletos, vol. 2, pág. 166.
4. As leis dominicais constituem uma solução equivocada para as necessidades morais. "Os dirigentes do movimento em favor do domingo podem advogar reformas que o povo necessita, princípios que se acham em harmonia com a Escritura Sagrada; contudo, enquanto houver com eles uma exigência contrária à lei de Deus, Seus servos não se lhes poderão unir. Nada os pode justificar de pôr à parte os mandamentos de Deus, optando pelos preceitos dos homens." - O Grande Conflito, pág. 592.
5. Devemos trabalhar para assegurar a liberdade de consciência por mais tempo, apesar de crermos que um dia essa liberdade será suprimida. "Não estamos cumprindo a vontade de Deus se nos deixarmos ficar em quietude, nada fazendo para preservar a liberdade de consciência." - Testemunhos Seletos, vol. 2, págs. 320 e 321.
"É nosso dever fazer tudo ao nosso alcance, a fim de advertir contra o perigo iminente. Devemos esforçar-nos por destruir os preconceitos, assumindo a legítima atitude diante dos homens. Devemos esclarecer-lhes a questão propriamente dita em torno da qual gira a controvérsia, e deste modo lavrar o mais eficaz protesto contra medidas tendentes a restringir a liberdade de consciência." - Idem, pág. 152.
6. Devemos traçar as implicações espirituais da legislação dominical. "Se Deus nos proporcionou luz que mostra os perigos à nossa frente, como poderemos subsistir perante Ele se negligenciarmos envidar esforços que pudermos para apresentá-lo ao povo? Poderemos contentar-nos com deixá-los a ir ao encontro desse acontecimento momentoso sem os advertir?" - Idem, pág. 319.
7. Os adventistas não deveriam votar em candidatos que não apoiam a liberdade de consciência. "Não podemos trabalhar para agradar a homens que irão empregar sua influência para reprimir a liberdade religiosa, e pôr em execução medidas opressivas para levar ou compelir seus semelhantes a observar o domingo como sábado. ... O povo de Deus não deve votar para colocar tais homens em cargos oficiais; pois assim fazendo, são participantes nos pecados que eles cometem enquanto investidos desses cargos." Fundamentos da Educação Cristã, pág. 475.
8. Se as leis dominicais restringem meramente as atividades seculares no domingo, não devemos transgredi-las intencionalmente.
"Desafiar as leis dominicais não fará senão fortalecer em suas perseguições os fanáticos religiosos que as buscam impor. Não lhes deis ocasião alguma de vos chamarem violadores da lei. ... O domingo pode ser empregado para desenvolver vários ramos de trabalho que muito farão em proveito do Senhor." - Testemunhos Seletos, vol. 3, págs. 395 e 396.
9. A lei dominical será nacional e depois internacional. "A história se repetirá. A religião falsa será exaltada. O primeiro dia da semana, um dia comum de trabalho, sem nenhuma santidade, será estabelecido como o foi a estátua em Babilônia. Todas as nações, línguas e povos serão solicitados a adorar esse sábado espúrio. ... O decreto obrigando a observância desse dia será imposto a todo o mundo. Em certo sentido, isso já está sendo feito. Em vários lugares o poder civil fala com a voz do dragão, assim como o rei pagão falou aos cativos hebreus." {The SDA Bible Commentary, comentários de Ellen G. White, vol. 7, pág. 976.)
10. A observância do domingo será finalmente o critério externo pelo qual o povo será visto como tendo recebido o sinal da besta. "A observância do domingo não é ainda o sinal da besta, e não o será até que o decreto force os homens a adorar seu sábado idolátrico. Tempo virá em que esse dia será o teste, mas esse tempo ainda não chegou." - Idem, pág. 977.
Palavras de advertência
Ao longo da história dos Estados Unidos, o Estado e governos locais têm tido leis dominicais que restringem o comércio e outras atividades em vários sentidos. Mas estas não são as leis dominicais que Ellen White menciona como tendo significado profético.
Além disso, ao longo da história da Igreja, e até nossos dias, surgiram, amiúde, situações que certamente podiam ter preparado o caminho para a lei dominical, a qual os adventistas aguardam por mais de um século. Devemos, porém, ser extremamente cautelosos em nossas especulações. Apesar do minucioso quadro dado por Ellen White quanto ao que devemos esperar, ela deixou muita coisa por ser dita.
Necessita-se equilíbrio nesse assunto. Precisamos de uma religião que nos comprometa por toda a vida a tornar o mundo melhor e, ao mesmo tempo, esperar o livramento das conseqüências deste mundo. Precisamos de uma religião que esteja atenta aos sinais dos. tempos, ao mesmo tempo que resista à tendência de criar sinais com base em acontecimentos que não merecem tanto significado. Necessitamos uma religião que nos relembre que a profecia não é meramente predizer o que está por acontecer, mas confirmar nossa fé quando as predições ocorrerem (ver João 13:19).
Disseminando falsas expectativas
Jamais esquecerei a posse de John F. Kenedy, era 1961. A idéia da presença da Igreja Católica na Casa Branca causou um sentimento de preocupação em muitos protestantes. De tato. a cerimônia de posse assumiu um significado profético tão grande na mente da professora da escola adventista que eu freqüentava, que todos os alunos da minha classe foram à casa de um membro da igreja para assistir ao acontecimento pela televisão.
O precipitado comentário da professora, enquanto víamos a cerimônia pela televisão, permanece ainda em minha memória. Ela afirmou que, com certeza, as leis dominicais seriam decretadas dentro de um futuro próximo, As profecias estavam se cumprindo diante de nossos olhos. A volta de Jesus estava prestes a ocorrer.
O ano de 1964 foi o 120° aniversário do Grande Desapontamento. Surgiram alguns dizendo que, assim como Noé havia pregado sua mensagem durante 120 anos. e Jesus havia comparado o tempo de Sua vinda com a época de Noé, aquele poderia ser o ano de Seu retorno.
Durante a guerra de 1967, no Oriente Médio, nosso pastor disse que o acontecimento tinha tanto significado profético que, pela primeira vez em toda a sua vida, ele tinha ouvido as notícias pelo rádio e lido os jornais no sábado, e assim, estava apto para nos dar as últimas notícias em seu sermão. Segundo ele. estávamos a poucos momentos do Armagedom.
A guerra de 1973. no Oriente Médio, e a crise de energia que ela causou, estavam preparando o caminho para leis dominicais baseadas em fatores econômicos, segundo membros de igreja afirmavam. Estávamos no limiar da eternidade.
Mais recentemente, vi membros de igreja que vaticinaram leis dominicais para Io de fevereiro de 1991. e a vinda de Cristo para. mais tardar, no final de 1994. As predições foram baseadas no "princípio do jubileu".
Sem dúvida, nada mais consegue engendrar tanto fervor espiritual como a crença de que a vinda de Cristo está às portas.
Mas, com o passar de cada crise vista como um sinal do iminente retorno de Cristo, nós nos tomamos insensíveis. Alguns chegam a desistir da fé.
Em certo sentido (e corro o risco de ser mal-interpretado). o tempo da vinda de Jesus não é o fator primordial. Ocorra ele amanhã, ou daqui a 10 anos, ou daqui a 100 anos, será por certo o maior acontecimento da história terrena.
Enquanto aguardo, é importante ser um amigo de Jesus, experimentar uma vida abundante e equilibrada, uma vida centralizada em Deus e no próximo, e certificar-me de que estou contando aos outros do Deus maravilhoso, perdoador, restaurador e prestes a vir, ao qual servimos.