Por Urias Smith
A que dia faz referência esta designação? Uma classe sustenta que a expressão "o dia do Senhor" abrange toda a dispensação cristã e não significa um dia de 24 horas. Outra classe defende que o dia do Senhor é o dia do juízo, o futuro "dia do Senhor", mencionado com freqüência nas Escrituras. A terceira opinião é que a expressão se refere ao primeiro dia da semana. Ainda outra classe sustenta que significa o sétimo dia, o sábado do Senhor.
Em resposta à primeira destas posições basta dizer que o livro do Apocalipse é datado por João, na ilha de Patmos, e isso no dia do Senhor. O autor, o lugar onde foi escrito e o dia em que foi datado, têm uma existência real e não apenas simbólica ou mística. Mas se dizemos que o dia significa a dispensação cristã, lhe damos um significado simbólico ou místico que não é admissível. Por que precisaria João explicar que escrevia no "dia do Senhor" se a expressão significava a dispensação cristã? É conhecido o fato de que o Apocalipse foi escrito uns sessenta anos depois da morte de Cristo.
A segunda opinião, de que é o dia do juízo, não pode ser correta. Embora João tivesse uma visão acerca do dia do juízo, não a podia ter nesse dia que era ainda futuro. A palavra grega en traduzida por em foi definida por Thayer assim, referente a tempo: "Períodos ou porções de tempo nos quais sucede algo, em, durante." Nunca significa acerca de ou sobre. Sendo assim, os que relacionam esta expressão com o dia do juízo contradizem a linguagem usada, fazendo-a significar acerca de em vez de em, ou fazem João afirmar uma estranha mentira, dizendo que teve uma visão na ilha de Patmos, há dezenove séculos, no dia do juízo, que era ainda futuro.
O terceiro ponto de vista, o mais generalizado, iguala "o dia do Senhor" com o primeiro dia da semana. Mas faltam as provas de que está certo. O próprio texto não define a expressão "dia do Senhor", e neste caso se a pessoa quer significar primeiro dia da semana devemos buscar em outro lugar da Bíblia a prova disso. Os únicos outros escritores inspirados que falam do primeiro dia são Mateus, Marcos, Lucas e Paulo, e o designam simplesmente como "primeiro dia da semana". Nunca falam dele, distinguindo-o como superior a um dos outros seis dias de trabalho. Isto é mais notável, do ponto de vista popular, pois três deles falam desse dia no próprio tempo em que é dito que pela ressurreição de Cristo o primeiro dia do Senhor tornou-se o dia do Senhor, e dois o mencionam trinta anos depois desse acontecimento.
É dito que "dia do Senhor" era a expressão usual para o primeiro dia da semana no tempo de João, mas perguntamos: Onde está a prova disso? Não se pode encontrar. Na verdade, temos provas em contrário. Se esta fosse a designação universal do primeiro dia da semana quando o Apocalipse foi escrito, o próprio autor devia certamente chamá-lo assim em todos os seus escritos posteriores. Mas João escreveu o Evangelho depois de ter escrito o Apocalipse, e, todavia, no Evangelho ele chama o primeiro dia da semana não "dia do Senhor", mas simplesmente "o primeiro dia da semana". O leitor que quiser provas de que o Evangelho foi escrito depois do Apocalipse, as encontrará nos escritores que são autoridades no assunto.
A declaração em favor do primeiro dia fica mais categoricamente refutada pelo fato de que nem Deus nem Cristo jamais reclamaram o primeiro dia como Seu, em qualquer sentido diferente do atribuído a qualquer dos outros dias de trabalho. Nenhum deles jamais foi abençoado nem chamado santo. Se devesse chamar-se dia do Senhor porque nele Cristo ressuscitou, sem dúvida a Inspiração nos teria informado disso. Se na ausência de qualquer instrução referente à ressurreição chamarmos dia do Senhor o dia quando ela se realizou, por que não daríamos o mesmo nome aos dias em que se efetuaram a crucifixão e a ascensão, que para o plano da salvação representam eventos tão essenciais como a ressurreição?
Tendo sido refutadas as três posições já examinadas, a quarta, a saber a que identifica o dia do Senhor como o sábado reclama a nossa atenção. Em favor deste ponto de vista pode-se dar as provas mais claras. Quando no princípio Deus deu ao homem seis dias na semana para trabalhar, expressamente reservou para Si o sétimo dia, colocou nele a Sua bênção e o reclamou como Seu santo dia (Gênesis 2:1-3). Moisés disse a Israel no deserto de Sin, no sexto dia da semana: "Amanhã é repouso, o santo sábado do Senhor" (Êxodo 16:23).
Chegamos ao Sinai, onde o grande Legislador proclamou os Seus preceitos morais com terrível solenidade; e nesse supremo código assim reclama o Seu santo dia: "O sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus ... porque em seis dias fez o Senhor os céus, e a Terra, o mar, e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou: portanto abençoou o Senhor o dia do sábado e o santificou." Pelo profeta Isaías, oitocentos anos mais tarde, falou Deus nos seguintes termos: "Se desviares o teu pé de profanar o Sábado, e de cuidar dos teus próprios interesses no Meu santo dia ... então te deleitarás no Senhor" (Isaías 58:13, 14).
Chegamos aos tempos do Novo Testamento, e Aquele que é Um com o Pai declara expressamente: "O Filho do homem até do sábado é Senhor" (Marcos 2:28). Pode alguém negar que o dia que Ele enfaticamente declarou que era do Senhor seja de fato o dia do Senhor? Vemos assim que, quer esse título se refira ao Pai quer ao Filho, nenhum outro dia pode ser chamado dia do Senhor senão o sábado do grande Criador.
Na dispensação cristã há um dia distinto acima dos outros dias da semana como sendo o "dia do Senhor". Quão completamente este fato refuta a pretensão de alguns que afirmam não haver sábado nesta dispensação, mas que todos os dias são iguais! Ao chamá-lo "dia do Senhor", o apóstolo deu-nos, cerca do fim do primeiro século, a sanção apostólica à observância do único dia que pode ser chamado o dia do Senhor, que é o sétimo dia da semana.
Quando Cristo estava na Terra, indicou claramente qual era Seu dia ao dizer: "O Filho do homem até do sábado é Senhor" (Mateus 12:8). Se tivesse dito: "O Filho do homem até do primeiro dia da semana é Senhor", não seria isso hoje apresentado como prova concludente de que o primeiro dia da semana é o dia do Senhor? Certamente que sim e com boa razão. Portanto, deve reconhecer-se como válido o mesmo argumento para o sétimo dia, em relação ao qual foram pronunciadas estas palavras.
Fonte: Livro "As Profecias de Daniel e Apocalipse"