Por T. M. French
O vidente assim descreve o quadro profético: "E vi os sete anjos, que estavam diante de Deus, e foram-lhe dadas sete trombetas. " Apoc. 8: 2.
São aqui apresentados os símbolos da guerra, que conduzem a quem estuda as profecias, através da derrocada do império romano, o açoite da cristandade apóstata por vastas hordas de exércitos hostis, a dissolução do poder islâmico, o começo do juízo investigativo, da ira das nações e o estabelecimento do reino de nosso Senhor. Veremos ondas de invasões bárbaras que varrem a Europa; presenciaremos a derrocada dos maiores impérios da antiguidade; veremos nuvens de gafanhotos que se assemelham a cavaleiros, espalhando-se por sobre os prósperos países do Oriente Próximo, suleste e sudeste da Europa, saqueando regiões e províncias inteiras; e ouviremos os rumores da tormenta que se aproxima sobre as nações. Soam as trombetas, uma após outra, e os exércitos das nações reunem-se para o conflito.
Um Símbolo da Guerra
Concernente à trombeta, o antigo vidente escreveu: "Estou ferido no meu coração! o meu coração ruge; não me posso calar; porque tu, ó minha alma, ouviste o som da trombeta e o alarido da guerra. " Jer. 4: 19.
"Já tocaram a trombeta, e tudo prepararam, mas não há quem vá à peleja, porque sobre toda a sua multidão está a Minha ardente ira. " Ezeq. 4: 17.
Este e outros textos nos mostram claramente que a trombeta é um símbolo de guerra. As sete trombetas, pois, simbolizam as grandes conquistas militares durante a era cristã. Mas antes de presenciar o pavoroso quadro da guerra, a matança e a fome, foi concedida ao profeta uma visão mais tranquilizadora. Viu o símbolo da mediação de Cristo no santuário celestial. Foi-lhe assegurado que em meio de todos os distúrbios terrestres, choque das armas e consequentes sofrimentos, os santos não seriam esquecidos. A vista de nosso grande Sumo-Sacerdote tem estado vi¬giando-os, e suas fervorosas súplicas por livramento e proteção chegaram ao alto, qual suave incenso perante o trono do Altíssimo.
A Mediação nos Céus
"E veio outro anjo, e pôs-se junto ao altar, tendo um incensário de ouro; e foi-lhe dado muito incenso, para o pôr com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro, que está diante do trono. " Apoc. 8: 3.
Pensamento animador é o de que as orações de todos os santos elevam-se de maneira aceitável até à presença dAquele que pode salvar perfeitamente! Através do conflito dos séculos, aflições, sofrimentos e perseguição de todo gênero, Deus tornou mais que vencedores aos Seus filhos que habitam na terra. Pensai, porém, naquele tempo em que o anjo lançará seu incensário, em que não haverá mais intercessão pela humanidade, quando as nações se precipitarão à voragem da ruína de que não haverá escape, a não ser para os santos. Este é precisamente o quadro pintado simbolicamente no versículo 5:
"E o anjo tomou o incensário, e o encheu do fogo do altar, e o lançou sobre a terra; e houve depois vozes, e trovões, e relâmpagos e terremotos. "
A Primeira Trombeta
"E o primeiro anjo tocou a sua trombeta, e houve saraiva, e fogo misturado com sangue, e foram lançados na terra, que foi queimada na sua terça parte; queimou-se a terça parte das árvores, e toda a erva verde foi queimada. " V. 7.
A linguagem aqui usada é altamente simbólica, mas é interessante ver como os historiadores profanos empregam as mesmas expressões da profecia na descrição que fazem de seu cumprimento literal.
A terça parte dos homens se refere sem dúvida a uma das três divisões de Roma, cuja derrocada se realiza nos grandes movimentos representados pelas primeiras quatro trombetas. Noutras palavras, a terça parte dos homens se refere aqui a Roma Ocidental. O simbolismo consiste em "saraiva, e fogo misturado com sangue" "lançados na terra. " Ê uma representação apropriada da invasão que fizeram os godos de Roma Ocidental pelo norte. Escrevendo acerca do desmembramento do Império Romano, diz Gibbon:
"Dissolveu-se a unidade do Império Romano; seu gênio foi abatido e feito em pó, e exércitos de bárbaros desconhecidos, provenientes das geladas regiões do norte, estabeleceram seu reino vitorioso sobre as mais prósperas províncias da Europa e da Africa. " — Roma, de Gibbon, Cap. XXXIII, últ. frase.
Escrevendo acerca dos godos, e em particular de Alarico, seu chefe, diz ainda Gibbon:
"O nascimento de Alarico, as glórias de seus feitos anteriores, e a confiança em seus planos, uniram insensivelmente o conjunto das nações sob seu vitorioso estandarte; e, com o consentimento unânime dos chefes bárbaros, segundo o antigo costume, o grande general do Ilírico foi elevado sobre um escudo e solenemente proclamado rei dos visigodos. Armado deste duplo poder, sentado sobre o limite dos dois impérios, fez alternativamente promessas enganosas às cortes de Arcádio e Honório, até declarar e executar seu propósito de invadir os domínios do Oeste.... Foi tentado pela fama, beleza e riqueza da Itália, que visitara duas vezes, e secretamente aspirou hastear o estandarte gótico sobre os muros de Roma e enriquecer seu exército com os saques acumulados de trezentos triunfos. " — Idem, Cap. XXX, pág. 4.
Falando da desolação produzida pelas invasões de Alarico na Itália, continua a dizer Gibbon:
"O ancião que passou a vida simples e inocente nas proximidades de Verona, era estranho às rixas tanto de reis como de bispos; seus prazeres, desejos e conhecimento reduziam-se ao pequeno círculo de sua granja paterna, e um cajado lhe sustinha os passos de velho sobre o mesmo solo em que brincara na infância. No entanto, mesmo esta humilde e rústica felicidade... foi exposta à cega ira da guerra. Suas árvores, suas velhas árvores contemporâneas, deviam arder na conflagração de todo o país [notem-se as palavras da profecia: "Queimou-se a terça parte das árvores"]; um destacamento de cavalaria gótica havia de arrazar-lhe a casa e a família, e o poder de Alarico ia-lhe destruir a felicidade, que já não podia provar nem conferir. "—Idem, parág. 5.
Os godos marcharam contra a Itália, sitiaram Roma, tomaram-na, saquearam-na, e devastaram a Itália de norte a sul e de este a oeste. Soara a primeira trombeta, as hordas góticas haviam respondido, e agora a Itália jaz saqueada desde um ao outro extremo. O período desta trombeta abrange desde 395 até 419. Ficou, porém, reservada para outros a destruição completa de Roma ocidental.
A Segunda Trombeta
"E o segundo anjo tocou a trombeta; e foi lançada no mar uma coisa como um grande monte ardendo em fogo, e tornou-se em sangue a terça parte do mar. " Apoc. 8: 8.
A profecia volta das frígidas regiões do norte, de onde vieram os exércitos da primeira trombeta, para a superfície naval do Mediterrâneo, no sul. Grande montanha ardente é arrojada ao mar, e a terça parte do mar se converte em sangue. Este é um símbolo da guerra e destruição naval de Genserico, durante um período que começa em 428 e vai até à queda do Império, em 476. Acerca do erguimento do poder de Genserico, diz o historiador o seguinte:
"Logo que tocou a costa, ou pelo menos logo que os diques e portos de Hipo e Cartago estiveram ao seu alcance, êle, o chefe de uma tribu de bárbaros continentais, comprometidos com os amigáveis oficiais de Bonifácio por causa do transporte de suas embarcações através do estreito de Gibraltar, concentrou todas as suas energias na construção de barcos, e logo possuía incomparavelmente o mais formidável poder naval do Mediterrâneo. " — Italy and his Invaders, Livro III, Cap. II, parág. 49.
Além de devastar as costas do Mediterrâneo e cometer nelas pilhagens, este chefe vândalo saqueou a cidade de Roma. Disso é feito o relato seguinte:
"Roma e seus habitantes foram entregues às arremetidas dos vândalos e dos mouros, cujas cegas paixões vingaram as injúrias de Cartago. A pilhagem durou catorze noites, e tudo quanto ainda restava, fosse de riqueza pública ou particular, de tesouros sagrados ou profanos, foi diligentemente transportado para os barcos de Genserico. " — Gibbon, Cap. XXXVI, parág. 4.
Esta invasão levantou os cidadãos de Roma, amantes dos prazeres.
"Os bosques dos Apeninos foram derribados, os arsenais e fábricas de Ravena e Misena restaurados, Itália e Gália competiram mutuamente em contribuições generosas para o serviço público, e a armada imperial, de trezentas galeras, com adequada proporção de transportes e barcos menores, foi reunida no seguro e espaçoso porto de Cartagena, na Espanha. " — Idem, parág. 12.
Mas o chefe vândalo "surpreendeu a desguarnecida frota na baía de Cartagena, muitos dos barcos foram postos a pique, tomados ou queimados, e destruídos num único dia os preparativos de três anos. " — Idem, parág. 13.
Novamente se fez um esforço supremo para destruir a nação vândala. Fizeram-se extensos preparativos, e o historiador dá-nos o seguinte relato:
"A frota que navegou (468 d. C. ) de Constantinopla para Cartago, compunha-se de 113 barcos, e o número de soldados e marinheiros excedia de 100. 000 homens. " — Idem, parág. 20.
No ataque que esta frota e uma grande força terrestre fizeram a Cartago, parecia certo que a capital dos vândalos cairia imediatamente nas mãos dos romanos. O astuto Genserico concertou uma trégua afim de conseguir um prazo para a rendição, mas o historiador dir-nos-á o que se fez durante o intervalo:
"O vento soprou favorável aos planos de Genserico. Tripulou suas grandes naves de guerra com os mais bravos mouros e vândalos, rebocando muitos barcos grandes, cheios de materiais combustíveis. Na escuridão da noite, estes barcos destruidores foram arrojados contra a frota indefesa dos romanos, que de nada suspeitavam, e despertaram ao sentir o perigo imediato. A ordem em que estavam dispostas as embarcações muito juntas e amontoadas, auxiliou o progresso do fogo, que foi propagado com rápida e irresistível violência; e o ruído do vento, o crepitar das chamas, os gritos dissonantes dos soldados e marinheiros, que não podiam nem mandar nem obedecer, aumentava o horror do tumulto noturno. Enquanto trabalhavam para subtrair-se às chamas e salvar pelo menos parte da armada, as galeras de Genserico os assaltaram com valor e disciplina, e muitos dos romanos que escaparam à fúria das chamas foram destruídos ou feitos prisioneiros pelos vândalos vitoriosos. " — Gibbon, Cap. XXXVI, parág. 21.
Quão vlvidamente descreve o historiador o cumprimento do símbolo profético, segundo o qual "foi lançada no mar uma coisa como um grande monte ardendo em fogo"!
Tratámos neste artigo das duas primeiras trombetas. No estudo seguinte veremos como duas invasões sucessivas completaram a destruição do Império Ocidental.
Em nosso último estudo notamos que a trombeta é um símbolo de guerra, que as primeiras quatro trombetas foram dirigidas contra o Império Romano do Ocidente, e que a invasão dos godos e a guerra naval dos vândalos constituíram o cumprimento das primeiras duas trombetas. Consideraremos agora outros dois conflitos que completaram a queda do império do Ocidente.
Antes de estudar a terceira trombeta, devemos notar que existe um período em que esta se sobrepõe à segunda. A segunda começou a soar no ano 428, e a terceira, treze anos depois; mas a segunda durou mais que a terceira. Isto parece não se acomodar a uma perfeita sucessão, como se dá no caso das trombetas que compreendem os ais do capítulo 9.
A Invasão dos Hunos
Ao soar a trombeta do terceiro anjo, as hostes bárbaras se reuniram sob o estandarte de Átila, o huno. Mas antes de nos ocuparmos com os acontecimentos, detalhadamente, vejamos a descrição simbólica que se registra em Apocalipse 8: 10, 11.
"E o terceiro anjo tocou a sua trombeta, e caiu do céu uma grande estrela, ardendo como uma tocha, e caiu sobre a terça parte dos rios, e sobre as fontes das águas. E o nome da estrela era Absinto, e a terça parte das águas tornou-se em absinto, e muitos homens morreram das águas, porque se tornaram amargas. "
Do simbolismo que aí se nos apresenta, os seguintes fatos podemos deduzir: 1) A estrela deve simbolizar brilhante chefe militar; 2) essa estrela caiu sobre as fontes das águas na parte ocidental do império, isto é, ao redor dos Alpes, origem de muitos rios e torrentes da Europa; 3) a queda dessa estrela acarretaria um acontecimento amargo, como o absinto; 4) muitos morreriam como consequência desse desastre.
Referindo-se à campanha militar que corresponde ao cumprimento da profecia, assim se expressam os historiadores:
"Os reis e nações da Alemanha e Cítia, desde o Volga, talvez, até o Danúbio, obedeceram aos chamados bélicos de Atila. Da aldeia real das planícies da Hungria, seu estandarte se moveu para o oeste; e, depois de uma marcha de umas sete ou oito mil milhas, chegou à confluência do Reno e do Neckar. ... As hordas ferozes se lançaram com irresistível violência pelas províncias belgas. A consternação da Gália foi universal.... Do Reno e do Mosela, Átila avançou até o coração da Gália; atravessou o Sena em Auxerre; e, depois de longa e exhaustiva marcha, fixou acampamento sob os muros de Orleans. " — Roma, por Gibbon, capítulo... XXXV, par. 7.
O general romano arregimentou um vasto exército, escolhendo os seus integrantes entre os povos do Ocidente, "para oferecer batalha às inumeráveis hostes de Átila". Encontraram-se na planície de Challons, seguindo-se "uma das mais gigantescas e importantes batalhas registradas na história". (Esta cita foi extraída da Enciclopédia Britânica, artigo: "Átila". )
O curso da estrela, ou meteoro, foi apenas modificado por esse esforço indeciso, e Átila, à frente de seu exército, marchou para o norte da Itália, conforme explica o seguinte parágrafo:
"No verão seguinte (452) ele... se pôs a campo, atravessou os Alpes, invadiu a Itália e sitiou Áquila com inumerável hoste de bárbaros. " — Gibbon, capítulo XXXV, par. 12.
Não seguiremos os horripilantes detalhes dessa campanha realizada na Itália; basta dizer que com a extinção desse meteoro surgido repentinamente, os exércitos desse cruel huno se desintegraram, deixando apenas o epíteto depreciativo, evocador de extrema crueldade: "os hunos".
A Extinção do Sol, da Lua e das Estrelas
A obra que ficara incompleta na destruição de Roma foi realizada pelos hérulos em suas campanhas contra os godos. Diz o versículo:
"E o quarto anjo tocou a sua trombeta, e foi ferida a terça parte do sol, e a terça parte da lua, e a terça parte das estrelas. " Apoc. 8: 12.
O Sol, a Lua e as estrelas se referem, sem dúvida, aos poderes dirigentes do Império Romano; e o escurecimento dos mesmos constituiria a queda do imperador, do consulado e do senado. Com respeito aos imperadores, diz Gibbon:
"No espaço de vinte anos, desde a morte de Valentiniano (16 de março de 455), nove imperadores haviam desaparecido sucessivamente; e o filho de Orestes (Odoacro), jovem que se recomendava unicamente por sua formosura, seria o menos indicado para a fama na posteridade, si seu império, que se distinguiu pela extinção do Império Romano do Ocidente, não houvesse assinalado uma era memorável na história do gênero humano. " — Gibbon, cap. XXXVI, par. 13.
"Odoacro resolvera abolir o inútil e dispendioso ofício", coisa que fez. O Sol foi ferido.
Gibbon intitula o parágrafo 31, do capítulo XXXVI: "Total Extinção do Império Romano", narrando nele a abolição do reinado. Isto ocorreu em 476 de nossa era, e assinala, segundo os historiadores, a data da terminação do Império Romano. O consulado e o senado permaneceram apenas como formalidade durante algum tempo, até sua abolição, coisa que é simbolizada pela ferida que receberam a Lua e as estrelas. O consulado foi extinto por Justiniano em 451 de nossa éra, e o senado teve sorte idêntica na derrota dos godos, em 552.
Com o desaparecimento do Império do Ocidente, volvamo-nos para o Oriente afim de contemplar os graves acontecimentos que determinaram a dissolução do que restava do grande poder. Esses eventos nos são apresentados na seguinte descrição:
"E olhei, e ouvi um anjo voar pelo meio do céu, dizendo com grande vos: Ai! Ai! dos que habitam sobre a terra! por causa das outras vozes das trombetas dos três anjos que hão de ainda tocar. " Apoc. 8: 13.
Em nosso estudo anterior notamos o prefácio da quinta, sexta e sétima trombetas. Porém, para ter diante de nós o quadro, citamos novamente Apoc. 8: 13:
"Olhei, e ouvi um anjo voar pelo meio do céu, dizendo com grande voz: Ai! ai! dos que habitam sobre a terra! por causa das outras vozes das trombetas dos três anjos que hão de ainda tocar. "
Quão vivida é a descrição profética dos seguintes períodos de sofrimento, privações e derramamento de sangue, em resumo, tudo o que implicam estes ais!
A quinta trombeta, o primeiro ai, começa com a seguinte descrição simbólica notável:
"E o quinto anjo tocou a sua trombeta, e vi uma estrela que do céu caiu na terra; e foi-lhe dada a chave do poço do abismo. E abriu o poço do abismo, e subiu fumo do poço, como fumo de uma grande fornalha, e com o fumo do poço escureceu-se o sol e o ar. E do fumo vieram gafanhotos sobre a terra; e foi-lhes dado poder, como o poder que têm os escorpiões da terra. " Apoc. 9: 1-3.
Si a estrela da terceira trombeta era o símbolo dum grande chefe militar, a estrela neste caso também deve referir-se a uma personagem semelhante. Esta estrela evidentemente havia de aparecer a leste e cair sobre o Império Romano do Oriente, o Império Grego, posto que o Império do Ocidente já havia caído. Esta trombeta tem que ver com "a terceira parte" oriental do antigo Império Romano, com sua capital em Constantinopla. De maneira que devemos esperar o aparecimento de um chefe militar em alguma região adjacente a esse território.
No próprio texto existe uma chave para estudar o surgimento desse chefe religioso e militar. A expressão "poço do abismo" vem da palavra grega abyssos, que significa uma região desolada. Temos esta palavra empregada em Apoc. 20, onde se refere à terra desolada durante o milênio. Surgiu alguma pessoa simbolizada pela estrela, numa grande região desolada? Nossa resposta é afirmativa. O gênio religioso e militar de Maomé surgiu na Arábia, fundando uma religião que havia de ser um açoite para o cristianismo nominal através dos séculos subsequentes. Essa religião nasceu como religião de espada, e seus seguidores, num só século, varreram país após país no Oriente, atravessaram o norte da África e chegaram à própria Europa.
Crê-se geralmente que o fumo que surgiu do abismo simboliza as falsas doutrinas do Maometismo. Sua fé religiosa, com sua curta e singela confissão de Deus e de Maomé como seu profeta, serviu de "chave" para unir as tribos nômades da Arábia.
Do fumo que escureceu os céus, saíram legiões de "gafanhotos", que caíram sobre os homens e os atormentaram. Esta é uma ilustração adequada dos ginetes sarracenos que surgiram da Arábia e assolaram os territórios inimigos.
Cento e Cinquenta anos de Tormento
O período de cinco meses é mencionado duas vezes como sendo o espaço de tempo em que se realizaria o tormento. Tem-se feito esforço para enquadrar esse período de 150 dias simbólicos, ou anos literais, no surgimento do maometismo, mas parece haver uma dificuldade invensível na aplicação desse período num sentido tal. A fuga de Maomé, de Meca, ocorreu no ano 622 A. D., ocasião em que começa a era maometana, com o ano 1 da Hégira. O profeta árabe voltou mais tarde a Medina e capturou a cidade santa de Meca, o que lhe deu um prestígio que até então não tinha. Seu primeiro combate com os gregos se deu no ano 629, segundo Gibbon. Si os 150 anos foram aplicados ao começo do movimento, teriam de começar em 629, pois terminariam, não no tempo em que começou a se levantar o fumo, mas no momento em que os gafanhotos, que representam os ginetes árabes, começaram suas incursões sobre os súditos do Império do Oriente. Si se tomasse esta posição, os 150 anos se estenderiam até 779 A. D. Porém, as primeiras ondas de conquistadores maometanos se tinham esgotado quinze anos antes, ou seja em 762, durante a fundação de Bagdá. Diz o historiador:
"Com o levantamento dos abás¬sidas altera-se o aspecto da Ásia ocidental. A sede do governo é trasladada da Síria para o Iraque (a Bagdá, fundada em 762 A. D. ); os sírios perderam o monopólio da influência e o poder que até então haviam possuído; a ma: i do poder deslocou-se do oeste para este. Mas a unidade do califado estava perdida para sempre...
'"O reino dos primeiros abássidas', diz um distinto erudito e historiador francês, 'foi a era de maior esplendor dos sarracenos orientais. A era da conquista havia passado; começara a da civilização'. " — History of Sarracens, Ameer Ali, pág. 208.
Si o período de conquista terminasse em 762, o tempo seria somente de 123 anos, em vez de 150.
Cremos que os 150 anos de tormento, que sem lugar a dúvida se referem à assolação do Império do Oriente, pertencem aos turcos otomanos desde 1299 até 1449, e não aos sarracenos, como veremos mais tarde.
O Surgimento dos Turcos Otomanos
O destruidor do Império do Oriente é apresentado sob a quinta trombeta, no versículo 11:
"E tinham sobre si rei, o anjo do abismo; em hebreu era o seu nome Abbadon, e em grego Apollyon [em grego, "destruidor"]. "
Este rei deve referir-se ao destruidor do Império do Oriente, pois do contrário se poderia aplicar a qualquer rei como destruidor dos homens, e o texto se tornaria uma confusão. Mas aplicado aos reis otomanos, temos os verdadeiros destruidores do Império Grego. Os turcos otomanos tiveram sua origem como nação com Osman, ou Otman, do qual os otomanos tomaram o nome. Osman foi considerado o primeiro de uma grande dinastia de reis otomanos ou sultões. Diz-nos o historiador, acerca deste notável homem:
"O nome Osman... significa 'quebrantador de membros' (o termo bíblico é "destruidor"). Este foi o nome que se converteu no do povo de Osman, os osmanlís, ou otomanos. Com Osman deu-se um novo passo na senda do Islão (maometismo)... Foi por esse tempo (1229) que mandou cunhar moedas com sua própria efígie, e mandou que as orações públicas fossem feitas em seu nome. Tudo isto, entre as nações orientais, é considerado como traços distintivos da realeza. " — The Historians' History of the World, Vol. 24, págs. 312, 313.
Vemos que Otman significa "quebrantador de membros", ou, como se poderia dizer, destruidor, e que tomou o título de realeza em 1299. Os historiadores Possinus e Greasy sustentam esta data. É interessante notar que nesse mesmo ano, Otman fez seu formidável ataque contra o Império do Oriente. Gibbon diz:
"Foi a 27 de julho do ano de 1299 da era cristã, que Otman invadiu pela primeira vez o território da Nicomédia; e a singular precisão da data parece revelar alguma previsão do rápido e destruidor crescimento do monstro. " — The History of the Decline and Fall of the Roman Empire, Vol. 6, pág. 226.
Parece que a partir dessa data deveriam começar os 150 anos; pois devemos tornar do undécimo versículo para o décimo, em que se menciona o destruidor, para encontrar o seu antecedente: "E tinham caudas semelhantes às dos escorpiões, e aguilhões nas suas caudas; e o seu poder era para danificar os homens por cinco meses, " ou seja 150 dias, ou anos.
Si este cômputo é correto, então os 150 anos começariam a 27 de julho de 1299 e terminariam a 27 de julho de 1449. A ordem era que "não os matassem" durante o período. Havia uma restrição divina sobre os destruidores até serem "soltos" para a destruição final do Império do Oriente; pois estavam "presos" por ordem dAquele que dirige os destinos das nações.
Confirma-se a Data de Gibbon
Nos últimos anos se tem posto em dúvida a exatidão da data de Gibbon —27 de julho de 1299. Portanto, bom é buscar uma prova que a confirme.
Von Hammer, historiador turco, tem sido citado em oposição à data de Gibbon, assegurando-se que devera ser 1301. Para alguns, tem parecido ser superior a autoridade Von Hammer. Mas qual das duas datas conta com o testemunho das fontes históricas? Parece que os registros gregos dignos de confiança são mais coerentes que os turcos, pois estes foram bárbaros até ao fim do século XIII. Pachymeres foi historiador eclesiástico e secular, nascido em Nicéia, na proximidade da invasão otomana, tendo escrito sua história durante esse mesmo período. Terminou sua obra pelo ano 1307, de modo que foi contemporâneo de Otman. Possinus realizou uma cronologia completa da história de Pachymeres, dando as datas dos eclipses da lua e do sol, assim como de outros acontecimentos, registados por Pachymeres em sua obra. Pareceria que a exatidão deste cronologista, de.. 1669, estivesse além de toda dúvida. Acerca desta data, diz ele:
"Nossa tarefa é dar a época exata e fundamental do Império Otomano. Isto trataremos de fazer mediante uma minuciosa comparação das datas dadas pelos cronologistas árabes e o testemunho de nosso Pachymeres. O autor mencionado por último, diz no quarto livro desta segunda parte, capítulo 25, que Atman (nome grego de Otman) se fortaleceu ao assumir o comando de uma expedição poderosa combativa de enérgicos guerreiros de Paflagônia. Quando Muzalo, comandante do exército romano, tratou de impedir seu avanço, foi derrotado numa batalha perto de Nicomédia, capital de Bitínia. Daí em diante, o vencedor manteve essa cidade sitiada, por assim dizer. Pachymeres é muito explicito em declarar que estes acontecimentos ocorreram... não muito longe de Nicomédia, a 27 de julho. Asseveramos em nossa sinopse que, comparando cuidadosamente os acontecimentos, o ano foi o de 1299 de nossa era. " — Observationum Pachymerianarum, Livro 3 (Cronologia), capítulo 8, secção V.
A sinopse a que se refere Possinus, dá a união dos paflagônios com as forças de Otman, realizada a 27 de julho de 1299 da era cristã, quinto ano do papa Bonifácio VIII, e o sexto de Miguel Paleologo. A declaração é a seguinte:
"Atman (Otman), sátrapa dos persas, também chamados otomanos; fundador da dinastia que ainda reina sobre os turcos, fortaleceu-se ao unir-se com um grande número de ferozes bandidos da Paflagônia. " — Id., livro 4, capítulo 25.
Os paflagônios, sob o comando dos filhos de Armúrio, uniram-se a Otman nesse ataque de 27 de julho, de-modo-que Possinus afirma duas vezes que a data deste acontecimento foi 1299.
Von Hammer, na prova que aduz em favor de 1301, cita mal a Possinus numa referência equívoca, como mostra o seguinte:
"Gibbon estabelece sem autoridade o ano 1299. De acordo com as tábuas cronológicas de Hadji Khal¬fa, e outras fontes otomanas, a data é 1301; de acordo com a cronologia de Possinus usada na obra de Pachymeres, é 1302, o que concorda completamente com o asserto de Hadji Khalfa, a saber que o ano da Hégira não termina antes de agosto de 1302. " — Von Hammer, Vol. 1, pág. 577.
Ver-se-á por esta nota de Von Hammer que êle cita Possinus como havendo dado a data de 1302, entretanto, vimos que Possinus duas vezes dá a data de 1299. De maneira que Von Hammer citou com precisão somente uma autoridade, a de Hadji Khalfa, havendo citado mal a cronologia de Possinus, que Pachymeres emprega.
Uma Prova que Confirma a Data de 1299
Geralmente se aceita que a divisão da Anatólia ocorreu no ano.. 1300 de nossa era. Em sua sinopse, Gibbon dá esta data como sendo 1330 A. D. Von Hammer admite que esse território haja sido dividido em 1301, o que devia haver ocorrido pelo menos em 1300; de modo que até aí ele confirma a data de Gibbon. Nicéforo Grégoras, contemporâneo de Otman, fala desta divisão do território, e declara que Atman (Otman) tomou o Olimpo e a Bitínia, enquanto os filhos de Armúrio tomaram a Paflagônia, mostrando claramente que a invasão de Otman, em 27 de julho, ocorreu antes de 1300. Grégoras diz:
"Havendo os turcos repartido entre si as antigas províncias do Império Romano na Ásia, a Carman Alisurius tocou a maior parte da Frigia mediterrânea, bem como todos os lugares perto de Filadélfia e os que se estendem de Antioquia à cidade situada sobre o rio Meandro. O território que se estende desde Esmirna até à costa da Jônia foi dado a um certo Sarcha¬mer. Aqui se há-de observar que Magnésia e Êfeso foram tomadas de antemão por um certo Sasan. Calames e seu filho Carases obtiveram o território da Lídia e Acólia até Mísia sobre o Helesponto. Atman (Otman) obteve o território que rodeia o Olimpo e desde aí até a Bitínia; os filhos de Amur (Amurius) dividiram entre si o que vai do rio Sanga à Paflagônia. "—Ni-cephorus Grégoras, Vol. 7, págs. 214, 215.
Vemos, portanto, que Otman já invadira a Bitínia a 27 de julho de 1299, antes da repartição do território, em 1300. Comprovando isto, temos a seguinte declaração de His-torians' History of the World:
"Orthogrul, um dos sucessores de Alaud Din, último de seus sultões, estabeleceu o (seu) acampamento de quatrocentas famílias às margens do Sangarius; e seus descendentes imediatos (Otman e seus homens), havendo penetrado na Bitínia em 1299, estabeleceram-se pouco depois na cidade de Brusa. A divisão da Anatólia entre os emires turcos foi o resultado imediato dessa conquista. " — Vol. 2, pág. 378.
Este último testemunho concorda com o de Gibbon, Grégoras e outros, no sentido de que a divisão da Anatólia ocorreu em 1300; e Grégoras, assim como a obra Historians' History of the World, colocam a invasão de Otman, que se realizou a 27 de julho de 1299, antes dessa divisão do território pelos emires turcos. Porisso cremos que o testemunho de Gibbon e Possinus de que a data é 1299, é uma base sólida para a interpretação desta profecia.
A Terminação da Quinta Trombeta
Depois da invasão de Otman, foram tomadas província após província, até que no fim do período dos 150 anos, a 27 de julho de 1449, os turcos otomanos estavam de-pos-se de todo o território do Império do Oriente, na Ásia e na Europa, com exceção de Constantinopla e seus arredores. O rei que então reinava, subira ao trono com a permissão do sultão turco. O Senhor preservara a civilização e cultura dessa capital do Oriente até a Renascença começar, e a Europa absorver a literatura do passado.
Os quatro sultões do Eufrates haviam sido "presos" por ordem do Todo poderoso, para que "não os matassem". Quando, ao começo da sexta trombeta ou segundo ai, foi dada aos quatro anjos a ordem de soltar, com que prontidão os turcos destruíram o último vestígio do Império do Oriente! Grandes preparativos se fizeram durante meses para tomar essa cidadela antes que caísse. Edificaram-se fortes, forjaram-se canhões, e as muralhas de Constantinopla foram derribadas em 1453.
Vimos, sob a quinta trombeta, que as hordas de gafanhotos saíram do fumo do maometismo e se lançaram sobre o Império do Oriente; vimos que se levantou o rei cujo nome era "destruidor", a durante 150 anos, esse destruidor e seus súditos, representados pelos turcos otomanos, desolaram as províncias do Império; que a quinta trombeta, que foi o primeiro d03 ais, começou em 622, com o surgimento do maometismo, e terminou a 27 de julho de 1449, ao findarem os 150 anos. Notamos a rápida queda de Constantinopla em 1453, somente quatro anos depois de soltos os turcos do Eufrates.
Para termos perante nós a descrição minuciosa da sexta trombeta, transcrevemos o texto:
"E tocou o sexto anjo a sua trombeta, e ouvi uma voz que vinha das quatro pontas do altar de ouro, que estava diante de Deus, a qual dizia ao sexto anjo, que tinha a trombeta: "Solta os quatro anjos, que estão presos junto ao grande rio Eufrates. E foram soltos os quatro anjos, que estavam preparados para a hora, e dia, e mês e ano, afim de matarem a terça parte dos homens. " Apoc. 9: 13-15.
O território do Eufrates foi, por muito tempo, dominado pelos turcos, de modo que não há dúvida de que o profeta pensava no longo domínio otomano sobre o mesmo. Antes disso, haviam sido presos os poderes do Eufrates. A versão comum traduz a palavra grega dedeménous por "estão amarrados". Ainda que esta tradução seja parcialmente verdadeira, não apresenta o significado integral. A tradução literal é "havendo sido amarrados". Esta interpretação traz conjuntamente o fato de que se tratava de uma grande nação que fora retida, o que corresponde à idéia dos 150 anos de tormento, permitidos ao destruidor.
Os turcos foram soltos, e rapidamente destruíram o Império do Oriente, mas a profecia é mais específica e descreve a nova e única maneira de derribar as muralhas das últimas fortificações. A descrição é a seguinte:
"E assim vi os cavalos nesta visão; e os que sobre eles cavalgavam tinham couraças de fogo, e de jacinto, e de enxofre; e as cabeças dos cavalos eram como cabeças de leões; e de suas bocas saía fogo e fumo e enxofre. Por estas três pragas foi morta a terça parte dos homens, isto é pelo fogo, pelo fumo, e pelo enxofre". (Vs. 17, 18. )
Nesta descrição é vividamente apresentado o primeiro uso importante da pólvora. Constantinopla foi tomada, sendo suas muralhas derribadas por meio das armas de fogo, as primeiras de sua espécie na história.
Um Açoite para a Cristandade Apóstata.
Si bem seja certo que o poder otomano reduziu o Império do Oriente, havia, no entanto, de continuar como um poder controlador da cristandade apóstata. Os turcos invasores do sudeste da Europa dominaram os esforços da Europa católica que, por isso mesmo, não pôde desarraigar a Reforma em seu começo. Os otomanos retiveram a terra santa, e, fora de dúvida, impediram aquela grosseira superstição que dava lugar a que se vendessem ao público ingênuo supostas relíquias da crucifixão e de outros acontecimentos relacionados com ela. Haviam-se já espalhado cravos e madeiras, que se dizia haverem pertencido à cruz de Cristo, suficientes para construir várias cruzes. Acerca da idolatria da cristandade, dizem as Escrituras:
"E os outros homens, que não foram mortos por estas pragas, não se arrependeram das obras de suas mãos, para não adorarem os demônios, e os ídolos de ouro, e prata, e de bronze, e de pedra, e de madeira, que nem podem ver, nem ouvir, nem andar. E não se arrependeram dos seus homicídios, nem das suas feitiçarias, nem da sua prostituição, nem das suas ladroi¬ces. " (Vs. 20, 21. )
Que infinidade de acusações se apresenta aqui contra o pretenso mundo cristão! No entanto, quão exatamente corresponde às condições ainda depois de a Reforma haver começado a sua obra! Faziam-se imagens dos santos e da crucifixão e vendiam-se a um povo entenebrecido e supersticioso. Relicários de pedra e madeira, dedicados aos santos, perpetuavam a mais vergonhosa superstição e idolatria de um povinho ingênuo. Muitos protestantes foram assassinados pela3 perseguições que se desencadearam. A igreja idólatra provocava feitiçarias na forma de encantamentos de santos, cruzes, etc. Cometeu-se um sacrilégio com os reis da Europa, ao unirem-se a igreja e o estado.
O Tempo Concedido aos Turcos
"E foram soltos os quatro anjos, que estavam preparados para a hora, e dia, e mês, e ano. " Aqui se concede um tempo aos vitimários: Uma hora, um dia, um mês, e um ano. Um ano, de acordo com o cômputo profético bíblico, representa 360 dias, isto é, 360 anos na profecia simbólica (Ezeq. 4: 6); um mês representa 30 dias, ou anos; um dia é um ano; e uma hora é a vigésima quarta parte de um dia, o que equivale a quinze dias literais. A soma destes períodos dá 391 anos e quinze dias.
Se este período começou ao terminar a quinta trombeta, a 27 de julho de 1449, então os 391 anos nos levam até 11 de agosto de 1840. Este período foi calculado e publicado por Josias Litch, em 1838, dois anos antes de terminar. A profecia começou a ser estudada com grande interesse, e quando a Turquia perdeu muito do seu poder, em 1840, e permitiu que as potências cristãs dirigissem os seus negócios, a mensagem adventista de 1840 a 1844 recebeu um grande impulso.
Devido a essa ousada predição de Josias Litch, muitos olhos seguiram a crise que ocorreu de 1838-1840, nas relações que mantinha a Turquia com Mehemet Ali, do Egito; alguns esperavam ver o fracasso da predição, outros esperavam seu cumprimento.
Temendo a vitória do Egito e a possível destruição da Turquia, celebrou-se uma conferência das grandes potências, a 15 de j u l h o de 1840, na qual se achava representada a Turquia, para discutir a situação. Decidiu-se que essa nação enviasse um u l t i m a t um a Mehemet Ali, fazendo-lhe certas concessões; e si se pudesse com isso resolver amigavelmente a situação entre a Turquia e o Egito, evitar-se-ia a intervenção das grandes potências nos assuntos do Império Otomano.
De acordo com isto, o sultão t u r co enviou u m representante, Rifat Bey, a Alexandria, com o ultimatum. O enviado chegou a Alexandria em 11 de agosto de 1840. Até então a Turquia podia recusar-se a entregar o u l t i m a t um e evitar a intervenção da parte das potências; mas, com a chegada do ultimatum a Alexandria para sua entrega, estava além do poder da Turquia o ajuste dos seus próprios assuntos. Este fato se compreenderá melhor com os seguintes incidentes: A chegada da embarcação, Mehemet Ali, o rebelde governador do Egito, deixara instruções para mantê-la isolada durante seis dias, e ele, havendo recebido alguma informação referente à conferência de Londres e ao objetivo da missão do enviado, ausentou-se da cidade com o fito de resistir às proposições do ultimatum e procurar ajuda para a defesa do Egito. Cremos que a chegada do enviado turco, Rifat Bey, constitui juridicamente a entrega do documento, ainda que Mehemet deliberadamente se tenha ausentado de Alexandria, como o mostra a seguinte citação:
"Rifat Bey chegou a Alexandria em 11 de agosto; mas lá não encontrou a Mehemet Ali. Ele fora fazer uma excursão pelo Baixo Egito, com o pretexto de visitar os canais do Nilo, mas na realidade para ganhar tempo. " — The Life and Times of Viscount Palmerston, J. E. Ritchie, Divisão 2, pág. 529.
Portanto, ainda que materialmente não tenha sido o ultimatum entregue em 11 de agosto de 1840, pelo qual Mehemet Ali devia entrar em negociações com a Turquia, que, por sua vez, se punha sob a proteção das potências européias, legalmente nesse se fez a entrega.
Ainda, materialmente, a 11 de agosto aconteceu alguma coisa que mostra a importância da data. Nesse dia se apresentou em Beirute uma frota enviada pelas potências para enfrentar qualquer emergência. Em 11 de agosto o sultão da Turquia perguntou aos embaixadores das potências, segundo diz um correspondente do diário London Chronicle em Constantinopla, que deveria fazer caso fossem rejeitadas as propostas do ultimatum; e foi-lhe respondido que "haviam sido tomadas providências. "
Vemos, portanto, que as potências consideravam estar o assunto em suas mãos, e nisso consentiu o sultão.
Quanto ao efeito desses acontecimentos de 11 de agosto de 1840 sobre o mundo muçulmano, o pastor Goodell, missionário protestante em Constantinopla, escreveu o seguinte, que se publicou no Missionary Herald, de abril de 1841, pág. 160:
"Quebrantou-se para sempre o poder do islamismo; e este fato não se oculta nem a eles mesmos. Existem agora somente porque são tolerados. E ainda que os governos cristãos façam grandes esforços para sustentá-los, arruínam-se mais e mais profundamente, com velocidade aterradora.... Quão maravilhoso é que, enquanto toda a cristandade se uniu para impedir o progresso do poder maometano, este tenha crescido a pesar de toda sua oposição; e agora, quando todas as grandes potências da Europa cristã — que se sentem plenamente capazes de reparar as ruínas e tratar dos assuntos de todo o mundo — se unem para sua proteção (do poder maometano) e defesa, ele arruína-se, a pesar de todo o cuidado protetor que se lhe prodigalize. "
Este é um testemunho notável apresentado por um contemporâneo e testemunha ocular do ruir do Islã, e que não estava familiarizado com a predição profética. Desde então temos visto como as províncias muçulmanas se têm convertido em meros protetorados.
A serva do Senhor, contemporânea destes episódios, escreve quanto ao impulso que recebeu o movimento adventista com estes acontecimentos:
"No ano de 1840 outro notável cumprimento de profecia despertou geral interesse. Dois anos antes, Josias Litch, um dos principais ministros que pregavam o segundo advento, publicou uma explicação de Apocalipse 9, predizendo a queda do Império Otomano. Segundo seus cálculos, esta potência deveria ser subvertida 'no ano 1840, no mês de agosto'; e poucos dias apenas antes de seu cumprimento, escreveu: 'Admitindo que o primeiro período, 150 anos, se cumpriu exatamente antes que Deacozes subisse ao trono com permissão dos turcos, e que os 391 anos, quinze dias, começaram no final do primeiro período, o citado período terminará no dia 11 de agosto de 1840, quando se pode esperar seja abatido o poderio otomano em Constantinopla. E isto, creio eu, verificar-se-á ser o caso. '
"No mesmo tempo especificado, a Turquia, por intermédio de seus embaixadores, aceitou a proteção das potências aliadas da Europa, e assim se pôs sob a direção de nações cristãs. O acontecimento cumpriu exatamente a predição. Quando isto se tornou conhecido, multidões se convenceram da exatidão dos princípios de interpretação profética adotados por Miller e seus companheiros, e maravilhoso impulso foi dado ao movimento do advento. Homens de saber e posição uniram-se a Miller, tanto para pregar como para publicar suas opiniões, e de 1840 a 1844 a obra estendeu-se rapidamente. " — O Conflito dos Séculos, págs. 334, 335.
Como dissemos antes, mediante estes acontecimentos foi desfeita a unidade do Islão, e as grandes potências têm conquistado um após outro os países maometanos, até deixar um pequeno sector da nação do Eufrates. O rio se secará sob o derramamento da sexta praga.
Outros Acontecimentos da Sexta Trombeta
Se o estudante da profecia tomar sua Bíblia e revisar os acontecimentos do décimo e décimo terceiro versículos do capítulo onze de Apocalipse, até chegar à terminação da sexta trombeta ou ai, obterá uma visão completa dos acontecimentos referentes a esta trombeta e a sua finalização. O fim da sexta trombeta se anuncia em Apocalipse 11: 14. "É passado o segundo ai; eis que o terceiro ai cedo virá. "
Sétima Trombeta
Vimos que o segundo ai, ou a sexta trombeta, terminou em 11 de agosto de 1840. "O terceiro ai cedo virá. " A expressão "cedo" parece colocar o fim de uma trombeta e o começo da outra a não muita distância. A afirmação de que a sexta trombeta terminou em 1453, e a sétima há de começar sob as últimas sete pragas, tal como asseveram alguns, dificilmente pode ser sustentada si se tiver em conta o vocábulo "cedo"; pois haveria um intervalo de mais de quatro séculos entre as duas. Nossa interpretação, como igreja, tem sido que a sexta trombeta, ou segundo ai, terminou em 1840, com um intervalo de apenas quatro anos. Examinemos as provas concernentes ao começo do terceiro ai, ou sétima trombeta.
"E tocou o sétimo anjo a sua trombeta, e houve no céu grandes vozes, que diziam: Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e Ele reinará para todo o sempre. " (V. 15. )
Este texto coloca o estabelecimento do reino de Cristo sob a sétima trombeta. Mas encontramos um começo mais específico deste período profético, no versículo 18: "E iraram-se as nações, e veio a Tua ira, e o tempo dos mortos, para que sejam julgados, e o tempo de dares o galardão aos profetas, Teus servos, e aos santos, e aos que temem o Teu nome, a pequenos e a grandes, e o tempo de destruíres os que destroem a terra. "
O tempo do juízo marca o começo deste período. Aqui se faz referência ao juízo investigativo, pois vem após ele a recompensa aos santos. De acordo com a mensagem da hora do juízo de Apocalipse 14: 6-8. o juízo que começou em 1844 continua enquanto o evangelho eterno está sendo pregado às nações da terra. Concluímos que esse juízo se refere ao mesmo, e que teve início em 1844, quando começou a soar a trombeta do sétimo anjo. Outra proclamação acerca do começo do período desta trombeta encontramos no versículo 7 do capítulo 10:
"Mas nos dias da voz do sétimo anjo, quando tocar a sua trombeta, se cumprirá o segredo de Deus, como anunciou aos profetas, Seus servos. "
Iraram-se as Nações
Durante estes anos, desde 1844, enquanto o juízo se vem processando, iraram-se as nações. Que descrição notável dos grandes preparativos bélicos que caracterizam os anos posteriores ao grande período revolucionário de 1848! A luta sem precedentes das nações neste tempo, indica que a grande crise final dos povos está diante de nós. Não necessitamos entrar em detalhes sobre o assunto, pois os diários apresentam em suas páginas condições que abalam os povos. Este tempo é comparável com os sinais que de Sua vinda deu o Salvador, tal como se registram em S. Lucas 21: 25: "E haverá sinais no sol e na lua e nas estrelas; e na terra angústia das nações, em perplexidade pelo bramido do mar e das ondas. "
Logo depois desta descrição dos sinais, nosso Senhor asseverou: "E então verão vir o Filho do homem numa nuvem, com poder e grande glória. " (V. 27. ) Este acontecimento está às portas. Logo há de terminar o mistério de Deus; logo serão dadas as recompensas dos santos. O Senhor destruirá "os que destroem a terra", e "os reinos do mundo" virão "a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e Ele reinará para todo o sempre. " (Apoc. 11: 18, 15) Este último acontecimento termina com a sétima trombeta ou terceiro ai. Mas antes de concluir este estudo, consideremos o último versículo do capítulo 11.
"E abriu-se no céu o templo de Deus, e a arca do Seu concerto foi vista no Seu templo: e houve relâmpagos, e vozes, e trovões, e terremotos e grande saraiva. "
Aqui João contempla o lugar santíssimo do santuário celestial e vê "a arca do Seu concerto". Por que observa agora no templo celestial a arca, que não foi contemplada na visão do capitulo quatro? A resposta é que o juízo começou em.. 1844, quando soou a trombeta do sétimo anjo; estava perto o grande dia de expiação, em que nosso grande Sumo-Sacerdote entrou no lugar santíssimo para realizar Sua última obra pela humanidade. Vivemos nesta última fase do ministério de Cristo. Não sabemos quão logo terminará, mas os sinais prenunciam que esse dia logo chegará. Procuremos ter essa preparação de alma que nos capacitará a dar as boas vindas a nosso Salvador quando vier, e para que participemos da recompensa. Com isto damos por terminado nosso estudo sobre as trombetas.