Por James J. Londis (RA, ago. de 1989)
Este verso apresenta uma extraordinária idéia do relacionamento de Deus com os seres humanos. Descreve Sua paixão em estar conosco da maneira mais íntima possível, ao mesmo tempo que se refere à nossa liberdade de mantê-Lo à distância, se assim o desejarmos. O texto também descreve o adequado relacionamento entre o conselheiro e o "cliente", no qual o pastor toma a iniciativa de oferecer ajuda, mas não ao ponto de o membro da igreja sentir-se manipulado ou compelido a falar de seus problemas.
Neste quadro de Jesus batendo à porta, vemos a bondade e cortesia com que Deus Se aproxima de nós. Nada de golpes enérgicos na porta. Jesus bate à porta, mas não com estardalhaço. Não Se apresenta como um vendedor incômodo, mas como nosso Irmão mais velho, com o desejo de nos ajudar mediante a entrada em nossa "casa" (o lugar mais íntimo de nosso ser) e cear conosco (encorajando, ouvindo, advertindo, redimindo).
Esta cena mostra-nos um modelo de como devemos testemunhar a nossos vizinhos. A comissão evangélica relatada em Mateus 28:19 e 20, diz que devemos "ir e pregar", "ensinar e batizar". Em João 20:21-23, somos exortados a "perdoar pecados". Em Apocalipse 3, porém, a cena diz que devemos entrar de maneira íntima e calma; e uma vez dentro, dialogar e partilhar. As comissões ou ordens de Mateus e João descrevem a pregação da mensagem a um grupo relativamente desconhecido, enquanto Apocalipse 3 mostra como devemos partilhar com as pessoas de nossas relações, a cujas portas podemos bater (isto é, nossos vizinhos, amigos e familiares).
Se isto é verdade, creio que podemos chegar a algumas conclusões. Em primeiro lugar, não somos convidados a bater à porta de pessoas estranhas. Assim como Jesus adquiriu o direito de, pela criação e redenção, chamar a Si mesmo nosso Irmão e bater à nossa porta e esperar entrada para cear conosco, também devemos obter o direito e a confiança para cear com outra pessoa em Seu nome.
O paradoxo do evangelismo
Isso nos leva ao paradoxo do evangelismo, um debate teológico equivalente à preocupação em saber se o ovo ou a galinha veio primeiro. Se estendermos a mão da amizade para ganhar as pessoas para Cristo, eles perceberão, mais do que possamos imaginar, que temos segundas intenções em nosso interesse por eles. Como resultado, será quase impossível testemunhar ou obter a confiança deles para que nos ouçam.
Por outro lado, se não fizermos ou dissermos nada para que outros saibam que somos seguidores de Cristo Jesus, isto significará bater hesitantemente à porta. Na verdade, se o bater à porta não é ouvido, então não tem o menor sentido.
Nossa abordagem deve alcançar as pessoas simplesmente pelo fato de que estão lá, porque carecem de amor e cuidado. Desta maneira, nós nos tornamos amigos. E amigos sempre partilham seus mais profundos anseios. Assim, o tema da nossa fé é exposto cômoda e naturalmente.
Em outras palavras: a arrogância não é persuasiva; e sim, a humildade. Se nos aproximarmos de outras pessoas como se não tivessem um relacionamento adequado com Deus, elas se ressentirão. Além do mais, se insistirmos que nos ouçam com mente aberta, devemos ouvi-los da mesma maneira. Afinal de contas, não é assim que procedem os sinceros seguidores da verdade?
Testemunhar na base do diálogo está fora de moda para alguns cristãos. Dizem que em nenhum lugar a Bíblia afirma que devemos ir e dialogar, mas apenas ir e pregar. Apocalipse 3:20 e 21 diz que devemos ir e dialogar. Isto não quer dizer que não devamos pregar. Ambas as coisas devem ser feitas, dependendo da pessoa com quem estamos falando e das circunstâncias reinantes na ocasião.
Por esta razão, nem sempre podemos admitir que incomodar alguém sentado a nosso lado, num vôo internacional, esteja de acordo com a vontade de Deus. Tais métodos podem irritar — ou seja, é bater violentamente à porta.
Batamos à porta inteligente e. compassivamente. Não precisamos fazer acrobacias ou usar técnicas de venda, mas apenas pôr em ação a honestidade e liberdade de sermos o que realmente somos com nossos vizinhos e amigos. Se assim fizermos, teremos surpresas agradáveis ao deparar portas se abrindo.