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O Grande Conflito no Apocalipse

 Por João Antônio Rodrigues Alves

O grande conflito descrito pelos capítulos 12-14 e 20 de Apocalipse tem proporções cósmicas: o constante enfrentamento e o antagonismo existentes entre o bem e o  mal - Deus e o diabo.
No entanto, esse conflito cósmico ocorre também na esfera individual de cada pessoa.  Trata-se do enfrentamento que ocorre quando o indivíduo se depara com o mal em qualquer uma de suas modalidades e as conseqüências desse contato:  a dor, a morte, o sofrimento sob todas as suas formas.

Destarte, a hipótese levantada por esta pesquisa é de que a aproximação das duas esferas (a cósmica e a individual) proporcionará uma compreensão mais clara de como cada pessoa participa hoje, com suas decisões, seus discursos e suas ações, dessa realidade escatológica.
O objetivo do presente artigo é apresentar, a partir de Apocalipse 12, a inimizade de Satanás contra Cristo e seus reflexos no planeta Terra, verificados nos acontecimentos da vida de alguns personagens descritos nas Escrituras Sagradas e sua amplificação ou esclarecimento por Ellen G. White.
O ponto de partida para esse estudo é a passagem de Apocalipse 12, no verso 9, onde se lê:  “Houve peleja no Céu...” Nessa passagem está registrado, de maneira concisa, porém concreta, um sumário do grande conflito entre Cristo e Satanás, desde seu início no Céu até o seu término aqui na Terra.  É a partir dessa perspectiva que se pretende criar um quadro em que os dilemas e aparentes contradições da vida possam ser vistos à luz de seu significado relevante e factual.
Mais especificamente, o que se pretende é demonstrar que, como num desenrolar de metaforização[ii] e concretização de metáforas, os conflitos existentes na escala cósmica são os mesmos antagonismos presentes nas incongruências corriqueiras da vida, apenas em dimensões diferentes.  Diz-se metaforização porque se concebe a realidade espiritual como sendo uma projeção significativa, isto é, plena de significado, da realidade concreta do quotidiano. A metáfora é um deslocamento de significados de um âmbito semântico para outro; assim, quando se aplica a realidade espiritual a essa esfera concreta, dá-se, de certa forma, um desenrolar de metaforização.
O que mostra a importância desta pesquisa é o fato de que uma compreensão da peleja descrita por João, o revelador, é de fundamental importância para todo cristão preocupado com sua posição diante das realidades espirituais, uma vez que seu destino último depende de seu posicionamento presente.  Compreender o “como”, “o onde”, o “porquê”, o “quem”, e todos os corolários dessas indagações é realmente necessário, para se definir com segurança qual é seu papel em tal conflito.
Alguns pressupostos básicos são aceitos como verdadeiros, nessa exposição:
a integridade e autenticidade do Apocalipse;
a autoria joanina do livro, sob a inspiração divina;
a escritura da mensagem apocalíptica ainda no séc. I da Era Cristã, quando João, aprisionado em Patmos, próximo a Éfeso, encontrava-se sob regime de trabalhos forçados nas minas de estanho daquela ilha vulcânica;
d)         a inter-relação dos escritos apocalípticos e demais partes das Escrituras Sagradas, produzidos por uma única Mente, empregando instrumentalidades diversas, formando, assim, um texto harmonioso e interdependente.
A pesquisa se insere numa visão da filosofia da história que não vê as previsões apocalípticas como sendo necessariamente eventos pretéritos ou futuros, mas como acontecimentos escatológicos que se confirmam tanto pessoal como universalmente: o Apocalipse é relevante para cada cristão em cada época e, por isso, para todos os cristãos de todas as épocas.
A Filosofia da História, conforme definida por Strand, “é um tipo abarcante de interpretação que parece inserir-se prontamente dentro do escopo da perspectiva histórica da apocalíptica”[iii].  Usando o conceito de que a história se repete, essa abordagem leva em consideração tanto o evento histórico quanto seu desenvolvimento histórico[iv].  Há, nessa perspectiva, alguns elementos do preterismo, mas com o predomínio dos elementos pertencentes ao historicismo[v].
Em Apocalipse 12, as atividades de Satanás contra o governo de Deus e Seu povo são apresentadas nesse panorama. Aí se inserem quatro atos:
A origem do pecado e o início do conflito no Céu.
Ataques de Satanás a Cristo, quando Este viveu entre os homens.
Perseguição à igreja nos séculos subseqüentes, por instigação de Satanás.
Guerra final contra os remanescentes de Deus[vi].
Destarte, a metodologia aqui empregada é a da exemplificação por amostragem com a finalidade de confirmar, com dados bíblicos, a hipótese levantada; pois, como investigação exploratória, visa mais sugerir possibilidades do que prover resultados definitivos que possam  ser  verificados empiricamente.
A Origem do Grande Conflito
A peleja ocorreu no Céu e é desse natural ponto de partida que uma busca de esclarecimentos e respostas deve iniciar. Essas respostas precisam ser pertinentes ao problema, isto é, devem necessariamente proporcionar orientação segura para a compreensão das verdades bíblicas e, ao mesmo tempo, fazer com que haja uma atribuição de sentido às incongruências imediatas com as quais o cristão precisa lidar.
Onde.  “Guerra”, embora comum em nossos dias, não é algo que se associe automaticamente ao Céu.  Pelo contrário, as expressões bíblicas falam de Deus entronizado em meio aos louvores ( Salmos, Ap 4:8,11; 5:9-14; 7:10-12; etc.). Não obstante, por mais estranho que possa parecer, a revelação abre as cortinas e diz:  “Houve peleja no Céu” (Ap 12:7).  O termo grego traduzido por “peleja” nessa passagem é o substantivo pólemos[vii], cujo significado é “guerra”, “batalha”, “combate”, “contenda”, sendo que o verbo é traduzido por “guerrear”, “lutar”, “batalhar”, etc[viii].  O substantivo pólemos é encontrado 18 vezes no Novo Testamento e o verbo poleméu 7 vezes. Desse total, a metade do uso do substantivo e quase a totalidade do uso do verbo ocorre no livro do Apocalipse. (Cf. 2:16; 12:7; 13:4; 17:14; 19:11; 9:7,9; 11:7; 12:7,17; 13:7; 16:14; 19:19; 20:8).
Segundo Böcher, no Apocalipse “guerra” é um “elemento escatológico”[ix].  O conceito está presente em todo o livro, desde a advertência aos heréticos de Pérgamo (2:16), passando pela referência à “guerra” no Céu (12:7,9), prosseguindo com a descrição da atividade dos reis (17:12-14; 19:19) e do cavaleiro Fiel e Verdadeiro (19:11), culminando com a grande batalha final de Apocalipse 20:7-10, quando o Cordeiro colocará um fim eterno a esse estado de conflito cósmico. Mantendo-se em mente que a maioria das ocorrências de pólemos/poleméu no Novo Testamento se dá em “contextos escatológicos”[x], é possível entender melhor o desenrolar das atividades encantatórias do dragão e seus aliados.
Quem. Assim começou a história do pecado, com sua longa e trágica carreira, com todos os infortúnios daí resultantes, não somente em relação à humanidade, mas sobretudo em relação a Deus, o Criador, que sofreu a morte de Seu Filho sobre a cruz numa demonstração evidente da inimizade de Satanás contra Cristo.
O conflito era entre o “dragão e seus anjos” e “Miguel e seus anjos”.   No Novo Testamento a palavra drákon só se encontra no Apocalipse, onde “designa exclusivamente ao diabo”[xi].  O “dragão” é identificado como “a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás” (Ap 12:9), o que é uma clara alusão a Gn 3[xii].  No Novo Testamento a serpente, salvo raras exceções, é “concebida como algo hostil ao homem e a Deus”[xiii].  O nome Satanás provém do hebraico Satan, que significa “adversário”, e o nome “diabo” tem sua raiz no grego “diabolos” , cujo significado é “enganador” [xiv].
E Miguel, quem é Ele?  É referido em Daniel 10:13 e 21 como “príncipe” e em 12:1 é “o grande príncipe”;  em Judas 9 ele é o “arcanjo” que contendeu com o diabo sobre o corpo de Moisés. Segundo Doukhan, Ele é referido de maneira “estritamente indireta” e identificado como o “Filho de Deus” em Daniel 3, o “anjo” em Daniel 6, o “Filho do homem” no capítulo 7, o “Príncipe do exército” ou “Príncipe dos príncipes” em Daniel 8, “o Príncipe” em 9:26a, o “Homem vestido de linho” no capítulo 10 (cf. 12)[xv].  Ainda segundo o mesmo autor, todas as vezes em que Miguel foi identificado, Ele o foi como alguém que ajudou nas batalhas (cf. 10:13,21)[xvi].  Em sua interpretação de Daniel, Doukhan sugere que o nome “Mikael” (“quem é como Deus”) desempenha sua “função semântica”, faz referência à reação humana em relação à “vitória” de Deus (Êx 15:11-12) e que essa é uma expressão geralmente usada em “conexão com uma guerra”[xvii].  Conforme visto acima, a associação de Mikael com pólemos/poleméu é adequada à descrição dos fatos que o vidente quer apresentar.
Segundo o Comentário Bíblico Adventista, “um exame cuidadoso das referências bíblicas a Miguel permite concluir que não é outro senão nosso bendito Senhor e Salvador Jesus Cristo” [xviii].
Quando. A Revised Standard Version traduziu o verso 7 de Apocalipse 12 começando com uma expressão indicativa de tempo - “agora,” - o que poderia levar a supor que a batalha no Céu tenha começado no final dos 1260 anos (v. 6) ou, mesmo quando Jesus foi arrebatado ao trono (v. 5)[xix].  No texto grego, entretanto, não se encontra uma palavra para “agora”.  A expressão, portanto, foi suprida pelos tradutores da RSV.  A tradução do texto seria simplesmente: “E houve peleja no céu”[xx].
Embora alguns autores defendam a idéia de que o conflito mencionado no verso 7 se refira aos eventos relacionados com o primeiro advento de Cristo[xxi], parece possível incluir na expressão a origem do conflito no Céu, como se depreende do texto do Antigo Testamento, que apresenta o conflito como uma realidade, e também das passagens de 2 Pedro 2:4, que fala dos “anjos que pecaram” e Judas 9, que se refere aos “anjos que não guardaram o seu estado original”. O livro do Apocalipse apresenta-se em forma de “flashback”, movendo-se para diante e para trás simultaneamente, como que para criar um quadro completo e dar uma razão para os acontecimentos que foram ou serão apresentados.
E esse parece ser o caso com os versos 7 a 9 de Apocalipse 12, aqui inseridos para “enfatizar a razão para o ataque de Satanás sobre Jesus”[xxii].
O Comentário Bíblico Adventista, conquanto argumentando que os versos 9-11 se referem de maneira mais específica “à fase do conflito ocorrido no Céu em relação com a morte de Cristo na cruz”, admite também que a frase “houve peleja no céu” pode se referir “ao tempo anterior à criação da terra, quando a hostilidade do dragão começou porque Lúcifer aspirava ser semelhante a Deus”.  E já nessa ocasião primitiva, “Satanás foi expulso do céu juntamente com os anjos que simpatizavam com ele (2Pe 2:4; Jd 6)”[xxiii].
Quantos. Com respeito à quantidade dos envolvidos neste grande conflito cósmico, o livro do Apocalipse utiliza expressões poéticas, tais como “a terça parte das estrelas” (Ap 12:4) e “milhões de milhões e milhares de milhares” (Ap 5:11; cf. Dn. 7:10).  Qual o significado de “estrelas”?  Vincent afirma que alguns expositores encontram nessa expressão uma alusão aos anjos caídos e cita Judas 6[xxiv].  O Comentário sobre o Apocalipse da série The Anchor Bible declara:  “Sem dúvida, as estrelas que sua cauda arrasta são os anjos caídos que abandonaram a Deus e seguiram a Satanás como líder”[xxv].   O The Interpreter’s Bible diz que não está claro se a referência é aos anjos caídos[xxvi].  Uma análise do contexto, entretanto, permite afirmar, de maneira clara e específica, a identidade do dragão: ele é o diabo e Satanás (v. 9), que lutou, “com seus anjos” (v. 7), contra Miguel e Seus anjos. Se em sua luta contra Miguel o dragão contava com “anjos”, parece razoável, portanto, concluir que Satanás, com sua cauda , ou suas mentiras (Is 9:15), conquistou para sua causa parte dos anjos (cf. Is 14:12-13; 2Pe 2:4; Jó 38:7), os quais o auxiliaram durante o conflito.
Porquê. O surgimento do pecado é um mistério para o qual argumentos racionais não proveriam qualquer explicação.  Ainda mais quando se sabe que semelhante fato teve sua origem no próprio Céu.  Se o relato da criação, segundo Gênesis 1, enfatiza sempre a perfeição da obra de Deus (vv. 4, 10, 12, 18, 21, 25, 31; cf. Dt 32:4), é lógico, portanto, a partir da consideração de que tudo o que Deus criou é “bom”, “muito bom” ou “perfeito”, assumir que os demais seres criados, como os anjos, incluindo-se aí Lúcifer, também fossem “perfeitos”, pois eram obra de Deus, e Ele nada faria que não estivesse em harmonia com Sua obra criativa.  Daí a razão da dificuldade em se explicar os porquês do surgimento de tal conflito.
Como. Os argumentos utilizados por aquele que, então, ainda era Lúcifer, para arrastar consigo a “terça parte das estrelas” (Ap 12:4), não são explicitamente apresentados nas Escrituras, mas podem ser inferidos a partir de duas fontes principais:
a maneira através da qual tentou Eva no Jardim do Éden (Gn 3), após sua    expulsão do Céu;
as tentações apresentadas a Jesus no deserto.
Embora tais fontes sejam consideradas mais adiante neste trabalho, é importante, para fins de maior clareza, considerá-las mesmo aqui, sendo que a repetição visa reforçar a exposição.
A conversa que o diabo teve com Eva foi enganosa e persuasiva; se assim não fosse, Eva, em sua perfeição original saída das mãos de Deus, não teria cedido a suas insinuações. Segundo o relato de Gênesis, Deus proveu para o homem “toda sorte de árvores agradáveis à vista e boas para alimento” (Gn 2:9), permitindo-lhe comer “livremente” de toda árvore (Gn 2:16), excetuando-se, unicamente, “a árvore do conhecimento do bem e do mal”.  E, para tornar mais enfática ainda a proibição de acesso à referida árvore, o Senhor alertou-o sobre qual seria a conseqüência de comer do fruto proibido: “no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2:17).  Houve, portanto, uma provisão graciosa de tudo o que era necessário à manutenção da vida do homem e apenas uma proibição, um mandamento, que deveria ser obedecido, evitando-se, assim, a morte.
Falando através da serpente, Satanás contradisse diretamente a Deus, afirmando: “É certo que não morrereis” (Gn 3:4).  Ao contradizer a Deus, Satanás introduziu um dilema: quem falava a verdade? Deus, que afirmou que o resultado seria a morte, ou Satanás, que afirmou que a morte não ocorreria?  Quem era o mentiroso da história:  Deus ou Satanás?
Portanto, na contrafação de Satanás, que incorporava a serpente, a advertência divina não tinha qualquer valor.  Não seria necessário atribuir qualquer importância à ordem de Deus.  Nenhum mal resultaria da desobediência.  Não seria nem mesmo necessário obedecer a Deus.
Ao prosseguir em suas argumentações, o diabo astuciosamente insinuou que o real motivo da proibição baseava-se num desejo egoísta de Deus de impedir que o homem tivesse acesso a um mais alto grau de conhecimento e uma esfera mais elevada de existência: “Deus sabe que no dia em que dele comerdes, se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gn 3:5).  Na expressão “como Deus”, Satanás parece insinuar que é possível à criatura ser semelhante ao Criador.  Esse raciocínio diabólico está em flagrante contraste com o nome Miguel - denominação recebida por Aquele que lutou contra Satanás, conforme  Apocalipse 12:7 - cujo significado é aparentemente um repto: “Quem é como Deus?”[xxvii]
Se Satanás sugeriu que a mulher poderia ser “como Deus” pelo simples fato de comer do fruto proibido, é natural concluir que ele mesmo alimentasse também a pretensão de ser “como Deus” e todas as implicações daí resultantes, de maneira especial o direito à adoração, que pode ser inferido como um de seus desejos a partir de uma avaliação da terceira tentação de Jesus, quando o diabo lhe ofereceu todos os reinos do mundo se o Filho de Deus concordasse em Se prostrar e adorá-lo (Mt 4:9; cf. Lc 4:7).
O problema da adoração, ou culto, é um problema determinante e central no contexto do grande conflito.  A obediência/adoração a Deus ou a Satanás depende do reconhecimento que se faz de cada um.  Se se reconhece a Deus como Pai, e todas as implicações éticas e espirituais que daí resultam, o homem fará Sua vontade, e isso traz glória ao Seu nome.  Contudo, o reconhecimento de Satanás como pai implica em não fazer a vontade de Deus e sim a do diabo (cf. Jo 8:38, 41, 44 e 47), e essa é uma maneira de adorar o maligno.
Assim, Satanás representou a Deus como egoísta e mentiroso. Representou falsamente o Seu caráter e ainda negou Sua autoridade (cf. Jo 8:44; Is 9:15). O surpreendente disso é que o homem escolheu seguir na direção em que apontavam as insinuações do diabo, e tal direção levava a um afastamento de Deus.
Lúcifer deve ter basicamente utilizado os mesmo argumentos para enganar os anjos. Em sua argumentação, as leis de Deus (como a proibição de comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal) são arbitrárias, sem significado, sem importância.  Além disso, segundo ele, Deus não iria cumprir o que considerava como ameaças de morte para quem fosse desobediente.  Que outros sofisticados argumentos Satanás utilizou a Bíblia não revela explicitamente, mas sabe-se que ele foi parcialmente bem sucedido, pois arrastou consigo a terça parte dos anjos (Ap 12:4) em sua rebelião contra Deus e, por isso mesmo, foi expulso do Céu para a Terra (Ap 12:9).
As conseqüências. Na “peleja no Céu” (Ap 12:7), Lúcifer,  em sua apostasia, arrastou consigo a terça parte dos anjos (Ap 12:4; Jd 6). Para os renegados, o resultado disso foi que “não prevaleceram” e “não mais se achou no Céu o lugar deles”. Foi expulso o próprio Lúcifer, o “grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás”, sendo atirado “para a terra e, com ele, os seus anjos” (Ap 12:8, 9 e 4),  ou os “anjos que pecaram” , os quais foram entregues a “abismos de trevas” (2Pe. 2:4). A expressão “foi expulso”, Gr. eblete, encontrada em Apocalipse 12:9 e 10, está no aoristo, tempo verbal que pode indicar que algo foi feito de uma vez por todas[xxviii].
Dessa forma o campo de batalha da incansável luta de Satanás contra Deus e o homem passou a ser este mundo.  O profeta João registra uma “grande voz do céu” que ecoa uma lamentação sobre a “terra e o mar”, pelo fato de que “o diabo desceu até vós, cheio de grande cólera, sabendo que pouco tempo lhe resta” (Ap 12:10 e12). O termo “água” é usado algumas vezes em Daniel e Apocalipse para simbolizar “povos, multidões, nações e línguas” (Ap 17:15), daí poder-se inferir que ninguém está imune às atividades malignas de Satanás. Ninguém está fora do alcance. Destarte, o apóstolo Paulo exorta os efésios para que se revistam de “toda a armadura de Deus” , “porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes”  (Ef 6:11 e 12). Jesus Se referiu a Satanás como o “príncipe deste mundo” (Jo 12:31; 14:30;  16:11) e Paulo a ele se refere como o “príncipe da potestade do ar” (Ef 2:2), com o qual estamos em “luta” (Ef 6:12).  O seu poder é exercido preparando “ciladas” contra os filhos de Deus (Ef 6:11).
Como a peleja no Céu terminou em formidável derrota para Satanás e seus anjos, alguém poderia pensar que o conflito teria terminado logo no primeiro ato e os seres humanos estariam fora dos reflexos dessa batalha. Por isso, ver-se-á a seguir a problemática do conflito no planeta Terra e o envolvimento da humanidade em suas ramificações.
O que se sugere aqui é que a extensão do conflito ao planeta Terra não alterou, de modo drástico, a natureza do mesmo. Da mesma forma com que Lúcifer conseguiu convencer uma terça parte dos anjos, ele prosseguiu com a mesma estratégia em seus confrontos com a humanidade.
A estratégia. Torna-se necessária a introdução de um novo conceito de natureza teológica nesta exposição. Essa capacidade desenvolvida por Lúcifer de convencer ou persuadir seres perfeitos a darem ouvidos a seu discurso enredador poderia ser conceituada como “poder de encantamento”. “Encantador” seria o sujeito do ato de encantar e “encantatário” o objeto do mesmo.
Não se trata de dar ao termo “encantamento” a acepção comumente aceita pelo dicionário[xxix]:
Ato ou efeito de encantar(-se).
Feitiçaria, magia.
Coisa maravilhosa; delícia.
Sedução, encanto.
Não é essa a encantação tão comum à ficção literária presente em um sem número de estórias, lendas e contos, como o mito do célebre Ulisses, o qual teve que se amarrar à sua nau para escapar ao encanto mortal das sereias.  Trata-se essencialmente de um artifício de persuasão em que o objeto do ato, ainda que inconscientemente, experimenta certo prazer ou satisfação em se deixar convencer pelo sujeito do ato.
Um processo desse tipo produziria como resultado uma certa atribuição de papéis:
encantatário: aquele que, enquanto objeto do processo de encantamento perpetrado pelo diabo, se deixa persuadir por ele;
encantador: aquele que, tendo aceito o papel de encantatário, passa, em seguida, a atribuir tal papel a outrem; isto é, aquele que, tendo sido convencido pelo diabo, tenta convencer a outrem.
O termo “encantatário”, aqui cunhado pela necessidade de expressar um conceito teológico explorado por esta pesquisa, foi formado para dar conta de um significado que já se encontra em outros termos que lhe são relacionados: “destinatário” é o objeto alvo de um processo de emissão, da mesma forma que “pactário” e “signatário” são, respectivamente, os alvos de processos de pactuação e subscrição de um documento.  Por isso, a noção pertinente que mais se salienta pelo termo “encantatário” é aquela de alvo de um processo, como recipiente, portanto, das investidas encantatórias do diabo.
Papel que, como aqui definido, torna-se a reação espiritual de um indivíduo em face da investida de Satanás.
A extensão do conflito ao planeta Terra. Expulso do Céu, aquele que havia sido portador de luz (conforme o significado latino da palavra Lúcifer), mas já agora diabo e Satanás, prossegue em sua obra de tentar enganar a humanidade.  O “palco do antigo conflito cósmico” foi transferido para o planeta Terra. O alvo presente da “opressão satânica” é a “comunidade dos discípulos do Cordeiro”.[xxx]   E seus esforços são mais decididos porque sabe que “pouco tempo[xxxi] lhe resta”  (Ap 12:12).
Os métodos utilizados por Satanás para alcançar seus objetivos contra os seres humanos são muitos e variados. As Escrituras Sagradas mencionam alguns que, pelo que se percebe no decorrer da narrativa bíblica, estabelecem os princípios básicos de atuação de Satanás. Dentre esses podem ser citados:
a mentira (João 8:44 - “é mentiroso e pai da mentira”);
engano (Gn 3:13 - “a serpente me enganou”);                                                             
a doença (Jó 2:7- “tumores malignos”);
os homicídios (João 8:44 – “Ele foi homicida desde o princípio);
a tentação (Lc 4:2 - Jesus foi “tentado”).
Essas e outras são suas armas malignas usadas contra Deus e Seus filhos (I Pe. 5:8 - o diabo é o adversário). Para induzir o homem ao pecado,  Satanás, o “tentador” (2Ts 3:5; 2Co 7:5) trabalha com “ciladas” (Ef. 6:11), “laço” (2Tm 3:7), procurando induzir o homem a pecar contra Deus (At 5:3). E no Éden ele se apresentou com suficiente beleza para fascinar e encantar, alcançando, dessa forma, seus objetivos. São, assim, dentro da conceituação teológica desenvolvida por esta pesquisa, artifícios encantatórios.
Portanto, o grande conflito é entre Cristo e Satanás, que continuará ininterruptamente até Aquele conquistar uma vitória eterna sobre este, lançando-o para dentro do “lago de fogo e enxofre,” onde será atormentado, juntamente com a besta e o falso profeta “pelos séculos dos séculos” (Ap 20:10).
O relato encontrado em Gênesis 3 é trágico em si e em suas conseqüências. O relato diz que a serpente foi o sujeito da tentação, ou encantador, apresentando-a com um adjetivo à guisa de descrição. É dito que a serpente era “mais sagaz que todos os animais” (Gn 3:1) e que era uma criatura de Deus. E é através dessa “figura enigmática” que se mostra  o “mistério da irrupção do mal”[xxxii] neste mundo. Como o relato diz que tudo o que Deus fizera, incluindo os répteis, era bom  (Gn 1:24, 25), pode-se concluir que a serpente também o era. O fato, porém, de que a serpente apareça imbuída de pensamentos e com capacidade de expressá-los, deve levar à reflexão se era a serpente mesma quem falava ou se era apenas um instrumento utilizado por algum poder, algum ser espiritual, com objetivos malignos claros em sua mente, mas ocultos para quem estava sendo tentado, ou, no contexto deste trabalho, para o encantatário. Era tão somente um instrumento, um médium, usado por algum poder espiritual?
Na realidade, o Antigo Testamento não declara explicitamente que assim fosse. As evidências, contudo, da presença de Satanás atuando por meio da serpente, podem ser obtidas nas referências feitas por Cristo e Seus apóstolos. Em João 8:44 Jesus fala do “diabo,” que foi “homicida desde o princípio”, que “profere mentiras”, que é “mentiroso e pai da mentira”. O apóstolo Paulo, no capítulo 11 de 2 Coríntios, refere-se à “serpente” que “enganou a Eva com a sua astúcia” (v. 3) e, no mesmo capítulo, verso 14, afirma que “o próprio Satanás se transforma em anjo de luz”. Em Romanos 16:20, encontramos ainda a promessa do esmagamento de Satanás, o que parece ser uma referência a Gênesis 3:15.  O Revelador (Ap 12:9; 20:2) diz que o dragão é a “antiga serpente, que se chama diabo e Satanás”.  A isso pode-se acrescentar o relato Sinótico da tentação de Jesus (Mc 1:13; Mt 4:3, 5, 8 e 10; Lc 4:2, 3, 6, 13). Todas essas referências permitem identificar a Satanás como o personagem oculto no momento da tentação de Eva. Pode-se observar no relato prévio que Deus dera ao homem “domínio” “sobre todos os répteis que rastejam pela terra” e bem assim sobre toda a criação (Gn 1:26). É possível também concluir que o homem já tivera uma experiência com todos os animais, pois dera nome a “todos os animais domésticos, às aves dos céus, e a todos os animais selváticos” (Gn 2:20), e conhecia sua natureza, e não havia encontrado semelhante fenômeno, isto é, um animal dotado de raciocínio e capacidade de falar.  E ainda pode ser acrescentado que o conteúdo da fala da serpente era de tal natureza que só poderia provir de alguém assumidamente inimigo de Deus.  Obviamente Satanás adaptou sua estratégia de encantamento ao ambiente e à pessoa envolvida. Ellen White afirma que “a fim de realizar a sua obra sem que fosse percebido, Satanás preferiu fazer uso da serpente como seu intermediário, disfarce este bem adaptado ao seu propósito de enganar.” A situação de encantamento é evidente no relato, posto que Eva, no papel de  encantatário, “ficou surpresa e admirada”, detendo-se “maravilhada, a ouvir uma serpente falar”[xxxiii].
Pelo texto percebe-se a astúcia, a sagacidade do enganador, que inicia sua fala distorcendo deliberadamente o que Deus havia dito.  A ordem de Deus era para não comer apenas da “árvore do conhecimento do bem e do mal” (Gn 2:17), mas todas as demais árvores do jardim estavam liberadas para uso (v. 16). Assim, a serpente pergunta, aparentando surpresa: “É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?” (Gn 3:1). Dessa forma a proibição foi apresentada de maneira exagerada - da proibição de se comer o fruto de apenas uma árvore para a proibição de se comer os frutos de toda árvore.  Semelhante argumentação induziu a mulher a desconfiar da clara ordem de Deus para que não comessem do fruto.  A resposta da mulher também continha um elemento de exagero, o qual não estava presente na ordem original de Deus.  A mulher acrescentou a expressão “nem tocareis nele” (Gn 3:2).  Percebe-se, assim, que a incorporação da serpente produz dois pólos de atividade hiperbólica: as ações encantatórias do diabo são projetadas da serpente para a mulher. A serpente serviu de “médium” para que o diabo enganasse a mulher, e esta serviu de “meio” para que ele enganasse o homem. Isto quer dizer que, uma vez tendo assumido o papel de “encantatário”, Eva, a seguir, assumiu o papel de “encantador”, conforme será visto mais adiante.
Após despertar a dúvida e a desconfiança, a serpente avançou um pouco mais: negou de forma direta a verdade da ameaça divina e levantou suspeitas sobre o amor de Deus para com Suas criaturas (vv.  4 e 5).  “Deus não deseja que você seja como Ele”, foi a insinuação da serpente.  Apresentou à mulher possibilidades de uma vida melhor, ou de maior conhecimento (“conhecereis o bem e o mal”). O êxito de Satanás em suas argumentações evidencia-se no passo seguinte da mulher.  Ela viu que a árvore era “boa”, “agradável” e “desejável” . Tais adjetivos sugerem que ela assumiu uma atitude de contemplação da árvore, meditando no conteúdo do que lhe havia apresentado pela serpente: “não morrereis”, “sereis como Deus”.
Assim, Eva desejou do fruto “e comeu, e deu também ao marido, e ele comeu” (v. 6).  A atribuição de papéis se concretiza. Eva “comeu e ficou encantada com o fruto”, e agora, num “estado de excitação estranha e fora do natural, com as mãos cheias do fruto proibido, procurou o marido.”  Eva passa de “encantatário” para “encantador”, conforme o relato do verso 6, que é ampliado na declaração seguinte: “Tão logo Eva desobedeceu tornou-se um poderoso agente para ocasionar a ruína do esposo”[xxxiv].
Destarte, se consumou o ato de desobediência. Os pais da humanidade, por sua livre escolha, decidiram desobedecer a Deus e, seguindo a sugestão da serpente, comeram do fruto da árvore proibida. É importante manter em mente o fato de que o homem não é uma vítima passiva de Satanás. O diabo pode usar todos os artifícios para encantar o homem e levá-lo a agir de maneira contrária à vontade de Deus, contudo, a decisão final de realizar ou não as sugestões de Satanás é do próprio homem.  É-lhe possível analisar as sugestões do diabo e compará-las com as ordens/mandamentos de Deus, escolher as alternativas, pesar as evidências e agir como ser moral livre.  “Ele (Deus) não os privou da faculdade de comerem do fruto proibido. Deixou que como agentes morais livres cressem na Sua palavra, obedecessem a Seus mandamentos e vivessem, ou cressem no tentador, desobedecessem e morressem”[xxxv].
Da mesma forma como Satanás foi expulso do Céu, Adão e Eva foram expulsos do Éden.  Como fenômeno espiritual, o processo de encantamento é sobretudo um processo de expulsão.  Ao assumir papéis encantatórios, tanto como sujeitos quanto como objetos, os indivíduos se alienam, afastando-se de Deus.
As providências Divinas. Antes, porém, da ocorrência dessa expulsão, foi-lhes feita uma promessa. Embora fosse um momento de crise, a “primeira preocupação de Deus foi pela restauração humana e a segurança eterna do universo”[xxxvi].  O registro dessa promessa encontra-se em Gênesis 3:15, uma passagem que historicamente tem sido interpretada como uma “predição da vinda do Messias e da vitória divina sobre as forças do mal”, o que seria visto pelo primeiro casal como uma “promessa de salvação” e um incentivo para lutar “contra o mal”.[xxxvii]
Essa promessa de libertação é, ao mesmo tempo, uma previsão da continuação do conflito, pois na sua enunciação encontra-se a afirmativa de que haveria “inimizade” e faz referência a uma oposição entre protagonista e antagonista: a semente da mulher e a semente da serpente (os seguidores de Deus e os seguidores de Satanás, respectivamente). De maneira especial esse antagonismo manifestou-se na batalha travada durante o ministério terrestre de Jesus, a semente da mulher (Gl 4:4), contra Satanás.
A expressão de confiança do homem na promessa de Gn 3:15 é vista a seguir no relato.  Embora presente a referência a uma luta do homem com a serpente, Adão manifesta sua confiança e esperança de vitória ao chamar a sua mulher “Eva”, interpretando seu significado como a “mãe de todos os seres viventes” (v. 20)[xxxviii].  Em meio à maldição (vv. 16-18), seus pensamentos se desviaram da sentença de morte (v. 19) para a esperança da vida (v. 20), crendo na providência divina de um “descendente” que feriria a cabeça da serpente (v. 15) e destruiria aquele que tem o “poder da morte”, isto é, o diabo (Hb 2:14).
A Escritura Sagrada apresenta um quadro verdadeiramente realista da desgraça e ruína provocadas pelo pecado. Os efeitos e desdobramentos da entrada e desenvolvimento do mal no universo moral assumem proporções realmente fantásticas.  Aparentemente foi esta uma tragédia incomparável, contudo, a Escritura apresenta a contraparte de Deus à ação do diabo: em vez de trevas, luz (Jo 1:4,9); no lugar da escravidão, liberdade (Jo 8:36); em vez da morte, vida (Jo 10:10); em oposição ao ódio satânico, a manifestação do amor divino.  O espetáculo dolorosamente incompreensível da rebelião, do ódio, da inimizade, da traição, do engano, alcançou seu ápice no maior e mais grandioso evento registrado na história humana: a revelação da insondável graça divina no mistério da cruz, ou, como o expressou Billy Graham, “na cruz vemos a gloriosa exibição do amor de Deus”[xxxix].
Não houvesse Cristo realizado neste mundo o Seu ministério redentor, vivendo sem pecado, morrendo em lugar da humanidade, ressurgindo dentre os mortos, ascendendo aos céus, onde ministra em favor dos santos e de onde regressará para buscar os Seus, seria realmente uma tragédia irreparável o drama do mal no universo, sem qualquer esperança para a humanidade caída. Mas Jesus trouxe salvação e libertação. Ele está completamente habilitado para salvar o homem do mal, livrando-o do poder de Satanás. Ele é o caminho que conduz para o paraíso perdido de Gênesis 3; Ele é a luz que espanta as trevas; Ele é a verdade que livra do erro; Ele é a vida, que liberta da morte. NEle há plena redenção.
A sentença divina pronunciada contra Satanás depois da queda do homem, foi também uma profecia, abrangendo todos os séculos até ao final do tempo, e prefigurando o grande conflito em que se empenhariam todas as raças dos homens que vivessem sobre a Terra.[xl]
A relevância do conflito para o tempo presente. No mesmo texto de Gênesis também está a predição do fim de Satanás cujo cumprimento pode ser visto no Apocalipse: o lago de fogo (Ap 20:10). No entanto, antes que esse evento escatológico, que é um dos cernes da pregação cristã, ocorra, é necessário que o cristão se aperceba da realidade concreta desse antagonismo cósmico:
Satanás está procurando vencer os homens hoje, assim como venceu nossos primeiros pais, abalando-lhes a confiança em seu Criador, e levando-os a duvidar da sabedoria de Seu governo e da justiça de Suas leis. ... Apresenta perante o mundo a liberdade que este pode gozar sob seu domínio suave, em contraste com a servidão imposta pelos severos decretos de Jeová. Desta maneira consegue desviar as almas de sua fidelidade a Deus.[xli]
O evento da tentação e queda é assumido claramente por Paulo ao estabelecer um paralelo entre Adão e Cristo, conforme revela o capítulo 5 de sua carta aos Romanos.
Nesse processo conflitivo em que as realidades escatológicas encontram seu cumprimento na esfera da experiência pessoal do indivíduo, duas estratégias principais têm sido usados pelo diabo na tentativa de prevalecer: o encantamento (a busca de adesão subliminar)[xlii] e a perseguição (a violência contra aqueles que resistem a seu poder de encantamento). Nas palavras de Ellen White, “o recurso constante de Satanás para alcançar domínio” sobre as pessoas é a sedução e, quando tal artifício falha, as “sedutoras tentações” não surtem o efeito esperado, utiliza “o constrangimento pela crueldade” ou o “poder compulsório para forçar a consciência”.  Assim, “por meio do medo ou da força, procura reger a consciência e conseguir para si mesmo homenagem.”[xliii]
Primeira Estratégia: Encantamento
Embora o ponto de partida para este estudo seja o capítulo 12 de Apocalipse, os desdobramentos da crise são importantes, porque ajudam a criar um quadro mais completo de como o conflito tem se desenvolvido através dos séculos e como tem afetado positiva ou negativamente os filhos de Deus, nas mais variadas épocas e situações. Tal pensamento é que está em perspectiva ao se apresentar os exemplos seguintes, descrevendo pessoas e eventos, numa clara evidência de como o conflito afeta a vida dos seres humanos nas mais variadas formas.
No Antigo Testamento
Os exemplos que serão apresentados neste capítulo se propõem a mostrar o desenrolar do conflito e suas trágicas conseqüências na vida de alguns personagens bíblicos. Não há aqui o propósito de apresentar todas as situações em que se evidencia a atuação de Satanás, mas apenas exemplificar, a partir do relato inspirado, como a humanidade tem sido alvo dos ataques do diabo em seu conflito contra Cristo.
Caim e Abel. Como uma das conseqüências de dar ouvidos à serpente, o capítulo 4 de Gênesis descreve o primeiro assassinato de um membro da família humana - Abel, que foi morto por seu irmão Caim. De forma surpreendente e contraditória, tal tragédia está diretamente relacionada a um ato de culto.  Foi quando ambos trouxeram uma “oferta ao Senhor” que a ira de Caim se acendeu contra seu irmão Abel , pois a oferta deste foi aceita e a daquele foi rejeitada por Deus (Gn 4:3-5).  É preciso salientar que “Caim não ignorou o culto.  Ele apenas queria adorar a Deus em sua própria maneira”[xliv].
A aproximação do sagrado concretiza no homem sentimentos antagônicos que são, em sua essência, peculiares ao conflito cósmico que se descreve aqui. Em face do sagrado e misterioso, o homem assume necessariamente uma postura de enfrentamento da realidade: ou se volta para o lado oposto ao da revelação (a excitação supersticiosa que teme o que desconhece e move o homem a atitudes insólitas) ou encara a luz e, através de sua iluminação, passa a uma visão espiritual que o leva ao crescimento e a um embelezamento interior que desperta o ciúme daqueles que seguiram numa direção distinta.  O que se tem, então, nada mais é do que a concretização ou atualização desse conflito cósmico na vida do indivíduo: o antagonismo aí existente passa a perturbar sua compreensão da realidade e o faz agir de forma inexplicavelmente hostil.  A situação de encantamento maligno (que ocorreu anteriormente com a mulher) passa a ocorrer com tal indivíduo e ele se presta à ação de “médium” satânico tanto na encantação de outros como na postura antagônica ao sagrado e àqueles que receberam iluminação. Foi precisamente isso o que ocorreu com Caim:
“Foi enquanto se aproximando de Deus que Caim compreendeu o quanto odiava a seu irmão”[xlv].
Ao contemplar o sagrado, Caim voltou suas costas à iluminação divina e optou pela superstição tenebrosa e escura que o levou a assassinar seu irmão.  Caim, portanto, odiou a seu irmão desde o momento em que Deus lhe manifestou as provas de Sua aceitação: “Enquanto Abel justificava o plano de Deus, Caim tornou-se enraivecido, e sua ira cresceu e ardeu contra Abel até que em sua ira o matou” [xlvi].
A ação encantatória da serpente amplia aqui os seus domínios. A estratégia diabólica de rejeição da verdade divina começa a produzir seus resultados, pois tem-se aqui, no assassinato de Abel por Caim, “o primeiro exemplo da inimizade que Deus declarou existiria entre a serpente e a semente da mulher - em outras palavras, entre Satanás e seus súditos e Cristo e Seus seguidores”[xlvii].
Em sua controvérsia com os judeus, Jesus afirmou que aqueles que procuravam matá-Lo (Jo 8:37 e 40) estavam fazendo “as obras” do pai deles (v. 41) e, assim, satisfazendo aos “desejos” daquele que foi “homicida desde o princípio”, ou seja, “o diabo” (v. 44).  E o apóstolo João declara que “todo aquele que não pratica justiça não procede de Deus”, e também que “aquele que não ama a seu irmão” é filho do “diabo” (1Jo 3:10). Dessa forma, é possível dizer que, ao assassinar seu irmão Abel, Caim estivesse testemunhando negativamente da continuidade do grande conflito no planeta Terra e afirmando sua posição como filho do diabo.
O registro até o dilúvio. Seguindo-se à tragédia do capítulo 4, encontra-se o relato de Gênesis 5, cujo registro melancólico se resume em três verbos: viveu, gerou e morreu[xlviii], evidenciando a mentira da serpente, quando disse:  “É certo que não morrereis”.  A morte sobreveio à família humana com toda a sua carga de dor e sofrimento.  Não é uma existência melhor, numa esfera mais elevada, que é obtida ao se seguir as insinuações do diabo, mas a colheita inevitável da morte, pois “o salário do pecado é a morte” (Rm 6:23).
Os capítulos seguintes descrevem graficamente a “corrupção” (Gn 6:11-12) da humanidade, salientando a “maldade” que se havia “multiplicado na terra”, o desígnio “continuamente mau”  do coração do homem (v. 5) e a “violência” que havia enchido a terra (v.11 e 13), e que dominava todo o espectro da sociedade, até que Deus resolve interromper o ciclo mediante o dilúvio (Gn 7).
Assim, a partir da ação de Satanás em enganar e induzir os pais da humanidade a agirem  contra a vontade revelada de Deus, colheu-se uma terrível messe de dor, tristeza e morte[xlix].
No período patriarcal. Outro exemplo de um personagem bíblico a enfrentar a oposição de Satanás foi o patriarca Jó, conforme o registro encontrado no livro de Jó, capítulo 1, versos 6-9, 12; 2:1-4, 6-7.  Enquanto nos exemplos anteriores a atuação do diabo é inferida a partir de outros textos, ou de maneira indireta, aqui ele é explicitamente nomeado.  Este espírito é chamado, em referência a Deus e Suas criaturas, “hassatan”, do verbo “satan”: “atravessar-se no caminho, opor, tratar com inimizade”.  A forma substantiva ocorre pela primeira vez aqui e, excetuando-se o livro de Jó, ocorre somente em Zacarias 3 e I Crônicas 21[l].
A atuação de Satanás é apresentada, nesse contexto, de maneira direta, como alguém que se apresenta diante de Deus e se utiliza de argumentos que objetivam atingir um filho de Deus, que é descrito como perfeito e reto. Pode-se observar o incansável esforço, a operosidade, a diligência das atividades satânicas, na expressão “de rodear a terra e passear por ela” (Jó 1:7), que pode ser contrastada ainda com o chamado à sobriedade feito pelo apóstolo Pedro, alertando para o fato de que o “diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar” (1Pe5:8).
“As Escrituras declaram que em certa ocasião, em que os anjos de Deus foram apresentar-se perante o Senhor, Satanás foi também entre eles (Jó 1:6), não para curvar-se perante o Rei eterno, mas para favorecer seus maldosos intentos contra os justos”[li].
A atuação de Satanás, segundo a narrativa bíblica, segue um “crescendo”:
Jó é atingido com a perda de seus bens materiais e com a morte de seus servos (1:15-17).
O patriarca é, então, atingido de forma mais dolorosa com a perda de seus filhos (v. 19).
Finalmente, ele mesmo é tentado, na forma de uma doença incurável aos olhos humanos, trazida por Satanás (2:7).
A expressão “tumores malignos” é variadamente interpretada, não havendo consenso entre os estudiosos sobre qual seria a enfermidade. Talvez se tratasse de elefantíase[lii].  Não obstante os pontos de vista diferentes, permanece o fato de que a doença trazida por Satanás era por demais dolorosa e aflitiva, o que se pode depreender do texto que afirma que “assentou-se em cinza” e “tomou um caco para com ele se raspar” (2:8).
Satanás não aparece novamente no livro de Jó.  Nem Jó nem seus amigos tinham qualquer conhecimento das atividades do maligno e, pelo relato, parece que ele nunca chegou a saber o que ocorreu no encontro em que se permitiu a Satanás tentá-lo. O que é descrito nos dois primeiros capítulos de Jó é suficiente para esclarecer a existência real e a atuação de Satanás, por si mesmo ou mediante seus agentes, quer sejam os anjos que o acompanham, quer sejam instrumentos humanos.
O conflito de que a presente instância só é uma atualização, é espiritual, conforme já frisado, isto é, esse exemplo de Jó mostra que, por trás de todos os conflitos materiais que o cristão enfrenta, sempre há um conflito espiritual provocado pelo diabo. Por isso, pode-se dizer que seu “background” é essencialmente  religioso. Aqui, Satanás, debalde, tenta empregar seu poder encantatório contra o próprio Deus.
Por outro lado, no presente relato, Deus Se refere duplamente a Jó como alguém  “temente a Deus, e que se desvia do mal,” em 1:8 e 2:3. A segunda referência ocorre após as perdas dos rebanhos, servos e filhos, sofridas por Jó. A acusação de Satanás é que o temor de Jó se dá por interesse egoísta (1:9,10) e que ele blasfemaria se perdesse seus bens (1:11). Satanás levanta dúvida sobre a motivação do patriarca. A referência a uma possível blasfêmia de Jó contra Deus levanta a questão dos motivos que levam ao culto/adoração.  O resultado, contrariamente à sugestão de Satanás, foi que, em vez de blasfemar, Jó, profundamente afetado pela morte dos filhos, humilhou-se diante de Deus,  “lançou-se em terra, e adorou”, exclamando: “bendito seja o nome do Senhor” (vv. 20 e 21). Lançar-se em terra é um gesto de adoração, e isso ele fez em meio a profundo sofrimento, quando, desde uma perspectiva puramente humana, estaria plenamente justificado se deixasse extravasar sua angústia e revolta. Sendo assim, Jó destruiu a suspeita levantada por Satanás de que seu temor a Deus era por interesse egoísta.  O próprio Deus afirma isso ao dizer: “Ele conserva a sua integridade embora Me incitasses contra ele, para o consumir sem causa” (2:3).
No capítulo 2, já sofrendo pela doença infligida por Satanás, Jó conservou a sua “integridade”, não amaldiçoou a Deus e “não pecou com os seus lábios” (vv. 9-10).
Indubitavelmente, pelo exame da passagem em questão, é patente a ação de Satanás contra Jó.  É um exemplo que se apresenta como evidência de que Satanás desenvolve suas atividades no planeta Terra, trazendo dor e sofrimento aos filhos de Deus, “como um leão que ruge, procurando alguém para devorar” (1Pe 5:8).
O sumo sacerdote Josué. Na passagem de Zacarias 3, verso 1, encontramos o relato da realidade das batalhas espirituais, reais, embora invisíveis, envolvendo o homem, Deus e Satanás.  O homem era Josué, o sumo sacerdote, o qual estava “trajado de vestes sujas”, diante do Anjo( v. 3).  O verbo “satan”, “ser adversário” ou “atuar como adversário” e o substantivo estão juntos nesta passagem (3:1). A tradução literal seria: “o adversário estava a sua mão direita para se lhe opor”.  A acusação dos homens diante de Deus é um dos ofícios de Satanás, que é o “acusador dos irmãos, que os acusa de dia e de noite, diante de nosso Deus” (Ap 12:10).
No Novo Testamento
Na encarnação de Cristo. O conflito prosseguiu de forma ainda mais intensa durante o ministério de Jesus, conforme o relato dos Evangelhos. Já por ocasião do Seu nascimento, o dragão estava a postos para destruí-Lo, enquanto indefesa criança, por meio de Herodes. A profecia de Apocalipse 12 mostra o estado de alerta e prontidão do dragão para destruir a criança quando esta nascesse. As palavras de João, o vidente de Patmos, não deixam margem para dúvidas acerca do plano do dragão: “devorar o filho quando nascesse” (v. 4).  Pode ser inferido, a partir de uma comparação entre a afirmação do profeta e o relato da matança dos inocentes sob o governo de Herodes (Mt. 2:13ss), que o poder real, a executar seus malignos planos contra o Salvador, era o mesmo opositor de sempre, Satanás. Com essa conclusão concorda Ellen White quando afirma que foi o dragão de Apocalipse 12, que colocando em jogo “sua máxima astúcia”[liii], “procurava destruir Cristo em Seu nascimento,” atuando “sobre Herodes a fim de matar o Salvador”[liv].
Essa atuação sobre Herodes é uma vez mais encantatória. As palavras do monarca aos “mágoi” oriundos do oriente têm forte dissimulação de sua carga semântica: elas negam exatamente aquilo que afirmam. Não se trata aqui de hiperbolização, mas de falsificação direta do enunciado.
No diálogo O sofista, Platão defende sua posição de convencionalista.  Segundo ele, dizer o falso não é um fenômeno da realidade, mas da lingüística.  Dizer o falso é dizer “o outro”: vacas voam - não são as vacas que voam, mas os pássaros.  O discurso de Herodes, como encantatário, é reflexo de uma visão distorcida da realidade.  O monarca não quer adorar a Jesus, como afirma, ele quer matá-Lo.  E, justamente por isso, sob o poder de Satanás, suas palavras dizem exatamente o contrário do que afirmam, como se, de fato, dizer o verdadeiro fosse dizer “o outro”.
Herodes tem aqui, como ocorrera anteriormente com a serpente, a dupla função de encantatário e encantador: sob domínio mediúnico, Herodes expressa o que o diabo deseja e, ao mesmo tempo, procura persuadir, com um raciocínio falso, aqueles a quem se dirige.
Embora tanto a matança dos inocentes quanto a tentação de Jesus no deserto sejam relatos introdutórios aos evangelhos, vários anos separam os dois incidentes.  A tentação de Jesus é a contrapartida da tentação de Adão.  O apóstolo Paulo diz que Adão “prefigurava aquele que havia de vir” (Rm 5:14). No Éden Satanás aproximou-se do homem disfarçadamente, utilizando a serpente como médium; no deserto da tentação, nas duas primeiras ocasiões, ele se aproximou do Salvador “disfarçado num anjo do Céu” (cf. 2Co 11:14); mas na terceira tentação “Satanás se manifesta em seu verdadeiro caráter”[lv].
Essa corporização de Satanás, manifestando-se claramente ao Homem Jesus tem conotações de uma medida desesperada a fim de alcançar o triunfo por quaisquer meios que fossem possíveis. Ela é uma evidência das decisões tomadas pelo diabo e transformadas em sua estratégia para obter a vitória no conflito cósmico: “Nos conselhos de Satanás, se decidiu que fosse vencido. ... Foram-Lhe soltas no encalço as forças da confederação do mal, empenhando-se contra Ele, no intuito de, se possível, vencê-Lo”[lvi].
Uma leitura, mesmo superficial, das três tentações sofridas por Jesus, revela um pouco mais acerca do caráter de Satanás.  Na primeira tentação houve uma insinuação de desconfiança, que pode ser vista na partícula condicional “se”: “se és Filho de Deus” (Mt. 4:3). Jesus não cedeu à insinuação do diabo, mas respondeu-lhe citando uma passagem escriturística (Dt 8:3). Contra os artifícios encantatórios do demônio, o Homem Jesus lança mão dos recursos providos por Deus para o quebrantamento do encanto.
Havendo Jesus usado as palavras da Escritura para vencer na primeira tentação, na próxima Satanás também utiliza versos bíblicos, mas torcendo o seu real significado, tão somente para atingir seu alvo de fazer Jesus agir presunçosamente, criando uma situação que tornasse necessária a ação do Pai em Seu favor. Pode-se perceber aqui uma espécie de padrão de atuação de Satanás em sua tentativa de encantar as pessoas, que é a distorção do mandamento divino.  No Éden ele também distorceu as palavras de Deus, hiperbolizando a ordem dada ao primeiro casal humano, que originalmente dizia para não comer de uma árvore somente, e então fazendo com que o mandamento se estendesse para todas as demais árvores. Tendo sido vitorioso no Éden, agora ele repete o mesmo estratagema com Jesus, citando o Salmo 91:11-12 (cf. Mt 4:6). É uma verdade, porém, que “quando o diabo cita a Escritura para seu próprio propósito ele raramente o faz com exatidão”[lvii]. Nesse exemplo em particular o diabo omitiu as palavras “para que te guardem em todos os teus caminhos” em seguida a “a teu respeito”.  Ao omitir as palavras mencionadas o diabo, em verdade, destruiu a verdade que se expressa no todo da passagem, que assegura o fiel cuidado de Deus sobre todos os que são obedientes à vontade divina.  Novamente se percebe uma insinuação de desconfiança, presente na condicional “se” que introduz a fala do inimigo: “se és Filho de Deus” (Mt 4:6). Jesus respondeu ao uso distorcido das Escrituras relembrando, corretamente, o episódio ocorrido em Massá, quando da peregrinação de Israel no deserto (Êx 17:7). Ali o povo tentou ao Senhor (Dt 6:16).  A cruz estava no fim do caminho a que se dirigia o ministério de Jesus. Essa era a vontade do Pai. Com isso concordava o Filho. E Jesus não estava disposto a Se desviar do caminho da cruz, pois para essa hora viera Ele ao mundo (cf. Mt 16:21; João 12:27).  E, enquanto Ele permanecesse obediente à vontade do Pai (Jo 4:34), o Pai O guardaria em todos os Seus caminhos.
Na última tentação Satanás se apresentou como o dono deste mundo e na situação de dá-lo a Jesus. Jesus mesmo Se referiu a Satanás como “o príncipe deste mundo”. Mas somente Deus pode dispor dos reinos deste mundo, conforme se registra em Daniel 4:17: “o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens; e o dá a quem quer”. Aqui Satanás propunha a Jesus uma vitória sem luta. Era uma “tentação para fazer o que Ele tinha vindo fazer, mas de uma maneira que era contrária ao plano de Deus”[lviii]. A exigência de Satanás nessa tentação revela seu caráter real e coloca em evidência novamente sua ambição não santificada de ser objeto de culto/adoração, de ser “como Deus” (Gn 3:5).
Este enfrentamento espiritual dizia respeito não somente a Jesus, mas a toda a humanidade.  Os interesses em jogo eram eternos, o conflito alcançava proporções cósmicas e pode-se deduzir que o universo acompanhava atentamente o desenrolar de mais um ato no grande conflito.
Satanás assaltou a Cristo com as suas mais cruéis e sutis tentações; foi, porém, repelido em cada conflito. Aquelas batalhas foram travadas em nosso favor; aquelas vitórias nos tornam possível vencer.  O fato de Cristo ter vencido deve incutir em Seus seguidores coragem para combater varonilmente na peleja contra o pecado e Satanás[lix].
         A transcendência da tentação sofrida por Jesus pode ser observada na citação seguinte:
Cristo ensinou-nos em palavras e exemplo, entretanto, que em assunto de culto/adoração a Deus, a vida eterna está em jogo. Ele considerava o companheirismo com o Pai de importância última para Sua própria vida. Seu maior temor era ser abandonado por Deus. (Ver Mt 10:28; Lc 12:5).... O exemplo de Cristo dá ao crente coragem para entrar no conflito final de Apocalipse 13.[lx]
Em ocasiões posteriores Jesus enfrentou a Satanás diretamente, como se registra nos Sinóticos, pois que também era Sua a missão de “libertar os cativos de Satanás,”[lxi] o que Ele realmente fez, conforme o testemunho do apóstolo Pedro de que o Salvador “andou por toda parte, fazendo o bem, e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele” (At 10:38). E, ainda mais categórico, o apóstolo João declara que o Filho de Deus foi manifestado com o específico propósito de “destruir as obras do diabo” (1Jo 3:8).  São vários os casos de possessão demoníaca enfrentados por Jesus, como: o endemoninhado em Cafarnaum (Mc. 1:21-28); o endemoninhado geraseno (Mc 5:1-14); o jovem possesso (Mc. 9:14-29); a mulher enferma (Lc 13:16). Além desses casos específicos Marcos relata a atividade de Jesus expelindo “muitos demônios” (1:34,39; 3:11, 22-30; 7:24-30) e dos Seus discípulos também. (6:13). Ellen White afirma que “o período do ministério pessoal de Cristo entre os homens foi o tempo de maior atividade das forças do reino das trevas.”[lxii] Tal declaração não deve surpreender a alguém familiarizado com a realidade do conflito espiritual claramente apresentado pela Escritura Sagrada. Pelo contrário, surpreendente seria se tal atividade de enfrentamento espiritual não houvesse ocorrido durante o ministério terrestre de Jesus.
Não obtendo êxito no confronto direto, Satanás procurou alcançar a vitória sobre Jesus por meio de um colaborador muito próximo.  O relato está registrado no capítulo 16 de Mateus, versos 21-23 (com paralelos em Marcos 8 e Lucas 9), onde se lê que Pedro aparentemente procurava evitar que o sofrimento atingisse a seu Mestre.  Não obstante, ouviu de Jesus uma severa reprovação. Na realidade, Satanás estava por detrás das palavras de Pedro.  Pedro assume o papel de encantador, como o expressa Ellen White:
Satanás buscava desanimar a Jesus e desviá-Lo de Sua missão; e Pedro, em seu cego amor, estava sendo o porta-voz da tentação. O príncipe das trevas fora o autor do pensamento. Por trás daquele impulsivo apelo, achava-se sua instigação. No deserto Satanás oferecera a Cristo o domínio do mundo, sob a condição de abandonar a vereda da humilhação e do sacrifício. ...E, por intermédio de Pedro, Satanás novamente insistia na tentação contra Jesus.[lxiii]
Mais uma vez, Satanás fracassou em sua investida contra Cristo.  Mas não desistiria. Novamente usaria outro colaborador de Jesus para traí-Lo e entregá-Lo às autoridades.  O capítulo 13, verso 27, do Evangelho de João diz que Satanás entrou em Judas e este saiu para completar sua obra de traição, que culminou na crucifixão de Jesus. Esse foi um momento que deve ter levado à exultação os demônios, pois Jesus mesmo disse que essa era a hora do “poder das trevas” (Lc 22:53). Na controvérsia de Satanás com Jesus a vitória parecia pender agora a favor do maligno, pois Jesus foi colocado em uma tumba selada e ainda com uma escolta romana a guardar o sepulcro (Mt 27:62-66). Contudo, o Salvador não ficou preso à tumba, sendo rompidos os grilhões da morte, pois não era possível que o Filho de Deus fosse retido por ela (At 2:24). Logo depois Ele ressurgiu triunfante e ascendeu ao Pai (At 1:9), pois, como diz a profecia, o Filho da mulher “foi arrebatado para Deus até ao Seu trono” (Ap 12:5; cf. At 7:55 e 56).  Embora ferido em Sua natureza humana (Gn 3:15), foi sobre a cruz que Cristo realmente conquistou a vitória sobre Satanás.  Em Suas próprias palavras: “Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso.  E Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim mesmo” (Jo 12:31-32).
Na tentação de Jesus no deserto; nos possessos pelo demônio que em todos os lugares procuravam frustrar o ministério público de Jesus; na traição de Judas (Cl 22:3) e a negação de Pedro (Lc 22:31); e na terrível cegueira e engano dos líderes judeus, pode ser discernida a aguerrida resistência de Satanás aos planos e propósitos de Deus em Cristo[lxiv].  O mesmo espírito desafiador pode ser percebido nos ataques dirigidos por Satanás contra a igreja de Cristo até o fim dos séculos, conforme se verá na continuação deste trabalho.
Segunda Estratégia: A Perseguição
A Bíblia apresenta a perseguição contra os cristãos como uma realidade contra a qual não se pode argumentar.  Diversos textos salientam a factualidade e a gravidade desse empreendimento perseguidor contra a Igreja e suas células. O primeiro exemplo, já mencionado, é a morte de Abel por seu irmão Caim (Gn 4), desdobrando-se na perseguição aos profetas de Deus, conforme registrado em I Reis 19:14, referido por Cristo em Mt 23:29-37; 5:12 e por Estêvão em Atos 7:52.
No discurso apocalíptico de Mateus 24:9,10 (cf. Mc 13:9,12,13) o Salvador adverte: “Então sereis atribulados, e vos matarão. Sereis odiados de todas as nações, por causa do meu nome. Nesse tempo, muitos hão de se escandalizar, trair e odiar uns aos outros.”
E o apóstolo Paulo, escrevendo ao seu jovem colaborador e companheiro espiritual, também salienta qual o quinhão do verdadeiro crente: “Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos.” (2Tm 3:12).
Ellen White ecoa o mesmo pensamento em outras palavras quando diz que “a perseguição em suas várias modalidades é o desenvolvimento de um princípio que subsistirá enquanto existir Satanás e tiver o cristianismo poder vital. Ninguém poderá servir a Deus sem atrair contra si a oposição das hostes das trevas”[lxv].
Havendo Satanás falhado completamente em suas tentativas para destruir Jesus enquanto criança, para desviá-Lo do caminho que levava à cruz, para mantê-Lo preso à tumba após a crucifixão e tendo Cristo ascendido ao Céu, sua fúria voltou-se com toda intensidade contra a igreja estabelecida por Ele. Mas a promessa de Jesus é que “as portas do inferno” não prevaleceriam contra Sua igreja (Mt 16:18).
João registra uma lamentação em tons comoventes sobre os habitantes da “terra e do mar” em razão de que “o diabo” desceu “cheio de grande cólera” (12:12), “como leão que ruge procurando alguém para devorar” (2Pe 5:8).  Como tem sido mostrado até este ponto do estudo, o que o diabo fez no Éden, contra Jó, Cristo, etc., é o que ele continuará fazendo até sua destruição final, quando será lançado no lago do fogo e enxofre (cf. Ap 20:10).
O capítulo 12, verso 17, revela contra quem é sua batalha agora dirigida: o remanescente da mulher. Mas a mulher, ou igreja, fugiu para o “deserto”[lxvi]  por “mil duzentos e sessenta dias” (v. 4), onde encontrou um lugar seguro para se refugiar e ser alimentada. Esse período de tempo é também mencionado em Dn 7:25;  Ap 11:2 e 3;  12:14 e 13:5.
E no capítulo 13 de Apocalipse “a persistente hostilidade entre Satanás e o povo de Deus é desenvolvida.”[lxvii]
Como não pôde atingir o Filho nascido da mulher, após o período mencionado em Apocalipse 12:6, Satanás continua sua guerra contra o remanescente da mulher. O final do capítulo apresenta a Satanás “em pé sobre a areia do mar” (v. 17), o que pode ser entendido como sua expectativa ao surgimento de uma nova instrumentalidade mediante a qual atacar o remanescente da mulher.
 E essa instrumentalidade aparece simbolicamente representada como uma “besta” que emerge “do mar” (Ap 13:1). O relacionamento dessa instrumentalidade com Satanás é evidenciado pela própria fraseologia empregada pelo vidente de Patmos, quando afirma que a besta recebe do dragão “seu poder, o seu trono e grande autoridade” (v. 2). Assim o Revelador declara explicitamente que o poder a agir por detrás da besta, invisivelmente a executar seus planos, era o dragão/Satanás. A besta recebeu ainda “autoridade para agir quarenta e dois meses,” período esse usado para pelejar “contra os santos”  (vv. 5 e 7).
A besta que emerge da terra - Ap 13:11-18. Já no início de sua presentação da segunda besta de Apocalipse 13 o vidente a relaciona com Satanás, ao dizer que “falava como dragão” (v. 11). Pode-se concluir, portanto, que essa também seria uma instrumentalidade das ações de Satanás contra o remanescente da mulher (Ap 12:17). Sua ligação com a primeira besta é inquestionavelmente estabelecida no verso 2, quando diz que “exerce toda a autoridade da primeira besta na sua presença” e também “faz com que a terra e os seus habitantes adorem a primeira besta”.
Em sua persistente inimizade contra Cristo e Sua igreja, Satanás continuará empregando todos os recursos disponíveis para encantar os habitantes da Terra. De maneira específica o Apocalipse afirma que a segunda besta “opera grandes sinais, de maneira que até fogo faz descer à Terra, diante dos homens (13:13). “Não se acham aqui preditas meras imposturas.  Os homens são enganados por sinais que os agentes de Satanás tem poder para fazer, e não pelo que pretendam realizar”[lxviii].  A referência ao fogo que faz descer à terra evoca um evento ocorrido num contexto de culto/adoração, quando o Deus verdadeiro se pronunciaria mediante o sinal do fogo que desceria do céu para consumir o sacrifício sobre o altar. O relato se encontra em 1 Reis 18:20-39. Nesse episódio o fogo foi o sinal que identificou o verdadeiro Deus. No fim dos tempos, o fogo não identificará o Deus verdadeiro, mas será usado para apoiar um sistema oposto ao celestial. Aparentemente, Satanás, mediante suas instrumentalidades, fará descer fogo sobre o seu próprio altar, desviando assim a atenção das pessoas do culto ao verdadeiro Deus e levando o povo a adorar a primeira besta (v. 12). A besta que sobe da terra representa um poder que realiza grandes e miraculosos sinais para enganar os habitantes da terra.
No episódio anterior ao êxodo envolvendo Moisés e os magos de faraó, pode-se perceber como Satanás utiliza aliados humanos para impedir que se cumpra o plano de Deus. À manifestação do poder de Deus na primeira e segunda pragas, os magos, com “auxílio satânico”[lxix] realizaram encantamentos mágicos e produziram uma contrafação. Dessa forma faraó se tranqüilizou, pois do seu lado também havia poderes mágicos. Como resultado, prosseguiu em sua resistência à saída do povo do Egito, conforme o desejo de Deus.
Há um texto similar a Apocalipse 13 na segunda carta de Paulo aos Tessalonicenses. “O assunto de ambos, Apocalipse 13 e 2 Tessalonicenses 2:1-12 é o último engano da história da Terra”[lxx].  Em sua carta o apóstolo adverte que “o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais e prodígios da mentira” (2Ts 2:9), que precederiam a “vinda do Senhor”[lxxi].  A referência a sinais e maravilhas com o propósito de enganar lembra a linguagem de Apocalipse 13:13-14.  Há uma convergência nos assuntos e na linguagem que descreve o assunto. Pode-se observar na carta paulina uma dupla referência à palavra “vinda” (2Ts 2:8,9).  Na versão Almeida Revista e Atualizada foi traduzida “vinda” no final do v. 8 e “aparecimento” no início do v. 9, contudo no original aparece a mesma palavra, parousia, para ambos.
Parousia, segundo Albrecht Oepke, da Universidade de Leipzig[lxxii], é um termo essencialmente helenístico que foi assimilado ao léxico do Novo Testamento através de seu desenvolvimento no judaísmo.  Na cultura judaica anterior à escritura do Novo Testamento, esse termo adquiriu as seguintes acepções:
a manifestação de Deus em direta revelação no culto;
a vinda de Deus na História;
a vinda de Yahweh como Rei;
a vinda do Messias.
O termo foi imediatamente incorporado à proclamação (kerygma) neo-testamentária, em referência à segunda vinda de Cristo. Ainda segundo Oepke, “à parte da ocorrência concreta da palavra, todo o pensamento de Jesus está permeado pela idéia da parousia.”
Em sua ocorrência na segunda carta aos Tessalonicenses, na primeira vez refere-se à vinda de Cristo (2:1) e, na segunda, faz referência à vinda do iníquo. Assim sendo, pode-se concluir que um dos aspectos principais do engano é a contrafação da verdadeira parousia de Cristo. Para efeito de maior clareza, transcreve-se a seguir a referência de Ellen White a esse evento imitatório:
Como ato culminante no grande drama do engano, o próprio Satanás personificará a Cristo. A igreja tem há muito tempo professado considerar o advento do Salvador como a realização de suas esperanças. Assim, o grande enganador fará parecer que Cristo veio. Em várias partes da Terra, Satanás se manifestará entre os homens como um ser majestoso, com brilho deslumbrante, assemelhando-se à descrição do Filho de Deus dada por João no Apocalipse. (Cf. Ap 1:13-15). A glória que o cerca não é excedida por coisa alguma que os olhos mortais já tenham contemplado. Ressoa nos ares a aclamação de triunfo: “Cristo veio! Cristo veio!” O povo se prostra em adoração diante dele, enquanto este ergue as mãos e sobre eles pronuncia uma bênção, assim como Cristo abençoava Seus discípulos quando aqui na Terra esteve. Sua voz é meiga e branda, cheia de melodia. Em tom manso e compassivo apresenta algumas das mesmas verdades celestiais e cheias de graça que o Salvador proferia; cura as moléstias do povo, e então, em seu pretenso caráter de Cristo, alega ter mudado o sábado para o domingo,... É este o poderoso engano, quase invencível. Semelhante aos samaritanos que foram enganados por Simão Mago, as multidões, desde o menor até o maior, dão crédito a esses sortilégios, dizendo: “Esta é grande virtude de Deus.” Atos 8:10.[lxxiii]
E Jesus ainda complementa, enfatizando a magnitude do engano e, conseqüentemente, da necessidade de atender a sua voz: “porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos” (Mt 24:24). Ora, se, como diz Paulo, “o próprio Satanás se transforma em anjo de luz” (2Co 11:14), quando convém aos seus nefandos propósitos de enredar os homens em suas artimanhas, é plausível concluir que suas atuações serão mais e mais extraordinárias, para satisfazer as expectativas daqueles que se preocupam menos com a Palavra de Deus e mais com tudo aquilo que satisfaz aos sentidos. Quem se guiar pelos sentidos será enganado. A prova não deverá ser buscada nos sentidos, mas na Palavra de Deus, como fez Jesus no deserto da tentação, a única maneira de quebrar o encantamento do diabo. É preciso reconhecer a existência de uma realidade mais alta, superior, além dos sentidos. Essa é a “realidade da fé”, que é “percebida com a ajuda da Escritura e não é normalmente percebida pelos sentidos somente”[lxxiv].
A importância de um conhecimento adequado das Escrituras não pode ser superestimada, especialmente quando se vive no “período mais solene da história deste mundo”, quando “acontecimentos de importância vital” estão a ocorrer e ainda mais ao saber que se está no “terreno encantado de Satanás”[lxxv].  Ellen White é enfática ao dizer que as Santas Escrituras são “a salvaguarda contra a influência... do poder ilusório dos espíritos das trevas” e que “pessoa alguma, a não ser os que fortaleceram o espírito com as verdades da Escritura, poderá resistir no último grande conflito”[lxxvi].
Obviamente o remanescente citado em 12:17 não será enganado, pois há um decreto, emitido contra aqueles que não adoram a “imagem da besta” (13:15). Inicialmente o decreto proíbe atividades comerciais (“comprar e vender” - Ap 13:17) e, finalmente, ordena a morte.
É importante notar o aspecto espiritual/religioso, de culto/adoração, presente no conflito envolvendo as duas bestas de Apocalipse 13. Quatro referências são feitas à “adoração” da primeira besta (13:4, 8 e 11), enquanto um decreto de morte seria emitido contra os que “não adorassem a imagem da besta” (13:15). Pode-se perceber a natureza espiritual do conflito quando, ao se descrever a reação da “terra” à cura da ferida mortal recebida pela primeira besta, se afirme que “adoraram” ao dragão e à besta (vv. 3-4). Adorar a besta equivale a “seguir seus costumes, práticas ou ensinos”[lxxvii] em detrimento das claras instruções de Deus. (cf. Ap. 1:9-11).
Interessante é contrastar a atitude da “terra” diante do que aconteceu com a besta e o convite apresentado pelo primeiro anjo aos que se assentam sobre a “terra” em 14:7. A razão apresentada para a adoração nesse verso é expressa no verbo “fazer” [gr. poeiésanti]: “adorai Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas”, portanto, o Criador. Na terceira mensagem (vv. 9,11) a adoração é tributada à besta, portanto, o contexto indica a “natureza da usurpação”, com a besta assumindo as “prerrogativas do Deus-Criador”[lxxviii].
A expressão para adorar, na passagem de 13:4, é prosekunesan, forma do primeiro aoristo do indicativo do verbo proskunéo, enquanto, em 14:7, a palavra que convida para a adoração do Criador é proskunésate, forma do primeiro aoristo do imperativo do mesmo verbo.
Proskunéo, segundo Heinrich Greeven[lxxix] significa, etimologicamente, “beijar com reverência”, uma vez que seu sentido helenístico, encontrado a partir de Homero, se liga ao ato de “prostrar-se de joelhos para beijar uma imagem”. Na Septuaginta, versão grega do Antigo Testamento, o verbo ocorre uma única vez com o sentido de beijar, vertendo o verbo hebraico “sagal”: “Também conservei em Israel sete mil: todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda boca que não o beijou”(1 Rs 19:18). Note-se que o ato de beijar vem associado ao ato de dobrar os joelhos, sentido que prevaleceu no contexto teológico: aproximadamente três quartos de sua ocorrência na Septuaginta relacionam-se à adoração do Deus Verdadeiro ou à veneração dos deuses falsos.
Em Êxodo 18:7, proskunéo verte o verbo hebraico nashaq, também com o sentido de beijar e também associado ao ato de inclinar-se: “Então saiu Moisés ao encontro de seu sogro, inclinou-se e o beijou...”
A importância dessa associação cúltica entre “adorar” e “beijar” se torna relevante quando se compreende que ao cristão é ordenado que ofereça ambas ações à Divindade, conforme Salmo 2:12 - “Beijai o Filho para que se não irrite, e não pereçais no caminho; porque dentro em pouco se Lhe inflamará a ira.”
Não resta dúvida, portanto, de que são apresentados dois poderes que competem pela adoração que a humanidade possa oferecer. E em sua tentativa de se afirmar em suas pretensões, declara-se que a besta agiria proferindo “arrogâncias e blasfêmias” e abrindo “a sua boca em blasfêmias contra Deus, para Lhe difamar o nome e difamar o tabernáculo, a saber, os que habitam no Céu” (vv. 5,6).
Todo esforço encantatório produzido por Satanás é dirigido no intuito de levar os homens a adorá-lo. E, quando sua persuasão não produz resultados por ele considerados como satisfatórios, a sua fala encantatória se transforma em violência sem dissimulação, assassinato e morte.
Exemplos históricos da emissão de decretos contra o povo de Deus são encontrados no livro de Daniel.  Na Babilônia histórica aconteceu um fato envolvendo o culto a uma imagem, conforme o registro encontrado no capítulo 3 do livro de Daniel. Naquela ocasião, uma imagem real, toda de ouro[lxxx], com sessenta côvados de altura e seis de largura (v. 1)[lxxxi], foi levantada na planície de Dura, por ordem de Nabucodonozor, para ser solenemente consagrada (v. 2) ao som de música instrumental. Quando os instrumentos tocassem, apregoava o arauto, todos “vos prostrareis, e adorareis a imagem de ouro” (v. 5).  De acordo com Goldingay, nenhum dos instrumentos musicais utilizados na cerimônia eram usados no “culto Israelita.” Afirma que a terminologia empregada é de “termos estrangeiros para instrumentos usados em contextos seculares”, o que implica a “natureza pagã” da cerimônia[lxxxii].
E qual o recurso utilizado por Nabucodonozor para compelir todos a lhe obedecerem à ordem de adorar a imagem? A resposta está no verso seguinte: “qualquer que se não prostrar e não a adorar, será no mesmo instante lançado na fornalha de fogo ardente.” Morte ou, dizendo de outra forma, ameaça de morte. Certamente o rei não imaginava que alguém ousasse desobedecer-lhe a ordem, ainda mais sabendo quais seriam as conseqüências. Ellen White afirma que “Satanás esperava dessa forma derrotar os propósitos de Deus de tornar a presença do cativo Israel em Babilônia um meio de abençoar a todas as nações do paganismo.”[lxxxiii] Mas os propósitos do rei (e de Satanás) foram frustrados. Três pessoas permaneceram em pé, não se prostraram, não adoraram a imagem, assim como no tempo de Elias sete mil não dobraram os seus joelhos a Baal (1Re 19:18).  A ameaça de morte feita pelo rei foi cumprida (Dn 3:19-21), mas o fogo da fornalha não teve qualquer efeito sobre os três hebreus (v. 27).
Os expositores têm reconhecido... este teste leal-até-a-morte para os três oficiais hebreus em Babilônia e seu livramento como um tipo significativo da crise do fim-do-tempo para a igreja de Deus na moderna Babilônia. Tanto Daniel 3 (o tipo) como Apocalipse 13 (o antítipo) mencionam um decreto de morte emitido por legisladores concernente a uma questão religiosa. Ambos os livros apocalípticos descrevem uma ‘imagem’ que Babilônia erige como o teste final de fé para o Israel de Deus. Em ambas as situações os poderes governantes impõem um falso culto sob pena de morte.[lxxxiv]
É importante observar ainda que “culto falsificado é atribuído à ponta pequena (Dn 8:14) e à besta (Ap 13:4-8,  12-15). Culto é o problema escatológico central. A humanidade será confrontada com a decisão suprema - adorar a besta ou adorar a Deus’’[lxxxv].
Outra tentativa contra um fiel servo de Deus encontramos no capítulo 6 de Daniel. Os opositores de Daniel foram constrangidos a reconhecer sua fidelidade e honestidade, e que nada encontrariam contra ele, a não ser na “Lei do seu Deus” (Dn. 6:5).  Assim elaboraram um plano que pudesse ser usado contra Daniel.  Um decreto seria emitido proibindo-se a todo homem, por um período de trinta dias, fazer qualquer petição a qualquer deus, exceto ao rei. Quem fosse desobediente ao decreto seria lançado na cova dos leões (v. 7).  Embora não seja explicitamente declarada no texto a atuação do diabo na preparação do decreto, Ellen White assim apresenta os bastidores da situação:
Na conspiração assim formada tinha Satanás desempenhado importante parte. O profeta havia sido exaltado em mando no reino, e os anjos maus temiam que sua influência pudesse enfraquecer-lhes o controle sobre seus governantes. Foram essas instrumentalidades satânicas que impeliram os príncipes a sentir inveja e ciúmes; foram eles que inspiraram o plano da destruição de Daniel; e os príncipes, rendendo-se aos instrumentos do mal, levaram-no à execução[lxxxvi].
Projetando os acontecimentos finais, afirma ainda que “na última grande batalha do conflito com Satanás, os que são leais a Deus hão de ser privados de todo apoio terreno”, sendo impedidos de comprar ou vender e, afinal será “decretada a morte deles”[lxxxvii].
Um paralelo interessante que se pode notar é que, enquanto aqueles que não adoram a imagem da besta são ameaçados de morte (Ap 13:15), é dito pelo anjo que os adoradores da “besta e a sua imagem”  beberão “do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da Sua ira” (Ap 14:9-10). Essa é uma referência às sete últimas pragas. Note-se a “grande voz” ordenando aos sete anjos que derramem “pela terra as sete taças da cólera de Deus” (Ap 16:1).  Assim foram atormentados os “homens portadores da marca da besta e adoradores da sua imagem” (v. 2) com úlceras malignas, o mar se tornou em sangue, assim também os rios e as fontes das águas, o sol se aqueceu, trevas sobrevieram ao trono da besta, o secamento do Eufrates e, finalmente, o grande terremoto (Ap 16:1-21).
Os adoradores da besta serão ainda atormentados “com fogo e enxofre” (Ap 14:9-11), o que pode ser uma referência ao mesmo “lago” onde estarão o diabo, a besta e o falso profeta (Ap 20:10). Enquanto, na perspectiva humana, os adoradores da besta pareçam estar em uma situação favorável, aos olhos do Céu a recompensa será para os que “não adoraram a besta, nem tão pouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão”, pois esses é que viverão e reinarão “com Cristo durante mil anos” (Ap 20:4). Em Daniel 7 encontramos uma situação semelhante, retratada na perseguição que a ponta pequena move contra os santos, os quais são vindicados por Deus, recebendo “o reino e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu”, enquanto o poder perseguidor perde o domínio, sendo destruído e consumido até ao fim (vv. 25-27).
O Desfecho do Conflito
A “peleja no Céu” produziu, produz e ainda produzirá resultados estranhos ao plano original de Deus para Sua criação. Sofrimento, dor, miséria, angústia e morte são testemunhas visíveis dos desdobramentos da grande controvérsia. Jesus pendendo da cruz no Calvário é um espetáculo terrível da hostilidade do diabo contra o Céu. A história testemunhou e testemunhará  um contínuo conflito entre Cristo e Satanás. Em vista de tudo isso, é natural que se queira saber qual o resultado final da grande controvérsia. Continuará o inimigo a semear a discórdia, a dor, o sofrimento e a morte? Viverá o homem em um planeta corrompido e maculado pelo pecado? Há um projeto divino diferente do apresentado até agora por Satanás? Se sim, quando se cumprirá? Que papéis serão desempenhados pelos envolvidos no conflito? Respostas a essas indagações deverão ser providas a partir de Apocalipse 20 e passagens correlatas. Contudo, é importante lembrar que “o mal é tão radical que somente pode ser derrotado pela poderosa intervenção de Deus”[lxxxviii]
O milênio. O assunto será abordado no que diz respeito a Satanás e o desfecho de suas atividades contra Cristo e Seus seguidores. Também se verá o destino último de Satanás, seus anjos, seus súditos, bem como de Jesus e Seus discípulos.
O evento que inaugura o milênio é a segunda vinda de Jesus. Isso se pode dizer pelo evento descrito e a identificação do personagem que é apresentado no capítulo 19 do Apocalipse.  Esse personagem é identificado como o “Verbo de Deus” (v. 13), “Rei dos Reis e Senhor dos Senhores” (v. 16).
Alguns eventos relacionados com a vinda de Jesus e o início do milênio podem ser apresentados, a partir de outras passagens bíblicas:
a ressurreição dos justos mortos (1Ts 4:16; Jo 5:28-29; Ap 20:6 ú.p.; 1Co 15:52);
a transformação dos santos vivos (1Co 15:51-52);
a ascensão de todos os justos ao Céu (1Ts 4:17; Mt 24:31);
a morte dos ímpios vivos ou destruição dos seguidores da besta (2Ts 2:8; Ap 6:15-17);
a ceia das bodas do Cordeiro (Ap 19:1-16);
banquete das aves e animais de rapina (Ap 19:17-18);
a prisão de Satanás (Ap 20:2-3).
Da mesma forma, podem ser enumerados alguns eventos específicos da lacuna temporal coberta pelo período de mil anos:
a permanência de Satanás nessa prisão circunstancial à qual foi confinado no início do período;
reinado dos Santos com Cristo no Céu (Ap 20:4 ú.p.);
Julgamento dos ímpios e dos anjos caídos (1Co 6:2-3).
Por fim, os eventos ligados ao encerramento do período milenar também podem ser claramente identificados através das referências de Ap 20 e outros textos relacionados ao final dos tempos.
a libertação de Satanás de sua prisão de circunstâncias (“Quando, porém, se completarem os mil anos, Satanás será solto da sua prisão...” (v.7);
a ressurreição dos ímpios mortos por um pouco de tempo (Jo 5:29 ú.p.; Ap 20:5 - essa é a segunda ressurreição, ou a ressurreição do juízo);
a obra encantatória de Satanás, agora não mais dirigida a indivíduos específicos, mas aos aglomerados humanos (“sairá a seduzir as nações que há nos quatro cantos da terra” - Ap 20:8);
a terceira vinda de Jesus;
a descida da Nova Jerusalém (Ap 21:2-3);
a formação de exércitos e corporações militares entre os ímpios, sob a liderança de demônios, para o confronto final (Ap 20:8);
o sítio da Nova Jerusalém (Ap 20:8-9);
h)  a destruição dos ímpios e demônios: desce fogo do Céu e consome a todos -  no capítulo 13 a “terra” foi enganada pelo fogo que desceu à Terra como manifestação do poder sedutor de Satanás; agora o fogo que desce do Céu é uma manifestação do poder de Deus e do Seu ódio ao pecado. Quem se deixou enganar pelo “fogo” do capítulo 13 será destruído pelo fogo do capítulo 20.
O que assegura a destruição final de Satanás e o fim do grande conflito é a vitória sem preço alcançada por Jesus na cruz do calvário (Jo 12:31; 16:11).  O livro de Hebreus enfatiza um aspecto envolvido no sacrifício de Cristo que merece consideração.  É dito que Jesus, “por sua morte”, destruiria “aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo” (Hb 2:14).  A promessa encontrada no livro de Gênesis, capítulo 3, verso 15, faz referência a uma ferida que atingiria a cabeça da serpente encontra seu cumprimento na derrota de Satanás. O diabo - que anteriormente caíra do céu como um raio, conforme Lucas 10:18 - por ocasião da segunda vinda de Jesus, será preso por mil anos (Ap 20:2). Ao final desse período, Satanás “será solto” e seduzirá as nações, ajuntando-as para a peleja final contra a “cidade querida” (Ap 20:7-9). Essa é a ocasião da derrota definitiva de Satanás, juntamente com seus anjos, a besta, o falso profeta e os seres humanos que deram ouvidos às suas mentiras, quando tiveram a oportunidade de receber de Cristo o perdão e a salvação. O “fogo” que desce do céu consome a todos, enquanto o diabo é lançado para dentro do “lago do fogo e enxofre” (Ap 20:9 e 10), juntamente com a besta e o falso profeta (Ap 19:20).
Conclusão
O crente está envolvido em um grande conflito, invisível e de dimensões cósmicas. As páginas das Escrituras Sagradas colocam em evidência o andamento de tal conflito. Sua realidade, no pensamento dos escritores inspirados, é inquestionável. As advertências aos filhos de Deus ecoam solenemente. A luta não é “contra a carne e o sangue”. É necessário revestir-se de “toda a armadura de Deus”.
O que é intrinsecamente importante acerca desse conflito de proporções cósmicas é que ele se repete no microcosmo da vida espiritual de cada indivíduo. O desfecho escatológico nada mais é do que uma projeção do que ocorre na luta que é travada com cada alma:
Desde os dias de Adão até aos nossos tempos, nosso grande inimigo tem estado a exercer seu poder de oprimir e destruir. Está hoje a preparar-se para sua última campanha contra a igreja. Todos os que procuram seguir a Jesus terão de batalhar contra este implacável adversário.[lxxxix]
Satanás, da mesma forma em que foi derrotado quando exerceu seu poder encantatório e perseguidor contra o remanescente, sucumbirá quando empregar os mesmos artifícios contra cada cristão, pois este pode lançar mão da vitória escatológica de Cristo como se fosse a sua própria vitória: “No brado agonizante do Salvador - ‘Está consumado’ - soou a sentença de morte de Satanás. Decidiu-se então o grande conflito que durante tanto tempo estivera em andamento, e confirmou-se a extirpação do mal.”[xc]
Apocalipse 12:11 declara que “Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram, e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida”. Em 12:4, percebe-se que a tentativa de devorar o Filho ainda é um conflito em andamento, pois se reproduz, conforme declarado algures, na vivência de cada pecador que vive ou tenha vivido neste planeta.
A suposição inicial de uma relação direta entre as realidades últimas do cosmos e as realidades últimas na dimensão pessoal dos conflitos de tentação/perseguição dirigidos contra o indivíduo pelo diabo, confirmam-se pela correspondência entre as estratégias escatológicas e de enfrentamento pessoal adotadas por Satanás, conforme mostrado por esta pesquisa. Negar isso seria supor que as afirmações verdadeiras quanto aos personagens bíblicos não seriam verdadeiras quanto ao cristão, como indivíduo, em situações de conflito espiritual, o que destituiria as Escrituras de seu valor devocional.
A dimensão pessoal do conflito está bem documentada nos relatos dos Evangelhos. Os casos de possessão demoníaca descritos pelos evangelistas evidenciam a transferência do conflito da esfera cósmica, que poderia ser considerada abstrata e sem relação com a humanidade ou realidade existencial de cada indivíduo com seus desdobramentos inevitáveis. As palavras de Pedro, exortando à vigilância pessoal contra o “diabo, vosso adversário” que procura “alguém para devorar” (1Pe 5:8) também são suficientemente claras para traduzir essa situação de enfrentamento pessoal, na qual o conflito se vê reduzido à esfera da vida de cada ser humano. Desta forma, cientes da realidade de um conflito essencialmente espiritual, mas com repercussões na experiência diária, é conveniente considerar o conselho do apóstolo para resistir ao diabo “firmes na fé” (v. 9), convictos de que “o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido um pouco, Ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar” (v. 10).
Conforme Apocalipse 12:13 e 17, a guerra contra a mulher é contra o restante da descendência, que também é um conflito em andamento contra a igreja. Mas, segundo a confiável Palavra de Deus (Ap 12:10), “Agora veio a salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do Seu Cristo, pois foi expulso o acusador de nossos irmãos.” Assim, pode-se afirmar confiantemente que o desfecho final do grande conflito é a vitória de Deus, do Seu Cristo (Ap 11:15), e de todos aqueles que O aceitam, adoram e vivem por Sua Palavra (Ap. 2:26,27; 3:21). Desta maneira, o mal será definitivamente expulso da realidade cósmica deste universo, mas expulso, sobretudo, da realidade pessoal de cada cristão. A humanidade deixará, definitivamente, de assumir papéis de encantamento. Em vez disso, deslumbrar-se-á diante de seu Deus, seu maravilhoso Deus.




*João Antônio Rodrigues Alves é professor de teologia no SALT-IAENE. Atualmente está cursando o Doutorado em Teologia na Universidad Adventista del Plata, Argentina.
[ii]Para uma interpretação radical dos processos de metaforização na Bíblia, ver: Kari Syreeni, “Metaphorical Appropriation:  (Post) Modern Biblical Hermeneutic and the Theory of Metaphor”, Literature and Theology 9 (setembro de 1995): 321-338; Richard Swinburne, Revelation: From Metaphor to Analogy (Oxford: Oxford University Press, 1992).
[iii]Kenneth Strand, Perspectives in the Book of Revelation: Essays on Apocalyptic Interpretation (PBREAI), 1ª edição (Worthington, Ohio: Ann Arbor, 1975), 29.7
[iv]Os principais representantes dessa corrente são: D. T. Niles, Paul S. Minear e Kenneth A. Strand. Conf. Kenneth A. Strand, Interpreting the Book of Revelation: Hermeneutical Guidelines, With Brief Introduction to Literary Analysis (Worthington, Ohio: Ann Arbor, 1979), 38.  
[v]Conf. Strand, PBREAD, 29.
[vi]Roy Alan Anderson, Revelações do Apocalipse (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1990), 129.
[vii]The Greek New Testament, 3ª ed.  (Stuttgart: United Bible Societies, 1975), é usada em todas as referências gregas.
[viii]Harold K. Moulton, “pólemos, poleméu”, The Analytical Greek Lexicon, edição revisada (Grand Rapids-MI: Zoondervan Corporation, 1980).
[ix]O. Böcher, “pólemos, poleméu”, in Balz, Horst & Schneider, Gerhard, eds. Exegetical Dictionary of the New Testament  (Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans Publishing Company, 1993), 3:128-9.
[x]Ibid.
[xi]Hans Bietenhard, Drákon, in Coenen, L., Beyreuther, E. & Bietenhar, H., eds. Diccionario Teologico del Nuevo Testamento, 2ª edição (Salamanca, Esp.: Ediciones Sigueme, 1985), 2:50.
[xii]Ibid.
[xiii]Ibid.,  49.
[xiv]Mario Veloso, O Homem, Pessoa Vivente (HPV), 1ª edição (Brasília: Editora Alhambra , s.d.), 67; George Ladd, Apocalipse - Introdução e Comentário (São Paulo: Mundo Cristão, 1990), 127-128; Keil, C. F. e Delitzsch, F., Biblical Commentary on the Old Testament (Grand Rapids, Mi: Wm. B. Eerdmans Publishing Company, 1959), 1:92.
[xv]Jacques B. Doukhan, Daniel: The Vision of the End (Berrien Springs, Mi: Andrews University Press, 1987),  100.
[xvi]Ibid.
[xvii]Ibid., 110.
[xviii]“Miguel”  [Ap 12:7], Comentario Bíblico Adventista del Septimo Dia (CBASD), 7 vols, ed. Tulio N. Peverini, 1ª edição (Boise, Idaho: Pacific Press Publishing Association, 1985), 7:824.
[xix]Maxwell, God Cares,  2:321.
[xx]E é assim que o texto é vertido na Almeida Revista e Atualizada, New American Standard Bible e New International Version.
[xxi]Uriah Smith, As Profecias do Apocalipse (Lisboa: Publicadora Atlântico Limitada, s/d), 189.
[xxii]H. M. S. Richards, What Jesus Said, (Nashville, Te: Southern Publishing Association, 1957), 452.
[xxiii]Peverini,  824.
[xxiv]Marvin R. Vincent, Word Studies in the New Testament (Mclean, Virginia: MacDonald Publishing Company, s/d ), 2:522.
[xxv] “Estrelas”  [Ap 12:4], The Anchor Bible (AB), ed. William F. Albright, 3ª edição (Double Day, NY: Doubleday & Company, 1964), 38:200. 
[xxvi]Walter Russel Bowie, The Interpreter’s Bible (New York: Abingdom Press, 1952-1957), 12:454.
[xxvii]Maxwell, God Cares, 321.
[xxviii]Vincent, 524.
[xxix]Aurélio Buarque de Holanda, “Encantamento”, Dicionário Aurélio Eletrônico (São Paulo: Editora Nova Fronteira, 1993).
[xxx]Robert W. Wall, “Revelation,” New International Biblical Commentary Series, 1ª edição conjunta (Peabody, MA: Hendrickson Publishers, 1995), 157.
[xxxi]A expressão usada para “tempo” é kairon, que não é um processo cronológico ordinário, com continuidade, mas conota descontinuidade; é um tempo de oportunidade e cumprimento. Cf. Jack W. Provonsha, A Remnant in Crisis,  (Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Association, 1993), 123-124.
[xxxii]Bietenhard,  50.
[xxxiii]Ellen G. White, Patriarcas e Profetas (PF), 3ª edição (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1990), 45-46.
[xxxiv]Ellen G. White, História da Redenção (HR), 3ª edição (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1981),  35.
[xxxv]White, HR , 37.
[xxxvi]Roy Adams, The Sanctuary, (Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Association, 1993),  17.
[xxxvii]Ibid., 18.
[xxxviii]H. K. Larondelle, Perfection and Perfectionism (PP), 4ª edição (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1984 ), 97.
[xxxix]Billy Graham, World Aflame, (Garden City, NY: Doubleday & Company, 1965), 122.
[xl]Ellen G. White, O Grande Conflito (GC), 24ª edição (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1980), 509.
[xli]Ibid., 540.
[xlii]Subliminar é um estímulo que, não sendo suficientemente intenso para que o indivíduo tome consciência dele,  repetido, atua no sentido de alcançar um efeito desejado.
[xliii]White, GC, 596-616..
[xliv]Maxwell, God Cares, 2:318.
[xlv]Walter Russel Bowie, “Exposition of Genesis”, The Interpreter’s Bible Bible (New York: Abingdom Press, 1952-1957), 1:518.
[xlvi]White, H.R.., 54.
[xlvii]Le Roy Edwin Froom, The Condicionalist Faith of Our Fathers (Washington, DC: Review and Herald Publishing Association, 1966), 1: 86.
[xlviii]Veloso, 116.
[xlix]Veloso, 99, 101, 115,  refere-se à morte de Abel como uma “tragédia”, a morte da humanidade, conforme registrada em Gênesis 5, como “acontecimento natural” e à morte e extermínio trazidos pela ação do dilúvio como um “cataclisma”.
[l]Delitzsch,  53.
[li]White,  GC, 523.
[lii]Delitzsch,  69-70.
[liii]Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (DTN), 11ª edição (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1979), 54.
[liv]White, GC,  438.
[lv]White, DTN, 103, 110, 112.
[lvi]Ibid.,  101.
[lvii]R. V. G. Tasker, Mateus: Introdução e Comentário (São Paulo: Mundo Cristão, 43.
[lviii]Roy Adams, The Nature of Christ (N.C.), (Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Association, 1994), 78.
[lix]White, GC, 514.
[lx]Hans K. LaRondelle, Chariots of Salvation (CS), 1ª edição (Washington, DC: Review and Herald Publishing Association, 1987), 150-151.
[lxi]White, DTN, 231.
[lxii]Ibid., 233.
[lxiii]White,  DTN, 403.
[lxiv]Merrill F. Unger, Biblical Demonology - A Study of the Spiritual Forces Behind the Present World Unrest, 10ª impressão (Wheaton, Illinois: Scripture Press Publications,  1972 ), 68.

[lxv]White, GC,  615.
[lxvi]Deserto - Gr. Éremos - “lugar abandonado, deserto, vazio”, “lugar desabitado”. Representa, sem dúvida, um lugar de retiro ou obscuridade, uma região ou paragem onde a igreja estaria oculta, longe do olhar dos homens. Cf. Comentario Biblico Adventista, 7: 823.
[lxvii]Leon Morris,  The Revelation of St. John - An Introduction and Commentary, 1ª edição, (Grand Rapids, Mi: Wm. B. Eerdmans Publishing , 1969 ), 163.
[lxviii]White, GC, 559.
[lxix]Ibid.
[lxx]Jon Paulien, What the Bible Says About the End-Time (Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Association, 1994), 112.
[lxxi]White, GC, 559.
[lxxii]Gerhard Kittel & Gerhard Friedrich, ed., Theological Dictionary of the New Testament, 10 vols (Grand Rapids, Mi: Wm. B. Eerdmans Publishing , 1967), 5:858-871.
[lxxiii]White, GC,  629-630.
[lxxiv]Paulien, 116.
[lxxv]White, GC,  606-607.
[lxxvi]White, GC,   599-600.
[lxxvii]Daniel R. Guild, Rich Revelations of Jesus (Nashville, Te: Southern Publishing Association. 1965 ), 182.
[lxxviii]Doukhan,  69.
[lxxix]Kittel, 5:758-766.
[lxxx]William H. Shea sugere que a estátua poderia ser de Marduk, o deus de Babilônia. Cf. Andrews University Seminary Studies,  Spring 1982, 5: 30.
[lxxxi]O côvado babilônico (distância entre o cotovelo e a ponta dos dedos) foi padronizado em aproximadamente meio metro. Portanto, a imagem se erguia por aproximadamente 30 metros acima do nível da planície. Maxwell, C. Mervyn, Uma Nova Era Segundo as Profecias de Daniel (UNESPD), 1ª edição (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1996), 52.
[lxxxii]John E. Goldingay, in Hubbard, David A. & Barker, Glenn W., eds. Word Biblical Commentary, (Dallas, Texas: Word Books, Publisher, 1989), 70.
[lxxxiii]Ellen G. White, Profetas e Reis (PR), 3ª edição (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1981), 486.
[lxxxiv]Hans K. La Rondelle, Chariots of Salvation (CS), (Washington, DC: Review and Herald Publishing Association, 1987), 55.
[lxxxv]Norman R. Gulley, “Daniel’s Pre-Advent Judgement in its Biblical Context’’, in Journal of Adventist Theological Society, Autumn 1991, 2: 55.
[lxxxvi]White, PR, 520.
[lxxxvii]White, D T N, 107.
[lxxxviii]George E. Ladd, The Presence of the Future, 2ª impressão (Grand Rapids, Mi: Wm. B. Eerdmans Publishing Company, 1976),  333.
[lxxxix]White, GC,  514.
[xc]White, GC, 506.