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Profecia ou Horóscopo?


Por S. J. Schwantes  (RA, jan. de 1992)
O conhecimento do futuro sempre intrigou a Humanidade. Desde Nabucodonosor, rei da antiga Babilônia, até a moderna dona de casa que consulta o horóscopo em algum jornal, o que o dia de amnhã pode trazer é de muito maior interesse do que o dia de ontem. O fato de que os pretensos profetas modernos pisam em terreno desconhecido, e que a História tem desmentido as predições de muitos leitores de bolas de cristal, parece não afetar a crendice popular.
Não obstante, o desejo de levantar o véu que encobre o futuro é tão imperativo, e a nuvem que esconde o dia de amanhã tão impenetrável, que a esperança luta com o ceticismo. Esperança de que alguém tenha vislumbrado o que há de ser. Esperança de que em tal intuição seja descoberta a prova de uma Inteligência divina que preside sobre a marcha dos acontecimentos. Por causa de seus livros proféticos, não surpreende que muitos estejam se voltando para a Bíblia como única fonte segura de informação sobre o futuro. Projeta a Bíblia alguma luz sobre eventos correntes nos mundos religioso e político? Qual é o futuro do ecumenismo? Do papado? Do comunismo? Será o Oriente Próximo o teatro de uma última confrontação titânica entre as nações — o Armagedom da profecia? Como podemos identificar o misterioso anticristo que há de enganar o mundo?
Prerrogativa divina
No livro do Apocalipse, o último a ser incluído na Bíblia, Jesus Cristo Se apresenta como "o Alfa e o ômega", como Aquele que conhece o fim desde o princípio, e que em virtude disto ordena ao apóstolo João: "Escreve, pois, as coisas que viste, e as que são, e as que hão de acontecer depois destas" (Apoc. 1:18). Sua autoridade para desvendar tanto do futuro quanto seja útil a Seus discípulos, é aqui apresentada por Cristo como base para a fé nEle.
De igual modo, a inspiração divina guiou os profetas do Velho Testamento a apresentar a presciência do Deus de Israel como evidência de Sua superioridade sobre as divindades do paganismo. Desafiando os falsos deuses do mundo pagão, o Altíssimo declarou através do profeta Isaías: "Fazei-nos ouvir as coisas futuras. Anunciai-nos as coisas que ainda hão de vir, para que saibamos que sois deuses..." (Isaías 41:22, 23).
Implícito nesta declaração está o argumento de que o conhecimento do futuro é uma prerrogativa divina. É esta prerrogativa que distingue o verdadeiro Deus. As chamadas profecias ou oráculos pronunciados em santuários pagãos, não passavam de uma imitação grosseira da profecia genuína. Sua ambigüidade deliberada e as questões banais de que tratavam estão em contraste marcado com o tom positivo e a seriedade das profecias bíblicas.
Iluminam essas profecias, de algum modo, os acontecimentos correntes que afetam a vida da Igreja? Tudo nos leva a crer que sim. Como a Igreja é o objeto do cuidado supremo de Deus, seria inconcebível que seu Fundador e Mantenedor a deixaria sem algum conhecimento da crise final na qual ela está envolvida. Admita-se que seu divino Autor revele apenas o essencial para o bem da Igreja. Como Jesus não realizou milagres supérfluos, assim nada é revelado simplesmente para satisfazer a curiosidade ociosa. De outro lado, é-nos assegurado pelo profeta Amós: "Certamente o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o Seu segredo aos Seus servos, os profetas" (Amós 3:7).
A igreja atravessa hoje um período crítico em sua história, talvez o mais crítico desde os tempos apostólicos. Se jamais a luz foi necessária para guiar os pés errantes no caminho estreito, é agora. Esta é a razão por que o apóstolo Pedro escreveu com carinho à Igreja de seu dia: "Temos assim tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vossos corações" (II Pedro 1:19).
O ensino bíblico, então, nos leva a esperar que Deus iluminasse esse período da história, e sobre o qual convergem as aspirações de vinte séculos. Como as questões religiosas são as questões de interesse primordial, são elas, e não questões políticas ou militares, que estão na mira das profecias bíblicas.
Apocalipse
Diferentes livros da Bíblia provaram sua utilidade em pontos cruciais da História. O livro do Apocalipse é o que encerra uma mensagem especial para nossos dias. Jesus Cristo, o Mediador da revelação divina, declara repetidamente em suas páginas: "Eis que venho sem demora" (Apoc. 22:7 e 12).
Um estudo desse livro notável revela diversos esboços paralelos da História que vai da primeira à segunda vinda de Cristo. Cada esboço encara o curso dos acontecimentos sob um ponto de vista distinto. Tais esboços são escritos em linguagem pitoresca, não muito diferente das parábolas de nosso Senhor. Embora seja feito um grande uso de símbolos, uma chave para tais símbolos é fornecida pelo livro mesmo, ou pela Bíblia como um todo.
Um tema se destaca nessa representação impressionante do drama da redenção — o tema da liberdade religiosa. Convém lembrar aqui que o profeta mesmo fora vítima da intolerância religiosa no tempo do imperador Diocleciano, e em conseqüência foi exilado para a Ilha de Patmos (Apoc. 1:10). A própria vida da Igreja dependia de certo respeito à liberdade, porque só num clima de liberdade podem ser feitas decisões morais e religiosas. Não é um exagero dizer que a mensagem do Apocalipse se resume no fato de o anticristo tentar suprimir a todo custo a liberdade de religião no mundo, enquanto Cristo, através de Sua providência, preserva a liberdade de cada qual adorar a Deus segundo os ditames de sua consciência.
Em Apocalipse 2:10 a predição é feita de que o diabo lançaria a muitos dos discípulos de Cristo na prisão, e que eles teriam de atravessar um período de tribulação. Embora prisão e morte pudessem ser a sorte de muitos, haveria aqueles que, permanecendo fiéis até à morte, eventualmente receberiam a coroa da vida. Em Apocalipse 3:10 lemos de uma hora de provação que viria sobre o mundo inteiro para testar os que habitam sobre a Terra. A marcha da Igreja em sua conquista do mundo para Cristo, seria contestada a cada passo. Desses textos ressalta que uma arma usada pelo inimigo da verdade é a supressão de um modo ou de outro da liberdade religiosa. Mas como ficou demonstrado nos países comunistas em nossos dias, a supressão oficial da religião não apaga a sede de Deus implantada em cada coração humano.
Que o anticristo opera atrás de todos os esforços para destruir a Igreja, torna-se claro no capítulo 12. O diabo, frustrado em sua tentativa de destruir a Cristo em Sua infância e enfurecido por sua derrota no Calvário, derrama sua ira sobre a "mulher", símbolo que denota a Igreja, que então foge para o deserto, onde ela é o objeto do cuidado divino durante 1260 anos (Apoc. 12:6 e 14). Com o término desse longo período, inaugura-se aquilo que a Bíblia chama "os últimos dias".
Certamente o apóstolo João deve ter ficado perplexo ao compreender que uma igreja apóstata seria o instrumento principal do anticristo para perseguir uma minoria leal a Deus. Essa minoria é chamada "os restantes de sua descendência", e representa aqueles que permanecem fiéis a Cristo em meio de uma apostasia universal. Esta mensagem, em breves palavras, constitui a essência do capítulo 12.
Babilônia
Mais surpreendente ainda é o aparecimento no palco da profecia de uma segunda potência (Apoc. 13:11), que usa todos os seus recursos para promover o prestígio da primeira "besta". No simbolismo do Apocalipse, uma "besta" representa uma potência que pode ser de caráter político ou religioso. (Ver Daniel 7:17.) De sua descrição pode-se deduzir que esta segunda potência não é outra senão os Estados Unidos, a qual surgiu no continente americano com a bela promessa de liberdade religiosa e civil para todos os seus habitantes. O que humanamente não podia ser predito é que essa nova potência que floresceu num clima de liberdade religiosa se desviaria de tal modo de suas convicções originais ao ponto de falar com a voz de um dragão em apoio de uma super-igreja que tentaria no final da História suprimir toda voz dissidente. Entre outras pressões, boicote econômico seria posto em vigor para conseguir submissão aos reclamos absurdos dessa potência liberticida. Esta é a conclusão mais plausível a ser tirada da linguagem do capítulo 13, versos 11 a 17.
Nos últimos capítulos do Apocalipse essa super-igreja é retratada como Babilônia (Apoc. 14:7; 16:19; 17:7; 18:2-4). Como Babilônia foi a grande opressora do povo de Deus na antiguidade, quão apropriado que Babilônia se tornasse o símbolo profético do estabelecimento religioso, que abraçaria o mundo todo, e que vai assumindo vulto gradualmente. Em Apoc. 16:13, João revela que essa estrutura político-religiosa é planejada pelo "dragão", "a besta" e o "falso profeta", que representam diferentes segmentos do espectro religioso do mundo hodierno. Embora seus interesses conflitassem em épocas passadas, estão unidos num objetivo comum agora que a guerra entre as potências da luz e as potências das trevas atinge seu clímax. É esta igreja monolítica que mobiliza as nações da Terra para a luta final no sentido de impor uniformidade em matéria de religião sobre os habitantes do globo.
O futuro, então, do modo como é descrito pelo revelador, especificamente nos capítulos 16 e 17, verá igrejas com uma orientação secular unirem-se numa aliança universal com o propósito de impor uma religião única sobre toda a humanidade. Sob a pressão de uma crise de caráter político ou econômico, "espíritos de demônios" vão facilitar essa aliança. Dissidentes serão perseguidos enquanto a liberdade religiosa é sacrificada no altar do ecumenismo. Afinal, um mundo só, e uma só igreja! Mas, não para levar o mundo a um milênio de paz, mas para a última confrontação entre os exércitos do Céu liderados por Jesus Cristo e os poderes do mal chefiados por Satanás (cap. 19).
Esse é o quadro sombrio que a profecia projeta. Corresponde à realidade porque é delineado pelo Deus que é o Senhor da História, que vê o fim desde o princípio. Esperemos que o estudante moderno da palavra profética reconheça o que está implícito neste esboço da história sacra comunicada a João, e da qual ele diz que é "Uma revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos Seus servos as coisas que em breve devem acontecer" (Apoc. 1:1).