Por Enilson Sarli (RA, mar/1987)
Durante as primeiras décadas do século dezenove, estudo diligente das Escrituras Sagradas levou o mundo a um despertamento religioso. Ao mesmo tempo, pesquisas científicas lançaram os fundamentos para uma revolução similar na prática da medicina. Em ambas — medicina e religião — homens de determinação e caráter questionavam a tradição, considerando cuidadosamente antigas e novas idéias. Eles se atreveram a ficar de pé, mesmo sendo ridicularizados por causa das novas verdades que haviam descoberto. Deste reexame das Escrituras cresceu um interesse sem precedentes pela Segunda Vinda de Cristo, o que levou por sua vez ao desenvolvimento de movimentos simultâneos do "Segundo Advento" em muitos países.
O movimento milerita era um desses. Ele floresceu na América do Norte durante a década de 1830, e então desapareceu quando sua tão amplamente publicada data para o retorno de Cristo, 22 de outubro de 1844, passou. Desse movimento, porém, aparentemente desacreditado e sem vida, nasceu uma nova denominação protestante.
Sua continuada crença na iminente Segunda Vinda de Cristo estava baseada no intenso estudo das profecias bíblicas, e isso caracterizado por um estilo único de vida e uma filosofia saudável. Fazer o homem completo, física, mental e espiritualmente, era a filosofia, incomum na época, desse pequeno grupo que surgiu do movimento milerita, desapontados mas cheios de fé na exatidão das Escrituras e em seu Autor. Eles começaram a compartilhar uma mensagem de vitalidade e força destinada a beneficiar a saúde e aumentar a visão espiritual de muitos. O despertar espiritual do século dezenove, do qual eles faziam parte, cresceu não somente do espírito individual e de investigação pessoal mas também de alguns eventos sem precedentes no mundo natural.
Sinais do Segundo Advento
Na década de 1830 e no começo da de 1840, o Espírito de Deus colocou no coração de ministros e leigos de muitas religiões o interesse sobre o assunto do retorno de Cristo. A medida que iam estudando cuidadosamente várias profecias bíblicas e observavam nos eventos históricos como cada um deles se ia cumprindo no devido tempo, eles se convenciam de que o evento final no tempo profético de Deus — o Segundo Advento de Cristo — logo teria lugar.
Viram que as Escrituras apontavam para o retorno de Cristo. Viram também que as Escrituras, profetizavam em detalhes os eventos que precederiam tal acontecimento. Descobriram que muitos dos eventos ou condições que haviam sido profetizados como sinais haviam, após o ano de 1700, sido cumpridos. Viram que tais sinais haviam sido dados para chamar a atenção dos homens para a breve volta de Cristo e para ajudá-los a se prepararem para o encontro com o Criador.
Através do profeta Joel, Deus havia dito: "O Sol se converterá em trevas, e a Lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor." Joel 2:31. E durante Seu primeiro advento Cristo adicionou alguns detalhes: "Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o Sol escurecerá, a Lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento e os poderes dos céus serão abalados." Mat. 24:29. João acrescentou: "... e sobreveio grande terremoto. O Sol se tornou negro como saco de crina, a Lua toda como sangue, as estrelas do céu caíram pela terra, como a figueira, quando abalada por vento forte, deixa cair os seus figos verdes." Apoc. 6:12 e 13.
Nessas três profecias, três sinais notórios anunciaram o Segundo Advento: um grande terremoto, seguido pelo escurecimento do Sol e da Lua, seguido pela queda das estrelas. As predições se cumpriram precisamente na ordem em que foram preditas.
O terremoto de Lisboa, em 1? de novembro de 1755, foi um dos mais severos e um dos maiores em extensão (4 milhões de milhas quadradas). Foi sentido na África, na Europa Continental, no Reino Unido, na Groenlândia, América e nas índias Ocidentais.
O grande Dia Escuro, em 19 de maio de 1780, caracterizou-se por densas trevas. Começando entre dez e onze horas da manhã, com duração de quinze horas. Um trabalho publicado em 1881 disse que aquele dia foi "o mais misterioso e ainda não explicado fenômeno do gênero, de todos os diversos eventos constatados na Natureza, durante o último século.... O maior escurecimento de todo o céu visível e atmosfera na Nova Inglaterra..."1 "Ele foi observado nas regiões mais distantes a este da Nova Inglaterra, a oeste de Con-necticut e Albany, ao sul nas costas marítimas e ao norte em todos os Estados americanos. Esta escuridão provavelmente excedeu esses limites; porém, essa realidade nunca foi conhecida."2 Os pássaros voltaram para os seus ninhos, os animais para o seu abrigo. A Câmara Legislativa do Estado de Connecticut quase foi suspensa, pois seus membros assustados pensaram que o dia do juízo havia chegado.3 Naquela noite, como havia sido profetizado, a Lua tornou-se vermelha como sangue.
A queda das estrelas, em 13 de novembro de 1833, foi uma tão espessa chuva de meteoros, estão extensiva, tão longa, que muitos temeram ser o fim do planeta Terra. "Todo o firmamento, todo os Estados Unidos por [oito] horas estiveram em grande comoção."4 Um incessante espetáculo de luminosidades brilhantes foi mantido por todo o céu. Algumas delas eram de grande magnitude e de forma muito peculiar. Primeiro pareciam como fogos de artifícios de muita grandeza cobrindo todo o céu com milhões de bolas de fogo, parecendo foguetes. Numa inspeção mais detalhada, podia-se ver que os meteoros exibiam três distintas variedades, descritas pelo Dr. Almsted5 do Yale College, Massachusetts, conhecido como "o maior meteorologista da América"6: "Primeiro, eles consistiam de linhas fosfóricas,... muito numerosos, enchendo toda a atmosfera, imitando uma chuva de neve, porém em alta velocidade... causando ao expecta-dor uma sensação de espanto.
"Segundo, eles eram enormes bolas de fogo.... Esse tipo parecia mais com uma chuva de estrelas, que muitos tiveram a impressão de estar realmente caindo do céu....
"Terceiro, esses indefinidos corpos luminosos permaneciam como que parados no céu por um longo período de tempo; e eram de vários tamanhos e formas."7
"Um de tamanho grande permaneceu por longo tempo sobre as cataratas do Niágara emitindo vários raios de luz em todas as direções.... Nenhum homem jamais foi capaz de ver um espetáculo tão terrível como o do firmamento descendo em pontas de fogo sobre a escura e barulhenta catarata!"8 W. J. Fisher escrevendo em The Telescope, em outubro de 1934, disse que o fenômeno foi "a mais magnificente chuva de meteoros já registrada em recordes".
Numa noite típica, um observador comum poderá observar somente a queda de dez estrelas por hora. Porém naquela noite, o mesmo observador poderia ter visto sessenta mil por hora.9 "Arago computou que não menos de duzentos e quarenta mil meteoros foram ao mesmo tempo visíveis sobre o horizonte da cidade de Boston."10 Naquela noite mais de um bilhão de estrelas apareceram sobre os Estados Unidos e o Canadá somente."
Um Sinal Mais Impressionante
Os sinais no céu e na Terra advertiam os homens a se prepararem para o Segundo Advento de Cristo. Porém, havia um sinal mais impressionante apontando para o tempo do advento. Surpreendentemente, na década de 1830, milhares de pregadores e leigos através do mundo começaram a ensinar sobre a brevidade desse evento.
Entre esses homens, alguns se destacaram, a saber: Manuel de Lacunza, no Chile; Edward Ir-ving, na Inglaterra e Escócia; Louis Gaussen, na Suíça; Brugel, Leonard Kelber, Joseph Wolff e John Albert Bengel, na Alemanha. O movimento do Advento também foi da Europa para a Rússia. Joseph Wolff, muitas vezes correndo perigo de vida, levou a mensagem à Ásia e África. Ele muitas vezes falou perante o congresso dos Estados Unidos, em várias câmaras estaduais e em muitas cidades do país. Ele encontrou cristãos isolados que através de seu próprio estudo haviam concluído que o retorno de Cristo deveria ocorrer entre os anos de 1840 e 1844.
Um sonho levou Hentzepeter, o responsável pelo musel Royai Holland e um dos maiores ministros da Holanda, a estudar o assunto e a publicar em 1830 um panfleto a respeito. Onze anos mais tarde ele publicou outro panfleto, maior que o anterior, com advertências sobre o final do mundo. Esses„homens e milhares de outros levaram a mensagem do advento a seus compatriotas.
Na Suécia, a lei permitia somente que os pregadores do Estado pregassem nas igrejas. Por isso em algumas partes da Suécia e Noruega, crianças eram os líderes do movimento do Advento. Elas eram movidas pelo Espírito de Deus para explicar as profecias, as quais eles mesmos eram muito novos para compreender — profecias relacionadas com a breve volta do Salvador. Pessoas viajavam longas distâncias somente para ouvir os pequenos pregadores de Deus chamar seus ouvintes ao arrependimento e reforma. Esse, sem dúvida, era um trabalho da Providência Divina.
Em 1896, um homem que havia pregado a mensagem do Advento na Suécia quando era ainda criança, disse: "Preguei! sim, eu tinha que pregar. Não podia discernir bem a matéria. Uma força veio sobre mim, e eu fiz o que havia sido impelido por aquela força a fazer."12
Dois mil anos atrás, crianças compelidas pelo Espírito de Deus balançavam folhas de palmeiras no pátio do templo e proclamavam a Cristo como o prometido filho de Davi. Durante a entrada triunfal de Cristo em Jerusalém e no Templo, as crianças continuaram a adorá-Lo, porque os adultos, com medo dos sacerdotes e das autoridades, deixaram crescer o silêncio.
Quando os invejosos fariseus ordenaram que Cristo fizesse calar as crianças, Ele respondeu que Sua adoração era o cumprimento de uma profecia. (Mat. 21:8-16.) Assim, como Deus usou crianças para proclamar a Cristo durante o Primeiro Advento, poderia Ele ou não usá-las também para proclamar a mensagem do Segundo Advento?
No século dezenove, o fenômeno das crianças pregadoras foi relatado primeiramente como tendo ocorrido na Igreja Paroquial de Hjelmseryd, na Suécia. Ali, em dezembro de 1841, quatro meninas pequenas anunciavam que o final do mundo se aproximava e que todos deveriam arrepender-se e preparar-se para o encontro com Deus. Quase simultaneamente, um grande número de profetisas de dez a doze anos de idade apareceram em paróquias vizinhas.13 E na Vila de Hornborga, seis meninos' de oito a dezoito anos de idade foram compelidos a dar a mensagem de advertência. Noticiários sobre esses jovens pregadores permearam por muito tempo os jornais e a iraprensa sueca.14
As crianças eram muitas vezes chamadas "pregadores do arrependimento". Alguns diziam que elas estavam acometidas pela doença da "pregação doentia" e as autoridades tentavam isolá-las no caso da "doença" ser "contagiosa e se espalhar epidemicamente para outras crianças". Algumas eram punidas severamente. Aquelas afetadas pareciam estar normais exceto quando movidas pela invisível força a chamar por arrependimento. Milhares vinham para ouvir sua forte mensagem. Nos dias 6 e 7 de fevereiro de 1842, uma menina pregadora foi visitada por três a quatro mil pessoas.15
Muitos que ouviram as mensagens prontamente renunciaram o pecado. Com duas semanas de pregação e de chamado ao arrependimento, setenta destilarias fecharam as portas e deixaram de funcionar.16
Em 1843, o Dr. Sven Erik Skõldberg, oficial médico da província de Jõnkoping de 1834 a 1864, e depois diretor médico do famoso Hospital Serafimer de Estocolmo, publicou um artigo científico sobre o fenômeno. De acordo com o Dr. Skõldberg, as crianças "opunham-se a todo tipo de vida imoral, bebedices, danças, e todos os tipos de vícios, e pediam ao povo que as julgassem à luz dos Dez Mandamentos. Elas diziam não ser pregadoras, mas que haviam sido enviadas pelo Senhor para chamar o povo ao arrependimento, e que ninguém, nem mesmo os anjos, sabem a hora exata do dia do julgamento...
"O chamado ao arrependimento que eu ouvi era tão puro que ninguém,... com a Bíblia nas mãos, podia criticá-las, muito menos dizer que o que diziam era heresia."17
Uma das evidências de que uma pessoa está sob o controle especial do Espírito de Deus e sendo usada como Seu porta-voz é o fato de que algumas vezes ela pode não estar respirando. O profeta Daniel não respirou enquanto estava em visão (Dan. 10:8, 17). Essas crianças predadoras também não respiravam enquanto pregavam, de acordo com as observações do Dr. Skõldberg, mesmo quase não crendo no que via. Ele disse: "Respiração não pode ser observada, muito embora sem dúvida elas precisem respirar." Ele desafiou os maiores teólogos e doutores a explicar o fenômeno por meios naturais; Ele mesmo havia "rejeitado as vozes dessas crianças como sendo heréticas e de espíritos fanáticos..." Porém, finalmente "estava convencido de que nem uma simples palavra... havia sido escolhida por elas — porque a mensagem vinha de dentro como uma fonte a jorrar. Eu me arrependo de minhas duras opiniões e continuo estarrecido..."18
O grande terremoto de 1755, o escurecimento do Sol e da Lua em 1780, a chuva de estrelas em 1833, e a pregação mundial do Segundo Advento, todas no curto período de oitenta e cinco anos, produziram um despertamento religioso que moveu centenas de milhares de homens e mulheres ao redor do mundo. Muitos tremeram, pesquisaram as Escrituras, e abandonaram seus caminhos pecaminosos para seguir a Cristo.
Na Europa, o despertamento interdenominacional foi sentido primeiramente entre ministros e teólogos do clero das denominações protestantes. Em 1844, setecentos ministros da Igreja da Inglaterra, juntamente com ministros de outras vinte nações dominantes, estavam pregando a mensagem do Advento.
Na América do Norte
Nos Estados Unidos, o despertamento incluiu não somente ministros mas também cinqüenta mil pessoas leigas. Nesse país, uma figura dominante na pregação do Advento foi um batista leigo, (que em 1833 foi licenciado como ministro) chamado Guilherme Miller. Começando com 34 anos de idade, e durante seis anos (1816-1822), Miller devotou tempo integral ao estudo da Bíblia. Deixando de lado comentários bíblicos e, tanto quanto podia, todos os tipos de idéias preconcebidas, ele começou uma abarcante investigação dos ensinos sagrados, usando somente a Bíblia, as referências de margem, e uma Concordância de Cruden. Por vezes achou-se distante de algumas teologias populares usadas em seus dias. Ele chegou à conclusão de que Cristo retornaria em breve. Durante nove anos, Miller, em cartas e conversas particulares, deixava transparecer suas expectativas.
Em agosto de 1831, com quase cinqüenta anos de idade, Miller se convenceu de que deveria ajudar a advertir o mundo. "Eu não posso ir, Senhor" ele disse. "Sou muito velho. Eu não sou um pregador." Porém sua convicção persistia. Um dia, para acalmar a consciência, fez uma promessa. Iria repartir suas descobertas somente se recebesse um convite para fazê-lo. Dentro de meia hora, seu sobrinho, Irving Guilford, entrou e o convidou para pregar na Igreja Batista de Dresden, pois o pastor estava ausente.
Após o primeiro sermão - de Miller, seus ouvintes insistiram para que continuasse os estudos com eles durante aquela semana. Ao voltar para casa, encontrou outro convite para falar em Poltney, Vermont, a poucas milhas d& distância. Através de convites, ele pregou centenas de sermões em Nova Inglaterra, Canadá, Ohio e Maryland.* Em 1834, entregou sua vida à pregação, e durante os próximos nove anos ele pregou quatro mil sermões em quinhentas cidades e vilas, e ainda tinha duas vezes mais convites caso pudesse atendê-los.
Até o ano de 1840, Miller era quase a única voz a proclamar a mensagem do Advento na América do Norte. Mas então, trezentos ministros protestantes uniram-se a ele; viajaram pelo país dando palestras sobre as profecias bíblicas e o final do mundo. Na primavera de 1844, um desses ministros já havia ministrado mais de três mil palestras sobre o Advento. Por causa da liderança de Miller, seus ministros e os cinqüenta mil leigos que aceitaram a mensagem do Advento passaram a ser conhecidos como Milleritas. Eles criam, como todos os demais, que o Segundo Advento de Cristo seria um retorno literal e pessoal. Entretanto, diferente de muitos protestantes de seu tempo, criam que o Segundo Advento era iminente e que o ser humano não deveria postergar para o futuro a reforma e o reavivamento necessários para o encontro com Cristo.
Com essa fervente mensagem trazendo reavivamento onde quer que fosse ouvida, os pregadores milleritas eram muito bem recebidos nos púlpitos das igrejas protestantes da América. E muitos, após isso, receberam credenciais de ministros em suas respectivas igrejas. Entretanto, seus conceitos sobre a Segunda Vinda de Cristo e o final do mundo não estavam em harmonia com os defendidos e cridos pelo mundo protestante da época. Logo, tensões apareceram e, na metade de 1844, muitos milleritas foram colocados para fora de suas igrejas.
O Grande Desapontamento
No cuidadoso estudo de Miller sobre o "tempo" nas profecias de Daniel e Apocalipse e os textos relacionados — focalizando Daniel 8:14, ele descobriu um tempo, um período profético. Esse período atravessava 2.300 dias proféticos (anos — Núm. 14: 34; Ezeq. 4:6). O início fora em 457 AC e deveria terminar 2.300 anos mais tarde com um grande evento, a purificação do Santuário (Dan. 8:14). Miller cria que o período deveria terminar "entre 21 de março de 1843 e 21 de março de 1844" (período referente ao ano de 1843-no calendário judaico).20
Estudos adicionais, entretanto, convenceram-no, no começo de outubro de 1844, de que a purificação do Santuário deveria ter lugar no dia 22 de outubro de 184421 — o dia anual, considerado santo, em que o antigo santuário judeu era purificado: Yon Kippur, ou Dia da Expiação. Porém, o evento de 22 de outubro de 1844 não podia ser a purificação do santuário judeu (Templo). Ele havia sido destruído pelos romanos em 70 AD. Entretanto, em vez de estudar as Escrituras para ver que "purificação" seria e qual era o "santuário" mencionado, Miller assumiu, assim como seus contemporâneos, que o "santuário" de Deus na era Cristã era a própria Terra. Dr. C. Mervyn Maxwell, diretor da cadeira de História da Igreja da Universidade de Andrews, descreve o que para muitos foi o aguardar e o desapontamento de 22 de outubro de 1844. Ele diz:
"Guilherme Miller estudou-o meticulosamente, orou intensamente a respeito e depois escreveu com alegria: 'Vejo uma glória no "sétimo mês" como nunca vi antes. Estou quase no lar, Glória! Glória! Glória!'
"22 de outubro! Somente alguns dias até o fim.
"Que tempo solene para se viver!
"Ao se esgotarem os últimos dias do tempo, os comerciantes adventistas fecharam seus estabelecimentos; mecânicos trancaram suas oficinas; empregados desistiram de seus empregos. Em campais, dezenas confessavam suas faltas e uniam-se em oração. Grandes somas eram doadas para que os pobres pudessem liquidar suas dívidas, bem como para a publicação de literatura — até que os editores dissessem que. não precisavam mais, o que fez muitos doadores em potencial retirarem-se com pesar.
"No campo, alguns fazendeiros abandonam suas plantações para demonstrar sua fé...
"Em Filadélfia um alfaiate na Rua Cinco fecha sua oficina 'em homenagem ao Rei dos reis que aparecerá no dia vinte e dois de outubro..."
"Impressoras a vapor operam dia e noite produzindo o Mid-night Cry e outras pulicações...
"Antecipação. Publicação. Preparação. Consagração. O auge no final.
"15 de outubro, sete dias para o fim. 16 de outubro, seis dias. 17 de outubro. L8 de outubro. 19 de outubro.
"No dia 19 de outubro as impressoras pararam de rodar. A grande tenda havia sido dobrada pela última vez. Os pregadores haviam retornado para seus lares a fim de estarem com os familiares. Josué V. Himes apressou-se para Low Hampton a fim de estar com Miller.
"Dentro do movimento os crentes aguardavam com alegre expectativa. A adolescente Ellen Harmon escreveu depois: 'Este foi o ano mais feliz de minha vida. Meu coração estava cheio de feliz expectativa.'
"O mundo exterior esperava em suspense. Milhares que nunca se haviam unido ao movimento examinavam o coração com temor de que fosse verdade.
"20 de outubro. 21 de outubro. 22 de outubro de 1844.
"Ao raiar o dia 22 de outubro os mileritas reuniram-se em grupos pequenos e grandes; em seus tabernáculos, em igrejas, em casas particulares; em reuniões solenes de oração e alegres de louvor. Em Low Hampton, Nova Iorque, os amigos de Miller reuniram-se no bosque ao lado de sua casa, no que hoje se conhece como as Rochas da Ascensão. Eles vigiaram todo o dia, pois não sabiam .a que hora seu Senhor haveria de vir.
"O Sol ergueu-se no oriente, 'como um noivo que sai de seus aposentos'. Mas o noivo não ""apareceu.
"Permaneceu no meridiano, quente e comunicador de vida... Mas o Sol da Justiça não apareceu.
"Escondeu-se no ocidente, flamejante, cruel, 'terrível como um exército com bandeiras'. Aquele que Se assenta sobre o cavalo branco não retornou como o líder das hostes celestiais.
"As sombras do ocaso estendiam-se serena e friamente por sobre a terra. As horas da noite passavam vagarosamente. Em desconsolados lares de milleritas, os relógios assinalaram doze horas da meia-noite. 22 de outubro havia terminado. Jesus não viera. Ele não voltara!"22
Quando Cristo não veio em 22 de outubro, muitos não-crentes ridicularizaram o millerismo e suas pregações das profecias sobre o breve retorno de Cristo, e declararam ser este um movimento falso. Após o grande desapontamento, o movimento millerita começou a fragmentar-se. Enquanto alguns crentes escolheram outra data para a vinda de Cristo, outros, ridicularizados, abandonaram completamente a fé no Advento. Outros ainda filiaram-se a novos movimentos.
Outro grupo decidiu reestudar intensivamente as profecias para ver se poderiam descobrir por que Cristo não havia retornado como haviam esperado. Eles reexaminaram as Escrituras que apontavam para 22 de outubro de 1844 como a data para a purificação do santuário. Eles também haviam aceito a opinião popular de que a Terra era o santuário de Deus, e haviam assumido que a purificação deveria referir-se à volta de Cristo à Terra com fogo no Dia do Julgamento. Seu reestudo de todas as Escrituras relacionadas com a cronologia do texto lhes assegurava da exatidão da data. Entretanto, ao examinarem as Escrituras relacionadas com as palavras "santuário" e "purificação", eles descobriram uma importante relação entre o santuário ou tabernáculo terrestre descritos nos livros do Antigo Testamento, Êxodo e Levíticos, e um santuário celeste, descrito no livro de Hebreus, em o Novo Testamento.
O grupo, reestudando as profecias, viu em Hebreus 8 e 9 (especialmente Hebreus 9:23) que a purificação do santuário terrestre pelos sacerdotes judeus dos tempos antigos (Lev. 16), simbolizava o trabalho de Cristo como Sumo Sacerdote do homem no santuário celeste, e de que Ele começou uma fase especial de Seu trabalho em 1844, preparatória para Seu retorno à Terra.
Sendo assim, eles confirmaram ainda mais sua crença de que à Bíblia deve ser dada a oportunidade de ser sua própria expositora, e que a cada Escritura relacionada deve ser permitida adicionar sua interpretação ao verso estudado. Eles concluíram que cada suposição, cada crença, deve ser testada nas Escrituras e deve ser deixada de lado se não for aprovada.
Referências:
1. Our Firsl Ceutury. pág. 89
2. Ibid., pág. 90
3. Ibid.
4. Ibib., pág. 329
5. Ibid.. pág. 330
6. The Greal Second Advém Muvemenl. pag. 96
7. Our First Ceuturv. págs. 330-331
8. Ibid.. pág. 330
9. The Telescope. May-June 1940
10. Our First Century, pág. 330
11. The Telescope. May-June 1940
12. The Great Secotld Advenl MovemeM, pág. 140
13. Afumbladet (Stockholm), Februarv 23, 1842
14. Ibid., December 16, 1842
15. Wexiti-Bludel. March 4, 1842
16. Svenskt Bio^rafiskt Lexikon, Ny Fóljd, 10 bd., pag. 32
17. Ibid.. S 30-31
18. Ibid., S. 27-31. 36
19. A Fé Profética de Nossos Pais, vol. 4, págs. 784-826
20. Ibid., pág. 794. Veja também vol. 2, págs. 196-199; vol. 4, págs. 784-826
21. Ibid., vol. 4, págs. 810-814; 819-820
22. História do Adventismo. págs. 32-34