Por Ralph Larson (RA, out/1988)
Três Grandes verdades bíblicas unem a experiência da igreja no Novo Testamento com a experiência da igreja dos últimos dias — a expiação, o selamento e as chuvas têmpora e serôdia.
A Expiação
Cristo fez expiação quando morreu no Calvário como sacrifício por nossos pecados e deste modo nos reconciliou com Deus (II Cor. 5:18; Rom. 5:18). Esta fase sacrificial da expiação foi perfeita, plena e completa (Heb. 9:26). Todavia, restava um ministério sacerdotal ulterior daquela mesma expiação no santuário celestial.
Quando Cristo intercede diante de Deus com os méritos de Sua morte em favor do pecador penitente, Ele efetua a expiação pela mediação, porque Sua intercessão reconcilia o crente com Deus. Em 1844 Cristo entrou no Lugar Santíssimo do santuário celestial para levar a termo o Seu ministério final — expiação por juízo (o antí-tipo do Dia da Expiação. Lev. 16).
Este ministério resultará na solução do problema do pecado e na reconciliação com Deus de todas as coisas que estão no Céu e na Terra (Efés. 1:10). O aspecto final da expiação de Cristo continuará até que o Seu ministério sacerdotal esteja concluído e saia o decreto que lemos em Apocalipse 22:11, 12.
Este conceito de expiação sacerdotal é escriturístico. Nos primeiros 15 capítulos de Levítico encontramos mais de 15 descrições de sacrifícios (ofertas pelo pecado), sendo todas elas tipos ou símbolos do sacrifício expiatório de Cristo na cruz. Em cada uma destas descrições vemos que o sacerdote "fará expiação" por ele, ou por ela, ou por eles, seja qual for o caso. Esta expiação era feita em qualquer dia em cada dia durante o ano.
Quando continuamos no capítulo 16 lemos de um Dia da Expiação que ocorria apenas um dia em cada ano. Esta descrição relata que cinco vezes é feita uma expiação pelo santuário e pelo povo — apesar do fato de que uma expiação já havia sido feita pelo povo anteriormente durante o ano em que eles traziam seus sacrifícios ao santuário.
Era esta expiação descrita em Levi tico 16 uma negação do valor dos sacrifícios expiatórios e mediação anteriores? De modo algum; o próprio Deus estabeleceu o processo e Ele mesmo aplicou a palavra expiação em seus vários aspectos.
Semelhantemente, nossa designação da segunda fase do ministério sacerdotal de nosso Senhor no santuário celestial como a expiação final em nenhum sentido deprecia o valor do sacrifício expiatório de Cristo na cruz.
Escreveu Paulo em I Coríntios 15: "E, se Cristo não ressuscitou, é vão a nossa pregação e vã a vossa fé" (verso 14). "E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados" (verso 17).
Conseqüentemente, todas as fases da expiação são necessárias. Conquanto alguns em nosso tempo neguem o valor expiatório do sacrifício de Cristo e outros neguem o valor expiatório do Seu ministério sacerdotal, nós adventistas do sétimo dia, seguindo estritamente as Escrituras, aceitamos a ambos. E agindo assim vemos uma conexão entre a experiência da igreja do Novo Testamento e a igreja dos últimos dias, da qual fazemos parte.
O Selamento
Ao estudar o sábado, nossos pioneiros adventistas descobriram que o mandamento sabático é o selo de Deus em Sua santa lei, sendo que ele é a única parte da lei que O identifica como Criador do Céu e da Terra.
Raciocinaram, portanto, que o sincero e leal seguidor de Jesus que guarda o sábado tem o selo de Deus. Por isso eles tomaram a sério o sábado com grande afeição e o guardaram com deleite, vendo-se a si mesmos como estando repetindo a experiência do Novo Testamento. Amavam o sábado e falavam muitas vezes do seu precioso valor como um sinal entre eles e o Senhor que os santificava (Ezeq. 20:12, 20).
Nossos pioneiros viram o tempo da expiação final (de 1844 até o fim do tempo da graça) como o tempo do selamento. E divisaram a mensagem que pregavam, convidando o povo a prestar obediência a todos os mandamentos de Deus, como a mensagem do selamento.
As Chuvas Têmpora e Serôdia
A terceira verdade que une a igreja do Novo Testamento com a igreja dos últimos dias é a da chuva têmpora e serôdia.
"O derramamento do Espírito nos dias dos apóstolos foi o começo da primeira chuva, ou têmpora, e glorioso foi o resultado" (Atos dos Apóstolos, pág. 54).
Esse glorioso resultado foi visto em uma maravilhosa colheita de pessoas. Do registro de Atos podemos facilmente visualizar que uns 20.000 ou mais aceitaram a mensagem do Salvador ressurreto e Lhe entregaram a vida dentro de um breve espaço de tempo sob a influência da primeira chuva do Espírito Santo.
Que dizer, então, da chuva serôdia? O resultado não será menos glorioso!
Diz Eilen White: "A grande obra do evangelho não deverá encerrar-se com menor manifestação do poder de Deus do que a que assinalou o seu início. As profecias que se cumpriram no derramamento da chuva têmpora no início do evangelho, devem novamente cumprir-se na chuva serôdia, no final do mesmo....
"Agora os raios de luz penetram por toda parte, a verdade é vista em sua clareza, e os leais filhos de Deus cortam os liames que os têm retido. Laços de família, relações na igreja, são impotentes para os deter agora. A verdade é mais preciosa do que tudo o mais. Apesar das forças arregimentadas contra a verdade, grande número se coloca ao lado do Senhor" (O Grande Conflito, págs. 617, 618).
Vemos assim estreito paralelismo no tempo da expiação final, do selamento e da chuva serôdia. A experiência da igreja e de seus membros durante esse período de crise da história terrestre é colocada diante de nós com uma abundância de ênfase e clareza.
Primeiro, é um tempo de responsabilidade. Devemos lembrar-nos de que a crescente luz e oportunidades espirituais trazem um aumento correspondente de responsabilidade. Este princípio tem sido sempre uma parte do plano da salvação.
"Nossas responsabilidades são exatamente proporcionais à nossa luz, oportunidades e privilégios" (Testimonies, vol. 4, pág. 416).
Escreve Ellen White: "Não estamos vivendo na época em que viveram nossos pais. Deus lhes concedeu os tesouros da sabedoria que, através da manifestação do Espírito Santo e pelo testemunho e exemplo de Seus filhos de geração em geração, vêm sendo transmitidos em toda a linha até ao nosso tempo. Temos toda a luz que eles tiveram, e luz adicional está brilhando continuamente e brilhará mais e mais até ser dia perfeito. Esta geração é responsável, não somente por toda a luz que Deus tem comunicado às gerações passadas por intermédio do Seu Espírito e de Sua Palavra, mas pela luz mais abundante que agora está brilhando. Não podemos ser aceitos e honrados por Deus prestando o mesmo serviço e fazendo as mesmas obras que nossos pais fizeram. A fim de sermos abençoados por Deus como eles foram, devemos ser fiéis em aproveitar-nos da crescente luz, como eles foram fiéis em aproveitar-se da luz que Deus lhes concedeu" (Review and Herald, 5 de janeiro de 1886).
Segundo, é um tempo de urgência. Não pode haver nenhum equívoco na urgência com que a serva do Senhor apela a nós para que não protelemos aquela obra espiritual que deve ser feita agora e que não poderá ser feita depois de haver passado este tempo especial.
"Agora, enquanto nosso grande Sumo Sacerdote está a fazer expiação por nós, devemos procurar tornar-nos perfeitos em Cristo" (O Grande Conflito, pág. 628).
"O tempo do selamento é muito curto, e logo passará. Agora, enquanto os quatro anjos estão contendo os ventos, é o tempo de fazer firme a nossa vocação e eleição" (Primeiros Escritos, pág. 58; grifos supridos).
"Se não progredirmos, se não nos colocarmos na atitude em que tanto possamos receber a chuva têmpora como a serôdia, perderemos nossa alma e a responsabilidade jazerá à nossa porta" (Testemunhos para Ministros, pág. 508).
Terceiro, deve ser um tempo de vitória. O tema dos escritores do Novo Testamento, especialmente do apóstolo Paulo, era vitória pelo poder de Cristo — vitória sobre as circunstâncias, vitória sobre a oposição, vitória sobre o eu, sobre as tentações e mesmo sobre a própria morte (I Cor. 15:51-58). Sendo que Paulo selou seu testemunho com sangue, provavelmente não houve nenhum escritor cristão que tivesse tão irresistível senso de vitória, tão "complexa vitória", como ele teve até a vinda de Ellen White. Esta humilde e escolhida mensageira da igreja remanescente escrevia incessantemente sobre a vitória pelo poder de Cristo!
Um exame recente de aproximadamente 10.000 páginas do material que compõe seus principais livros revelou mais de 1.000 declarações de vitória, uma média de uma para cada 10 páginas de material escrito. Exemplo semelhante pode ser encontrado em seus artigos de revistas. Ela fazia soar a nota de vitória com tremendo poder. Agora, no tempo da expiação final; agora, no tempo do selamento; agora, no tempo da chuva serôdia, a vitória está inteiramente à disposição de todos os que sinceramente a desejam e ardentemente a buscam do Senhor.
"Pelo poder do Espírito Santo deve a imagem moral de Deus ser aperfeiçoada no caráter. Devemos ser completamente transformados à semelhança de Cristo" (Ibid., pág. 506).
Duas frases que ocorrem freqüentemente nas declarações de vitória de Ellen White são as expressões "ampla provisão" e "mais do que vencedores".
"Amplas provisões foram feitas para que todo filho e filha de Adão obtenha individualmente um conhecimento da vontade divina, aperfeiçoe um caráter cristão e seja purificado mediante a verdade" (Testimonies, vol. 2, pág. 644).
"Deus tem dado o Seu Espírito como um poder suficiente para subjugar todas as suas tendências hereditárias e cultivadas para o mal. Pela entrega da mente ao controle do Espírito, você crescerá à semelhança do caráter perfeito de Deus e se tornará uma instrumentalidade por meio da qual Ele poderá revelar Sua misericórdia, bondade e amor. Sejam quais forem os seus defeitos, o Espírito Santo os revelará e lhe será dada a graça para vencê-los. Por meio dos méritos do sangue de Cristo você será um vencedor, sim, mais do que vencedor" (Youth's Instructor, 2 de out. de 1902).
Em parte alguma Ellen White apresentou mais fortes afirmações de vitória do que em suas mensagens à juventude da igreja. Nos artigos que ela escreveu para o Youth's Instructor [Instrutor da Juventude] através de sua longa existência, encontramos mais de 500 declarações de vitória. Em sua última mensagem à juventude encontramos estas palavras:
"Sinto um ardente desejo de que cada um de vós seja vitorioso na luta contra o mal.... Se pedirdes a Deus que vos ajude a vencer o que é dessemelhante de Cristo em vossas disposições, Ele vos preparará para a entrada no Céu, onde nenhum pecado pode entrar.... Se vos entregardes completamente a Ele, sereis vencedores na guerra contra o pecado.... Quando lutardes para vencer tudo o que desagrada a Deus, anjos do Céu vos ajudarão.... Ser-vos-á dado poder do Alto Descobrireis que Ele vos dá força diária para vencer.... Podereis vencer o mal — maus pensamentos, maus desejos — pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do vosso testemunho" (Ibid., 9 de junho de 1914).
Estamos vivendo no tempo da expiação final, do selamento do povo de Deus e da chuva serôdia. É um tempo de grande luz espiritual e de grande responsabilidade espiritual. É um tempo que tem sido prolongado, pela misericórdia divina. Mas as extensões devem ser limitadas. Elas não podem continuar infindavelmente. O ponto terminal logo deverá ser atingido. Estaremos preparados? A decisão é nossa. Ampla provisão tem sido feita. Aproveitar-nos-emos disto?
Perguntas para discussão:
1. Por que acha você que Cristo designou uma segunda fase no Céu para a Sua obra expiatória?
2. Traz-lhe hoje o ministério celestial de Cristo temor ou felicidade? Por quê?
3. Como preparará a chuva serôdia a igreja para o regresso de Jesus?
4. Existe qualquer conexão entre o santuário e o Espírito Santo?
5. Está o Espírito Santo envolvido apenas na justificação ou também na santificação?
6. Por que disse Ellen White que a mensagem de justiça pela fé em 1888, era o início da chuva serôdia e do alto clamor? (Veja Mensagens Escolhidas, livro 1, pág. 363 e Primeiros Escritos, pág. 271.)