Por Marcio Dias Guarda (RA, Jul. de 1988)
O Apocalipse finalmente está ganhando a posição que deve ocupar em nossa pregação evangelística. Isso é ótimo. Mas o Apocalipse também deve ser um livro de inspiração e conforto para os santos. E talvez essa dimensão ainda precise ser captada e melhor explorada por cada um de nós.
É ao lado devocional, sublime e desafiador desse livro tão importante que se referia Ellen White quando disse: "Na Bíblia estão reveladas visões da glória futura, cenas pintadas pela mão de Deus, e que são uma preciosidade para Sua igreja." — Atos dos Apóstolos, 601. Uma rápida recapitulação dos capítulos 4 e 5 pode demonstrar esse aspecto brilhante mas freqüentemente esquecido do Apocalipse:
O capítulo 4 começa falando de "uma porta aberta no Céu"e João sendo chamado para ver e ouvir as cenas de adoração e louvor celestiais. Acontece com ele o oposto do que ocorreu com Adão e Eva ao pecarem. Estes foram afastados pelos querubins da "porta do Céu" enquanto, pelos mesmos querubins, João é convidado a aproximar-se.
Só mesmo a misericórdia de Deus para antecipar uma visão do Céu a quem está cansado e sobrecarregado aqui na Terra! Isso dá aquele ânimo suplementar, revigora a esperança, confirma a nossa fé!
Em seguida, João vê o trono, o Pai assentado e o arco-íris: a majestade e a misericórdia de Deus salientadas. Nas pedras preciosas, jaspe (diamante translúcido), sardónica (vermelha) e esmeralda (verde), os símbolos do poder, amor e justiça, respectivamente.
No verso 4, a presença de pessoas, os Por Márcio Dias Guarda 24 anciãos, representantes dos salvos (12 + 12) representando as igrejas do Velho e do Novo Testamentos.
Relâmpagos, vozes, trovões e fogo (verso 5); são os mesmos elementos que despertam medo nos pecadores os que convidam os santos à adoração! Diante do trono, o mar de cristal. Na Terra, mar é sinônimo de turbulência, é indomável; no Céu, perfeitamente subjugado, só reflete a beleza.
Em seguida (versos 6-8), vem a descrição dos querubins; seres sempre associados ao lugar do encontro com Deus.
Com esses elementos dá-se a gloriosa encenação apocalíptica aos olhos de João; a adoração celestial que deve ser o modelo e inspiração para a nossa vida desde agora. E adoração e testemunho são exatamente as atividades principais de todas as criaturas de Deus, tanto as celestes quanto as terrestres.
A adoração no Céu é contínua e progressiva. E não há forma mais própria que a música para expressar sentimentos. A partir do capítulo 4:8, sucedem-se os cânticos. O primeiro deles, apresentado pelo quarteto de querubins, tem como tema a santidade e a eternidade de Deus. Deus é adorado pelo que Ele é.
Nos versos 10 e 11, temos o segundo cântico, pelos 24 anciãos que adoram a Deus pelo que Ele fez, pela criação. Eles prostram-se diante do trono (O louvor é mais sublime quando apresentado na posição que denota a maior humildade.) e tiram suas coroas, ou símbolos de dignidade, indicando completa dedicação a Deus.
No terceiro cântico (Apoc. 5:9 e 10), o quarteto de querubins e o conjunto de anciãos se unem formando um conjunto misto, para entoar o chamado novo cântico, porque o tema é a nova obra de Deus, a redenção.
Para o quarto cântico (Apoc. 5:11 e 12), somam-se aos já citados milhares e milhões de anjos, formando um grande coral para louvara Cristo pela Sua vitória sobre o pecado e Sua dignidade para utilizar todo o poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor — os sete atributos ou dons de Cristo.
A grande apoteose é alcançada no verso 13, com o cântico universal de todas as criaturas, o que pode ser considerado um cântico congregacional, já que todos participam. É o cumprimento do último versículo do Salmo 150: "Todo ser que respira louve ao Senhor."
Como se pode notar, esses cânticos contêm a mensagem básica do Apocalipse e a transmitem de uma forma sonora e inspiradora. Como terá se sentido João depois de ver e ouvir essa adoração celestial? Como nos sentimos com a nossa adoração hoje? "Não conseguimos a centésima parte das bênçãos que devemos obter das nossas reuniões de culto a Deus. Nossas faculdades perceptivas precisam ser aguçadas. A comunhão mútua deve encher-nos de regozijo. Com a esperança que temos, por que não há de nosso coração abrasar-se do amor de Deus?" — Testemunhos Seletos, Vol. 3, pág. 28.
A adoração é uma preferência ardente pela perfeição mais elevada, na beleza, bondade e realidade. É, portanto, uma peregrinação deste mundo para o celestial, da perspectiva humana para a divina, do homem para Deus. Por isso, W. T. Conner considerou que "a primeira ocupação da igreja não é a evangelização, nem as missões, nem a assistência social; é a adoração".
"Se permitíssemos que nosso espírito se demorasse mais em Cristo e no mundo celestial, encontraríamos poderoso estímulo e auxílio em pelejar as batalhas do Senhor. O orgulho e o amor do mundo perderão o poder ao contemplarmos as glórias daquela Terra melhor, que tão cedo será nossa pátria. Ao lado da beleza de Cristo, todos os atrativos terrestres parecerão de pouco valor." — Mensagens aos Jovens, 112 e 113.
Essa é a outra visão do Apocalipse, que pode fazer dele uma mensagem tão útil a nós quanto a que estamos apresentando em nosso evangelismo.