Os adventistas vivem no limiar dos tempos. Cremos que o presente está cheio de significado divino; e confiamos no futuro, que pertence a Deus. Estamos em tempo de espera, aguardando o retorno de nosso Salvador Jesus Cristo.
Lemos que antigamente os filhos de Issacar eram "conhecedores da época" (I Crôn. 12:32). Jesus censurou os líderes religiosos de Seus dias porque eles não discerniam os sinais dos tempos (Mat. 16:1-3). Ainda estamos atentos à marcha dos acontecimentos? Aqui estão cinco fatos, cuja evolução merece nossa atenção:
1. O ressurgimento do interesse religioso
Vinte anos atrás os teólogos que pregavam "Deus está morto" pareciam estar na crista do pensamento religioso. Harvey Cox escreveu um livro de sucesso, intitulado The Secular City, no qual retratou a sociedade do futuro — uma sociedade sem Deus. A revista Time saiu com uma capa preta, na qual se lia a manchete: "Está Deus morto?"
Deus não está morto, e sim a teologia que pregava tal idéia. Uma recente pesquisa do Instituto Gallup demonstrou que atualmente a metade dos americanos se acham mais inclinados a crer que a religião pode solucionar os problemas do mundo, do que há cinco anos. "Estamos presenciando um crescente interesse e envolvimento religioso", disse o Dr. Gallup. "O povo está dizendo que a religião pode resolver os problemas do mundo, e eles estão se voltando da ciência para a religião em busca de soluções." Aproximadamente 56 por cento dos entrevistados indicaram que confiam mais em Deus agora do que há cinco anos, e de cada dez adultos quatro afirmaram estar envolvidos em alguma atividade religiosa.
Outro resultado surpreendente foi obtido nas universidades. A participação em atividades religiosas por parte de estudantes aumentou de 39 para 50 por cento. "A proporção de estudantes universitários que afirmam que suas convicções religiosas se tornaram mais fortes desde que entraram na faculdade, alcança o dobro da proporção de estudantes universitários que dizem que suas convicções religiosas enfraqueceram", relata Gallup.
E Harvey Cox tem um novo sucesso de livraria sobre a religião na era pós-secular.
Dentre os grupos cristãos, os pentecostais e evangélicos são os que crescem mais rapidamente. Sua expansão contrasta com a estagnação das igrejas protestantes e católicas nas Américas do Norte e do Sul.
O reavivamento do interesse na religião não se acha restrito ao cristianismo. Nos últimos 20 anos temos presenciado o ressurgimento do islamismo, hinduísmo, e budismo. Novas seitas têm surgido, e algumas delas conseguiram consolidar-se no ocidente.
Contrariando as predições, a religião constitui um poderoso elemento hoje. E acreditamos que ela se fortalecerá ainda mais, à medida que nossa era se encaminha para o seu final.
2. A influência do papado.
Em 7 de março de 1984 o Senado americano aprovou o estabelecimento de laços diplomáticos com a Santa Sé. A facilidade com que a emenda foi aprovada reflete a atual percepção da influência crescente do papa nas questões mundiais. Quando o Presidente Tru-man propôs um plano semelhante em 1951, a tribuna se opôs com tanta veemência que ele teve de retirá-lo. Mas em 1984 a emenda passou quase sem murmuração.
A Igreja Católica Romana tem em João Paulo II um líder carismático, inteligente, e politicamente ativo. Ele viaja pelo mundo. E uma figura imponente. Compreende o uso de símbolos e dos meios de comunicação de massa: sua impressionante atitude ao perdoar seu quase-assassino Mehmet Ali Agca, registrado pelas câmeras de televisão, provocaram uma matéria de capa na revista Time. Ele tem estendido os braços para os anglicanos, os luteranos, os ortodoxos, e também para os judeus e muçulmanos. Faz pronunciamentos sobre conflitos, problemas sociais e éticos; ele reprova e abençoa.
Atualmente o papado goza um prestígio e poder que há séculos não se via. Cremos que a sua influência crescerá ainda mais no futuro.
3. O declínio do protestantismo
Embora o interesse na religião esteja aumentando, de modo geral, o número de membros nas principais denominações protestantes está decrescendo. Essas igrejas têm procurado diminuir suas perdas através de fusões e confederações, como é o caso do Concílio Nacional de Igrejas e o Concílio Mundial de Igrejas.
Mas o Concílio Mundial de Igrejas não tem sido capaz de satisfazer as expectativas de seus membros. Embora tenha atraído muitos adeptos sinceros e bem-intencionados, para o seu ideal de uma igreja em Cristo, o Concílio se tornou politizado e unilateral em sua ênfase. Sua Sexta Assembléia, realizada em 1983, em Vancouver, requereu muitos preparativos e elevadas despesas, mas recebeu pequena cobertura da imprensa. Sem ter a Igreja Católica como membro, o Concílio Mundial de Igrejas parece desorientado, à procura de uma direção a seguir.
Mas quando o papa fala, o mundo presta atenção. E ele fala com freqüência. Não é de admirar, portanto, que os líderes protestantes considerem cada vez mais o Bispo de Roma como o cabeça da cristandade. Em 1982 ele viajou para a Inglaterra, e teve discussões históricas com o arcebispo de Canterbury. Ele foi o primeiro papa na história a pisar solo britânico. Até mesmo os luteranos procuram hoje uma aproximação com o catolicismo: após anos de estudo, uma comissão mista de teólogos luteranos e católicos chegou a um acordo sobre a doutrina da justificação pela fé, enquanto o papa aceitava o convite para pregar numa igreja luterana em Roma. Assim, não é de surpreender que em sua recente visita a Papua — Nova Guiné, ele tenha sido aclamado como "o homem de Deus número um".
É bom deixar claro que não tomamos parte em ataques contra cristãos de outras denominações. Respeitamos o direito de cada pessoa seguir os ditames de sua consciência, e reconhecemos que Deus tem filhos Seus em muitas igrejas.
Entretanto, lamentamos o declínio do protestantismo. Para nós, ele entrou numa penumbra da qual o poder e prestígio do catolicismo parece bem mais atraente. Entendemos que essa tendência prosseguirá ao enfrentarmos as dores de parto da nova era.
4. A proliferação de debates entre Igreja e Estado, nos Estados Unidos
"Nunca vi tanta polêmica entre Igreja e Estado. Isto está abrindo algumas velhas feridas entre protestantes e católicos, e entre o Norte e o Sul. Os temperamentos são explosivos", observa John Baker, conselheiro geral da Junta Batista de Deveres Cívicos.
Acha-se em discussão a proibição imposta pela Primeira Emenda da Constituição sobre as leis referentes à "oficialização da religião, ou proibindo o seu livre exercício".
Com respeito à "oficialização da religião", os defensores da separação entre Igreja e Estado advertem que após 40 anos de progresso, os Estados Unidos se arriscam a voltar aos dias em que o governo e a religião estavam interligados — em detrimento de seitas pouco ortodoxas e descrentes. Esses defensores afirmam que a religião está recebendo reconhecimento especial por parte do governo.
Mas os líderes eclesiásticos reclamam que os juízes e burocratas excederam seus limites, excluindo em grande parte a religião da vida da nação. Eles denunciam o fato de que o "livre exercício" se acha sufocado por uma onda de secularismo.
Exemplos do debate: a nomeação de um embaixador para a Santa Sé, a emenda sobre oração nas escolas, a isenção de impostos há muito desfrutada pelas igrejas, a pressão de líderes religiosos para a promulgação de leis reprimindo o aborto e congelando a produção de armas nucleares, o ensino de evolucionismo e criacionismo nas aulas de ciências, e muitas outras questões.
"As questões pendentes são de tão longo alcance, que os debates entre a Igreja e o Estado poderão se tornar ainda mais acalorados nos próximos anos", comentou um articulista. Como adventistas, acreditamos que isto realmente ocorrerá, à medida que a liberdade religiosa for mais e mais ameaçada.
5. A expansão do ocultismo
Esta é uma das mais alarmantes manifestações de nossos tempos. A geração que foi capaz de mandar seres humanos à Lua, e foguetes espaciais aos mais remotos pontos de nosso sistema solar, caiu vítima das ciências místicas.
A astrologia, essa pseudociência, está prosperando. Locutores anunciam pelo rádio a previsão do tempo, e o horóscopo do dia. Filmes, livros, e canções descrevem o mundo "do além" — do espaço exterior, onde seres extraterrestres perambulam, guerreiam, e do qual fazem visitas ao planeta Terra; ou o mundo interior — dos fenômenos psíquicos e manifestações espiritualistas. Até mesmo o satanismo é praticado abertamente. O sentimento de solidão e a alienação fizeram com que o homem moderno se voltasse para a religião alternativa do ocultismo.
Por mais de cem anos os adventistas do sétimo dia têm observado os sinais dos tempos. Temos predito que a religião, longe de definhar, desempenhará um papel preponderante nos eventos finais. Temos esperado que o papado desempenhe um papel dominante. Temos esperado que outros organismos religiosos se agrupem sob a liderança do papado. Nossa compreensão de Apocalipse 13 e 14 nos tem levado a prever a ocorrência de fenômenos espiritualistas, e uma união entre Igreja e Estado que será devastadora para a liberdade religiosa.
Às vezes, no passado, e ainda hoje, alguns adventistas têm sentido tendências para o sensacionalismo. Eles têm dado alarmes falsos com freqüência. Mas o tipo oposto de erro é igualmente mau: o de tornarmo-nos tão embevecidos com a rotina diária da vida, que deixamos de discernir os tempos.
Muita coisa aconteceu em nossa geração. Muita coisa está acontecendo hoje — nem sempre através de uma repentina manifestação que atrai nossa atenção, mas através do lento progresso da história, rumo ao seu grandioso clímax: o retorno de Jesus.
"Mediante os dois grandes erros
— a imortalidade da alma e a santidade do domingo — Satanás há de enredar o povo em suas malhas. Enquanto o primeiro lança o fundamento do espiritismo, o último cria um laço de simpatia com Roma. Os protestantes dos Estados Unidos serão os primeiros a estender as mãos através da voragem para apanhar a mão do espiritismo; estender-se-ão por sobre o abismo para dar mãos ao poder romano; e, sob a influência desta tríplice união, este país seguirá as pegadas de Roma, conculcando os direitos da consciência." — O Grande Conflito, pág. 587.
Será que discernimos os tempos?
(RA, jan/85) - W.G.J. D