Por Otoniel Tavares de Carvalho (RA, jan. de 1990)
Ela era bonita, muito bonita. Estava feliz e radiante, pois acabara de dar um passo decisivo em sua vida: ficara noiva. Seu rosto expressava toda a felicidade que lhe enchia o ser. Seu coração jubilava, por haver alcançado um objetivo importante. Ao seu lado, estava o noivo. Simpático, comunicativo, falava aos amigos do amor e carinho que tinha pela noiva.
Tempos depois, aquela bonita jovem foi encontrada entre lágrimas e decepções. O noivado acabara. Sonhos de um belo futuro se desvaneceram. O noivo descobrira que sua simpática e atraente noiva gostava de aventuras perigosas, distraindo-se em flertes apaixonados com outro rapaz. Assim acabou-se um noivado que todos imaginavam promissor e que levaria a um feliz enlace matrimonial.
A noiva do Cordeiro
A literatura bíblica e o linguajar cristão apresentam a Igreja de Deus como sendo a "noiva" do Cordeiro. Isto revela que Jesus e Sua Igreja mantêm um relacionamento íntimo e pessoal. Ao vir ao mundo, Jesus chamou Sua Igreja para que estivesse sempre ao Seu lado, acompanhando-O nas atividades diárias. Sua união com a Igreja era clara e visível.
João Batista, fiel amigo de Jesus, pôde testemunhar de sua fidelidade ao noivo. Isto é relatado pelo evangelista João. Alguns amigos e discípulos de João Batista viram que Jesus estava atraindo o interesse das multidões e fazendo muitos discípulos. Enciumados, correram até à presença de seu mestre para informá-lo do fato. Disseram-lhe: "Mestre, aquele que estava contigo além do Jordão, do qual tens dado testemunho, está batizando, e todos lhe saem ao encontro." João 3:26.
Ansiosos, aguardando uma resposta dura e enciumada de seu rabi, os discípulos de João Batista ouvem este belo testemunho de companheirismo e fé: "O homem não pode receber coisa alguma se do Céu não lhe for dada. Vós mesmos sois testemunhas de que vos disse: Eu não sou o Cristo, mas fui enviado como seu precursor. O que tem a noiva é o noivo; o amigo do noivo que está presente e o ouve, muito se regozija por causa da voz do noivo. Pois esta alegria já se cumpriu em mim." João 3:27-29.
João Batista estivera até ali acompanhando a "noiva", porém sabia que não era o noivo. Era amigo fiel. Companheiro. Precursor. Mas não era o noivo. Não tinha direito sobre a noiva. Não podia flertar com a noiva, tentando seduzi-la. Não devia forçar a atenção e o interesse da noiva para com sua pessoa.
O noivo, Jesus Cristo, foi fiel à Sua noiva por todo o tempo. Nunca lhe ofereceu motivos para ciúmes ou dúvidas quanto ao Seu sublime amor. Amou-a de tal maneira que "a Si mesmo Se entregou por ela, para que a santificasse... para a apresentar a Si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito." Efés. 5:25-27. Não lhe ofereceu um amor irresponsável, cheio de palavreado bonito. Provou Seu amor, oferecendo-Se como penhor e garantia de um amor não fingido. Foi um amor objetivo, dinâmico e prático.
Ausência do noivo
Depois de selar um compromisso de casamento com Sua noiva, através do "sangue da nova aliança", Jesus precisou ausentar-Se por algum tempo. "Quem casa, quer casa", diz um provérbio popular. E Jesus sabe isto. Por isso voltou à Casa Paterna, a fim de interceder pela noiva e lhe preparar o lugar ideal, onde possam viver juntos para todo o sempre. Não se tratava de uma separação-rompimento, mas de uma separação temporária, circunstancial. O amor que nutre pela noiva não permite que negue a palavra empenhada. Pois, antes de ir à Casa Paterna, prometeu: "Na casa de Meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, Eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E quando Eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para Mim mesmo, para que onde Eu estou estejais vós também." João 14:2 e 3.
Jesus ausentou-Se temporariamente de Sua noiva, mas não é um noivo omisso. Tomou todas as providências necessárias para que Sua noiva estivesse protegida e bem acompanhada. Sua ausência seria minorada pela companhia do Consolador, o Espírito Santo, Seu Irmão na Divindade, bem como pela presença dos Seus fiéis irmãos de humanidade. Eles cuidariam fielmente de Sua noiva.
Paulo, servo e apóstolo de Jesus Cristo, foi um zeloso companheiro do noivo. Certa vez, preocupado com o assédio que o inimigo número um fazia à noiva do Cordeiro, Paulo desabafou diante da noiva, dizendo-lhe: "Porque zelo por vós com zelo de Deus; visto que vos tenho preparado para vos apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo. Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também sejam corrompidas as vossas mentes, e se apartem da simplicidade e pureza devidas a Cristo." II Cor. 11:2 e 3.
Paulo notou os continuados flertes de Satanás com a Igreja de Jesus Cristo. Pensou na tragédia que seria ver a noiva, jovem e atraente, frágil na sua beleza, aceitar as seduções do diabo. Tremeu ao pensar nisto.
Flertes da noiva
A preocupação de Paulo tinha razão de ser. Profeticamente, ele anteviu os constantes assédios do diabo, tentando desviar a noiva de sua fidelidade a Jesus. Assim como tivera sucesso em seu flerte com Eva, levando-a ao adultério espiritual, afastando-a de seu compromisso de fidelidade a Deus, levando ao pecado o primeiro Adão (Gên. 3:1-6), Satanás não daria tréguas à Igreja, à noiva de Jesus Cristo, o segundo Adão.
Angustiado com o futuro da noiva, pois antevia ataques ferozes, Paulo orientou os pastores, dizendo-lhes: "Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a Igreja de Deus, a qual Ele comprou com o Seu próprio sangue. Eu sei que, depois da Minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas, para arrastar os discípulos atrás deles." Atos 20:28-30.
Desde o dia em que Jesus Se ausentou, muitos foram os ataques de Satanás à noiva do Cordeiro. Nem sempre a noiva se manteve fiel. Muitas vezes a noiva vacilou em sua fidelidade, e aceitou os flertes do diabo.
Ausente fisicamente, mas acompanhando em Espírito todos os passos de Sua noiva (Mateus 28:20), Jesus enviou algumas cartas à noiva, nas quais demonstrou toda Sua preocupação pela perseverança da noiva em se conservar fiel a Ele até o dia do casamento.
Noivo preocupado
Foram ao todo sete cartas que o noivo escreveu. Em algumas delas Ele elogia a firmeza e carinho da noiva; em outras, denuncia um amor fingido, aparente, morno. Deduz que a noiva está cedendo às seduções e galanteios de Seu maior rival, Satanás. Repreende-a por sua volubilidade. Porém, como a ama deveras, não mantém por muito tempo o sobrecenho cerrado (Lam. 3:31-33). Perfuma Suas cartas com promessas de perdão e amor.
Em Sua primeira carta (Apoc. 2:1-7), o noivo Jesus Cristo louva a determinação com que Sua noiva, a Igreja, resistiu às primeiras investidas do rival Satanás. Mas repreende-a carinhosamente por começar a ficar excitada pelos galanteios que o diabo lhe atira. Diz Ele: "Tenho, porém, contra ti, que abandonaste o teu primeiro amor." E, então, lembra-a dos dias felizes que tiveram juntos: "Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te, e volta à prática das primeiras obras."
A noiva recebe a advertência do Noivo e a compreende. Decide ficar fiel. Em Sua segunda carta, o Noivo elogia a fidelidade. (Apoc. 2:8-11). Nenhuma repreensão ela recebe. Só carinho e elogio.
Porém, muitos amigos da noiva (seus membros) ficam contra ela por causa de sua fidelidade. Satanás consegue atrair seus amigos, com o fim de levar a noiva à infidelidade. A noiva vacila. Cerca-se de falsos amigos que a levam à sensualidade. Algumas amigas (falsas idéias a respeito do Noivo) tentam manchá-la, pensando com isto prejudicá-la diante do Noivo, para que ela se torne abominável.
As cartas do Noivo têm abrangido um período muito longo, que mostram o interesse e a preocupação pelo bem-estar de Sua noiva. A última carta (Apoc. 3:14-22) é um misto de tristeza, reprovação de conduta e sentimentos de amor e bondade. Revela um Noivo ofendido pela conduta repreensível de Sua noiva. Mostra que a noiva não continuou fiel aos votos de pureza e castidade inicialmente propostos. A noiva flertou muito com o rival de Jesus Cristo.
Em seus flertes, a noiva trocou a segurança, a pureza e o conforto dos braços seguros de seu amado Noivo, entregando-se a um romance perigoso e comprometedor com Satanás. Com o rival de Jesus, a noiva passou a enfeitar-se de jóias, a usar roupas indecentes, a freqüentar lugares duvidosos, a viver uma vida de luxúria e infidelidade. Satanás embriagou a noiva com um forte vinho do erro e da mentira, tão abundantes em sua adega satânica. A noiva chegou a tal estágio de loucura e infidelidade, que disse ao Noivo: "Estou rica e abastada e não preciso de coisa alguma". Com esta declaração, ela queria dizer: "Meu amante me deu tudo o que eu precisava. Tenho tudo que quero. Não preciso mais da ajuda do meu Noivo."
Jesus Cristo, o Noivo da Igreja, ouviu essa infame declaração dos lábios daquela que era Sua amada, e ficou muito magoado. Isto era um repúdio a todo o amor que havia devotado a ela. Ferido em Seu amor, o Noivo desabafou: "Nem sabes que és infeliz, sim, miserável, pobre, cega e nua." "Tu estás sendo enganada. Alguém te embriagou. Alguém te deixou drogada. Meu rival fez tua cabeça e te pôs essas palavras na boca. Mas Eu posso te ajudar. Eu posso tirar-te dessa situação deprimente e vergonhosa, e colocar-te outra vez em teu devido lugar." Então o Noivo faz um plano de ação para tirar a noiva das garras do tirano rival. Diz Ele: "Aconselho-te que de Mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha de tua nudez, e colírio para ungires os teus olhos, a fim de que vejas."
É um plano especial, para salvá-la da morte eterna. Mas o Noivo quer deixar bem claro Sua intenção ao propor esse plano: é porque a ama muito, apesar do desprezo que sofreu. Ele diz: "Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zelosa, e arrepende-te."
A seguir, o Noivo se põe à disposição de Sua noiva. Diz que está à porta, desejando entrar. Quer vir até ao encontro da noiva, a fim de realizar a festa nupcial, o casamento, as bodas, o grande banquete do reencontro com Sua amada. Ele está saudoso, querendo que isto ocorra logo. Mostra-lhe isto, dizendo-lhe: "Eis que venho sem demora..." Apoc. 22:12.
A noiva recebe esse recado apaixonado de seu Amado, e sente que Ele tem razão. Seu conselho é "fiel e verdadeiro". Ela se afasta de seus flertes com Satanás, e volta a andar na companhia segura do Amigo do Noivo, o Consolador, chamado Espírito Santo de Deus. Sente-se saudosa de seu Amado. Deseja que Ele volte logo, e materialize sua maior aspiração: o casamento. Com isto em mente, e confiando plenamente nas palavras do Noivo, ela Lhe escreve algumas poucas palavras, ajudada pelo Amigo, que também está ansioso pelo retorno imediato do Companheiro Jesus. A mensagem é bem curta, e diz: "O Espírito e a noiva dizem: Vem." Apoc. 22:17.
Também esse é o clamor de todos os fiéis amigos do Noivo. Em uníssono eles clamam: "Vem logo, Senhor."