Por C. Mervyn Maxwell (RA, nov/83)
Os adventistas do sétimo dia são cristãos que existem com a finalidade de comunicar — em palavras e atos — uma mensagem especial sobre Jesus Cristo.
O apóstolo João, envolto em visão profética, viu o movimento adventista sob uma variedade de símbolos proféticos. Em Apocalipse 12:17 ele viu um povo a quem descreveu, na linguagem bíblica, como o "remanescente" da "semente" da mulher. Ele observou que estes guardavam os "mandamentos de Deus" e que tinham o "testemunho de Jesus Cristo".
Em Apocalipse 14:6-12 João viu o mesmo grupo simbolizado por três anjos, incumbidos da proclamação mundial do evangelho, da chegada do juízo, da queda de Babilônia, e da marca da besta. Ele os ouviu falando como "santos" que "guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus".
A ocasião em que esses três anjos, esses santos remanescentes, deviam surgir no cenário da ação foi especificado por João. Em Apocalipse 12 o remanescente aparece em sua descrição profética após a passagem dos 1.260 dias-anos, um período de tempo mencionado em Apocalipse como 1.260 dias, 42 meses, e "um tempo, tempos, e metade de um tempo".1 O período de 1.260 anos finalizou em 1798, durante a Revolução Francesa, um evento de escuro significado e influência mundial. Segundo Apocalipse 12, o remanescente devia se revelar após 1798. Em Apocalipse 14:6-12 a existência dos santos guardadores dos mandamentos é associada com o ministério dos três anjos. "Três anjos" significam "três mensageiros". O primeiro dos três anjos, embora pregando a mensagem do evangelho eterno, chama a atenção diretamente à chegada do período de julgamento. "E chegada a hora do Seu juízo", anuncia ele em alta voz para todos os habitantes da Terra.
Em Daniel 7:25 e 26 a chegada do juízo também ocorre após o período de 1.260 dias-anos. A ponta pequena persegue o povo de Deus e procura mudar as leis de Deus por "um tempo, tempos e metade de um tempo" (verso 25); porém "se assentará o tribunal para lhe tirar o domínio, para o destruir e o consumir até ao fim" (verso 26). Daniel 8:14 determina o início do juízo com maior precisão ao final dos 2.300 dias. A pesquisa teológica nos anos recentes tem confirmado outra vez que os 2.300 dias-anos de Daniel 8:14 encerraram-se em 1844, apenas umas poucas décadas após 1798.2
Anjos e santos remanescentes
Assim, Daniel e Apocalipse, tomados juntos, prevêem o aparecimento dos três anjos, e o surgimento dos santos remanescentes em associação com os anos de 1798 e 1844.
Os adventistas do sétimo dia se consideram a concretização dos três anjos e os santos remanescentes porque: a) seu movimento surgiu no período de tempo apropriado; b) surgiu proclamando que a hora do juízo havia chegado; c) ensina a obrigatoriedade dos mandamentos de Deus e a natureza essencial da fé salvadora; d) foram enriquecidos com a manifestação do testemunho de Jesus (Apoc. 19:10, chamado o "espírito de profecia") através das contribuições de Ellen G. White.
Embora os adventistas do sétimo dia se considerem o povo remanescente da profecia, eles não se consideram os únicos cristãos. Como pode ser isso? Sendo os remanescentes da semente da mulher, eles estão ligados historicamente a todos os cristãos que vieram antes deles.
Ao darem ênfase ao chamado de Cristo em Apocalipse 18:1-4, "retirai-vos dela (Babilônia), povo Meu", eles crêem que "hoje existem verdadeiros cristãos em todas as igrejas".3 Os adventistas do sétimo dia reconhecem hoje, como reconheceram há um século atrás, que "na igrejas que constituem Babilônia, a grande massa dos verdadeiros seguidores de Cristo encontra-se ainda em sua comunhão".4
A profecia apresenta muitos dos seguidores de Cristo nos últimos dias como ainda permanecendo em Babilônia, e necessitando "sair dela" antes que seja tarde demais. Da mesma forma, a profecia também apresenta um remanescente nos últimos dias, que guarda os mandamentos de Deus, tem a fé de Jesus, proclama as três mensagens angélicas, e é especialmente beneficiado com o dom de profecia. Uma grande porcentagem dos adventistas do sétimo dia hoje é constituída de pessoas que uma vez foram seguidores de Cristo em Babilônia, mas escolheram sair dela e identificar-se com o remanescente.
Os adventistas do sétimo dia são cristãos que existem com a finalidade de comunicar uma mensagem única sobre Jesus por palavra e ação. Como cristãos, eles partilham muito em comum com outros crentes em Cristo. Das 27 doutrinas que a Assembléia Geral em Dallas, em 1980, aprovou como representando atualmente a fé dos adventistas do sétimo dia, 24 são mantidas por outros cristãos. Não que todos os outros cristãos mantenham todos os 24 artigos. Porém muitos deles mantêm alguns destes, e pelo menos uns poucos mantêm os outros.5
Por exemplo, quase todos os cristãos — não apenas os adventistas — adoram a Trindade. Muitos cristãos consideram a Bíblia, como o fazem os adventistas, como revelação autorizada de Deus, e crêem na morte vicária de Cristo. Milhões de cristãos (os mórmons, por exemplo), se opõem à bebida e ao fumo. Outros cristãos (especialmente os batistas do sétimo dia) recomendam a observância do sábado. Os adventistas do sétimo dia são gratos a outros cristãos que, através dos séculos, têm preservado, redescoberto, e transmitido grandes e nobres verdades do cristianismo.
Uma mensagem única
Embora os adventistas do sétimo dia sejam cristãos, juntamente com todos os seus irmãos e irmãs em Cristo, eles existem para comunicar em palavras e atos uma mensagem única sobre Jesus Cristo.
Em 1906 Ellen White observou (diante das acusações de John Harvey Kellogg e A. F. Ballenger) que "a questão do santuário é o fundamento da nossa fé".6
O fato de ela dizer isto não o torna verdade. Ela disse isto sabendo que assim era. Ela havia vivido os dias inesquecíveis anteriores e posteriores ao grande desapontamento de outubro de 1844. Ela unia seu coração ao de seus humildes mas intrépidos irmãos, ao lutarem com as Escrituras em busca da verdade. Ela havia visto como a compreensão da nova obra de Cristo no santuário celestial afetou todas as demais crenças e os demais ensinos dos cristãos adventistas.
O próprio Jesus sempre foi e sempre será o fundamento de toda a fé cristã (ver Efésios 2:20). Hoje, porém, Jesus está no santuário celestial, onde realiza uma operação redentora gloriosa iniciada apenas recentemente. O novo ministério de Cristo no santuário é uma percepção única da mensagem cristã que o remanescente deve levar ao mundo nos últimos dias. A mensagem do santuário, sendo uma mensagem atual sobre nosso Cristo contemporâneo, traz o evangelho eterno aos nossos dias e o torna particularmente aplicável às necessidades de homens e mulheres hoje.
"O assunto do santuário e do juízo de investigação, deve ser claramente compreendido pelo povo de Deus", escreveu Ellen White em O Grande Conflito, em 1880. Do contrário , "ser-lhes-á impossível exercerem a fé que é essencial neste tempo".7 "A cenas relacionadas com o santuário celestial deveriam fazer uma tal impressão sobre o coração e mente de todos", escreveu ela um pouco mais tarde, "que estes pudessem ser aptos a impressionar a outros." E continuou: "Quando essa grande verdade for vista e compreendida, os que a aceitam trabalharão em harmonia com Cristo preparando um povo para permanecer no grande dia do Senhor, e seus esforços serão bem-sucedidos."8
Disse ela: "Quando esta grande verdade for vista e compreendida", o povo de Deus se preparará e ajudará outros a se prepararem para o dia de Deus. A mensagem do santuário sobre Jesus é uma grande verdade. Em suas devoções pessoais, tome tempo para reler Apocalipse 4 e 5, onde você poderá rever a descrição inspirada de João sobre o trono de Deus, circundado com um arco-íris e ladeado por tronos de criaturas vivas e maravilhosas, e 24 gloriosos anciãos; fique em pé junto ao mar de vidro e ouça o cântico dos anjos — 10 mil vezes 10 mil deles; ouça a amorável voz de Deus soar como o trovão ao comissionar os anjos para saírem e ministrarem em nosso favor;9 observe raios luminosos refletindo-se sobre o mar de vidro enquanto os anjos apressadamente vão e voltam.
Tudo está pronto
Abra sua Bíblia em Daniel 7:9-14 (Leia em voz alta). Ao iniciar-se o julgamento, "tronos" são "colocados". Evidentemente, esses são os mesmos tronos colocados em outro local. Reverentemente, através dos olhos privilegiados de Daniel, contemplamos o Ancião de Dias tomar o Seu "lugar". Observe os "livros" sendo abertos. Finalmente, o tão aguardado "julgamento" é "iniciado". Tudo está pronto para o processo judicial ter início — exceto o Filho do homem, a quem o Pai delegou todo o juízo (João 5:22), e que ainda não apareceu.
Mas, vejam, aí está Ele! O Filho do homem finalmente está chegando. Ele não está dando uns poucos passos, saindo de um compartimento do tabernáculo para outro pequeno compartimento, como o sumo sacerdote fazia na Terra.
Não, não. Ele está chegando majestosamente, vindo nas "nuvens do céu" (Dan. 7:13).10
A linguagem de Daniel 7:13 é quase a mesma usada por Paulo para descrever a segunda vinda de Cristo em I Tess. 4, e João a usa em Apocalipse 1:7. Jesus deveria chegar ao julgamento em 1844, como chegará ao mundo por ocasião de Sua segunda vinda, e como subiu ao Céu após a Sua ressurreição — nas nuvens do céu.
Porém, perguntamos, por que Jesus veio à cena do juízo em 1844? Daniel 7:14 responde: Para receber "domínio e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas O servissem".
O santuário é um grande lugar. A verdade do santuário quanto ao que Jesus está fazendo ali é uma grande verdade. Perfeitamente compreendida, a mensagem do santuário influencia quase todas as outras doutrinas cristãs de forma positiva, atual, e relevante.
Por exemplo, muitos cristãos que meditam no juízo final, crêem na probabilidade de sua existência, mas se assim é, restringem tal juízo a um único evento por ocasião da Segunda Vinda. Muitos cristãos crêem que a Segunda Vinda, bem como o juízo que a acompanha, está às portas. Porém os adventistas do sétimo dia sabem que o juízo final já começou. E o término dos 2.300 dias em 1844 é o sinal mais significativo da proximidade da Segunda Vinda.
Quatro mil longos anos se passaram entre o pecado de Adão e a crucifixão de Cristo. Mais 1.500 anos se passaram antes que a Reforma tivesse ocorrido. Numa escala de aproximadamente 6.000 anos, atribuídos pelos estudantes da Bíblia ao total da história humana, 1844 ocorre a uma longa distância deste lado da cruz, e a uma distância muito maior do início da controvérsia entre Cristo e Satanás. A fé nos eventos de 1844 apoia a fé na proximidade da volta de Cristo.
Na década de 1840, o estudo da profecia dos 2.300 dias durante o grande reavivamento em torno do Segundo Advento transformou metodistas, batistas, congregacionalistas, quakers, infiéis, e muitos outros em adventistas mileritas. A contínua confiança nos 2.300 dias e seu cumprimento em 1844 tem por um século ou mais transformado cristãos de todos os tipos — e todos os tipos de pessoas ao redor do mundo — em adventistas do sétimo dia. Se a primeira fase do julgamento final já começou, então o segundo advento de Cristo não pode estar distante.
A mensagem do santuário transforma as pessoas em adventistas do sétimo dia, porque, historicamente, nossos pioneiros perceberam uma relação direta entre os Dez Mandamentos e o novo ministério de Cristo no santuário celestial. Devido a esta descoberta, eles se dispuseram a investir tudo o que tinham na mensagem do sábado. Leram em Apocalipse 11:19: "Abriu-se, então, o santuário de Deus, que se acha no Céu, e foi vista a arca da aliança no Seu santuário, e sobrevieram relâmpagos, vozes, trovões, terremoto e grande saraivada." José Bates, na segunda edição de seu livro, O Sábado do Sétimo Dia, um Sinal Perpétuo, foi o primeiro a escrever sobre uma provável conexão entre a recente entrada de Cristo no Santíssimo (onde a Arca do Concerto está localizada) e a questão do sábado. Algumas semanas mais tarde, a sugestão de José Bates foi confirmada em visão. A primeira visão de Eilen White sobre o sábado — na verdade, suas duas primeiras visões sobre o sábado — levou-a ao santuário celestial. Ali o próprio Jesus segurava os Dez Mandamentos em Suas mãos enquanto um halo de glória brilhava sobre o quarto mandamento.11
Dois anos mais tarde (24 de março de 1849) outra visão confirmou a relação entre o novo ministério de Cristo no santuário, e o sábado. "Vi", escreveu Ellen White logo após, "que a presente prova do sábado não poderia vir até que a mediação de Jesus no lugar santo terminasse e Ele passasse para dentro do segundo véu."12
Muito mais poderia ser dito sobre o relacionamento do ministério contemporâneo de Cristo e a vida e os ensinos do remanescente. Para uma informação proveitosa, veja O Grande Conflito, capítulos 24 e 28.
Concluímos que os cristãos que ensinam que Jesus iniciou a primeira fase do juízo final em 1844, e cujo movimento surgiu e alcançou notoriedade ao mesmo tempo; que respondem ao ministério de Cristo no Santíssimo, escolhendo guardar todos os mandamentos de Deus pela fé em seu maravilhoso Senhor; que confiante e humildemente aceitam a instrução e conforto do espírito de profecia como sendo na verdade o testemunho de Jesus, seu Sumo Sacerdote no santuário celestial; e que ativamente proclamam suas convicções a nações, línguas, e povos em todo o mundo — estão em palavra e ação comunicando uma mensagem única sobre Jesus Cristo.
Eles satisfazem às qualificações do remanescente mencionadas em Apocalipse 12:17 e 14:6-12.
Referências
1. Ver Apoc. 11:2 e 3; 12:6 e 14; 13:5.
2. Ver, por exemplo, Arnold V. Wallenkampf e W. Richard Lesher, editores, The Sanctuary and the Atonement (Washington, D.C.; 1981), vários capítulos.
3. O Grande Conflito, pág. 449.
4. Idem, pág. 389.
5. Os outros quatro artigos são: N° 12, sobre as mensagens dos três anjos; N? 17, sobre a relação de Ellen White com os dons espirituais; N? 23, sobre o santuário e os 2.300 dias; e N° 26, sobre o Milênio espiritual.
6. Ellen G. White, Manuscrito 20, 1906.
7. O Grande Conflito, pág. 488.
8. Testimonies, vol. 5, pág. 575.
9. Compare com Heb. 1:14.
10. Ellen White descreveu este mesmo evento, mas do ponto de vista do lugar santo (e não sobre o lugar santíssimo, como o fez Daniel), em Primeiros Escritos, págs. 54 e 55.
11. Life Sketches, págs. 95 e 96 (descrevendo uma visão de 6 de março de 1847), e págs. 100-102 (descrevendo uma visão de 3 de abril de 1847). Compare com José Bates, Uma Visão, 7 de abril de 1847.
12. Primeiros Escritos, pág. 42.