Por J. R. Spangler (RA, set/79)
A mensagem do segundo anjo de Apocalipse 14, juntamente com a de Apocalipse 18, nos dá uma visão clara da razão da nossa existência como igreja e o fundamento lógico para a nossa singular missão.
A advertência final de Deus a Babilônia centraliza-se em dois chama dos distintos. A mensagem do segundo anjo declara que "caiu, caiu a grande Babilônia que tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição". Apoc. 14:8. O alto clamor de Apocalipse 18 acrescenta: "Retirai-vos dela, povo Meu, para não serdes cúmplices em seus pecados, e para não participardes dos seus flagelos. Porque os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus Se lembrou dos atos iníquos que ela praticou."
Versos 4 e 5. Na realidade, estas duas mensagens são uma só. Estas mensagens sugerem que não podemos 'nos unir a outros grupos religiosos na divisão do mundo para fins missionários. Obviamente, com seu chamado claro para sair de Babilônia, estas mensagens devem ser proclamadas a todo o mundo. Desde os tempos da reforma, muitos intérpretes proféticos do termo "Babilônia" em seu sentido espiritual têm aplicado o termo à Igreja Católica Romana. A maioria dos reformadores e muitos dos protestantes que os seguiram sentiram que a Igreja Católica havia caído do alto estado espiritual original de cristianismo que marcou a era apostólica.
No tempo do surgimento do movimento adventista, na metade do século dezenove, Charles Fitch, um dos mais preeminentes líderes mileritas, escreveu um sermão intitulado "Sai Dela Povo Meu". Neste sermão ele desenvolveu o ponto de vista de que "Babilônia" incluía não somente a Igreja Católica, mas também a grande maioria da cristandade protestante. Para Fitch, a fria resposta da parte das igrejas protestantes à doutrina do retorno literal de Jesus revelava que elas também haviam se afastado das crenças que marcavam o puro cristianismo.
Em 1843 Fitch escreveu com eloqüência: "Se você é um cristão, saia de Babilônia. Se você pretende ser achado como um cristão quando Cristo voltar, saia de Babilônia e saia já. Jogue fora esta mísera mistura de ridículas tolices de espiritualização com as quais multidões têm por tanto tempo feito com que a Palavra de Deus não tenha nenhum efeito e ouse crer na Bíblia." — Citado em F. D. Nichols, The Midnight Cry, pág. 148.
Este apelo reforçado para sair de Babilônia era um reflexo dos crescentes ataques contra o movimento milerita através da imprensa e pelo clero protestante. Este movimento era centro de muita atenção. As principais figuras religiosas daqueles dias estavam bem cientes das idéias mileritas, bem como do seu progresso.
A publicidade e notoriedade dada ao movimento do advento, juntamente com a crescente oposição que veio ao aproximar-se o tempo predito para o advento, levaram à separação das igrejas organizadas. Nenhuma linguagem era demasiado injuriosa para ser usada com referência a Miller e seus seguidores. Ele foi acusado de ser desonesto, impostor e embusteiro — um vivo exemplo das palavras de Paulo: "Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus, serão perseguidos." II Tim. 3:12.
Conseqüentemente, no transcorrer do verão de 1844 os adventistas interpretaram Apocalipse 14:8 e 18:1-5 como sendo um chamado para a separação de "Babilônia", tanto da igreja mãe como das igrejas filhas. Muitos foram, na verdade, forçados a sair por terem sido desligados da comunhão em suas congregações.
No apogeu do "alto clamor", um grupo estimado entre 50.000 e 100.000 pessoas abandonou as várias igrejas para formar grupos próprios distintos. Os adventistas encaravam o chamado para sair de Babilônia como um chamado que veio naquele tempo para abandonar as igrejas que insistiam em rejeitar a verdade do milênio e do retorno literal de Jesus. Nos anos que se seguiram, um bom número de outras doutrinas bíblicas que eram contrárias aos ensinos populares das igrejas, foram descobertas e acrescentadas à lista de erros babilônicos, tornando mais imperioso o chamado para separação de Babilônia.
Quanto mais as posições doutrinárias dos Adventistas do Sétimo Dia eram estabelecidas, mais ampla se tomava a interpretação do termo "Babilônia". Ellen White escreveu: "A mensagem do segundo anjo, porém, não alcançou o completo cumprimento em 1844. As igrejas experimentaram então uma queda moral, em conseqüência de recusarem a luz da mensagem do advento; mas essa queda não foi completa. Continuando a rejeitar as verdades especiais para este tempo, têm elas caído mais e mais. Contudo, não se pode ainda dizer que 'caiu babilônia, ... que a todas as nações deu a beber do vinho da ira da sua prostituição.' ... a obra da apostasia não atingiu ainda a culminância. A Escritura Sagrada declara que Satanás, antes da vinda do Senhor, operará 'com todo o poder, e sinais e prodígios da mentira, e com todo o engano da injustiça'; e 'os que não receberam o amor da verdade para se salvarem' serão deixados à mercê da 'operação do erro, para que creiam a mentira.' II Tess. 2:9-11. A queda de Babilônia se completará quando esta condição for atingida, e a união da igreja com o mundo se tenha consumado em toda a cristandade. A mudança é gradual, e o cumprimento perfeito de Apocalipse, capítulo 14, verso 8, está ainda no futuro." — O Grande Conflito, págs. 388 e 389.
Como a queda de Babilônia ainda não está completa em nossos dias, o chamado para sair de Babilônia também não está completo ainda. A assombrosa ilação deste fato deveria fazer com que todos nós pensássemos seriamente sobre nossa própria condição espiritual, bem como sobre a condição da nossa igreja.
A mensageira do Senhor continua com este ponto: "Apesar das trevas espirituais e afastamento de Deus prevalecentes nas igrejas que constituem Babilônia, a grande massa dos verdadeiros seguidores de Cristo encontra-se ainda em sua comunhão." — Idem, pág. 389.
Falamos sobre a sociedade secular e sobre os que não freqüentam igreja, mas permanece o fato de que a morte do Papa, a eleição de um novo Papa e tudo o mais relacionado com estes acontecimentos ainda é o que recebe a maior atenção da parte da televisão, rádio e jornais. O Papa ainda pode ser capa das revistas Time, Newsweek e Veja. Nossa sociedade pode ser uma sociedade secular, mas ela ainda pensa sobre religião. A mais recente pesquisa Gallup sobre religião na América do Norte, registrou pela primeira vez em quase vinte anos um crescimento na freqüência às igrejas, com 42 por cento dos adultos americanos indo à igreja ou sinagoga numa semana típica. Cerca de sete em cada dez americanos agora se descrevem como membros de igrejas. Talvez mais esclarecedor seja o fato de seis em cada dez terem dito que crenças religiosas são "muito importantes" em suas vidas.
Muitos destes auto-proclamados religiosos nunca viram as verdades especiais para este tempo. Não poucos estão insatisfeitos com sua presente condição e anseiam por luz mais clara. Olham em vão para a imagem de Cristo nas igrejas a que estão ligados. O que isso nos diz? Como está nosso relacionamento pessoal com Jesus? Que espécie de impacto fazem nossas igrejas locais sobre não cristãos ou não adventistas quando assistem a nossos cultos? O que ouvem eles? O que vêem eles?
Ao se tornarem pronunciadas as diferenças entre aqueles que servem a Deus e aqueles que não O servem (apesar de usarem o Seu nome), haverá finalmente uma separação.
"O capítulo 18 de Apocalipse indica o tempo em que, como resultado da rejeição da tríplice mensagem do capítulo 14, versos 6-12, a igreja terá atingido completamente a condição predita pelo segundo anjo, e o povo de Deus, ainda em Babilônia, será chamado a separar-se de sua comunhão. Esta mensagem é a última que será dada ao mundo, e cumprirá a sua obra." — Ibidem.
Quais são as inferências de tal declaração? Estamos nós fazendo o último chamado de forma clara e distinta? Se eu entendo corretamente esta declaração profética, um grande número de indivíduos sinceros está preocupado e perplexo quanto à condição das igrejas que freqüentam. Eles não sabem se devem permanecer como uma influência positiva nas suas igrejas ou se devem sair à procura de algo melhor. O ponto crucial é: o que estas almas sinceras encontrarão nas nossas igrejas se vierem em busca da verdade?
Embora eu odeie ter que admitir, o adventismo não está totalmente divorciado de ativa participação na criação de um clima que faria com que todos se sentissem bem confortáveis no chiqueiro. Isso pode ser uma forma muito rude de expressão, mas eu sinto de maneira muito forte que esta minha querida igreja precisa colocar-se decididamente ao lado da verdade e deve fazê-lo rapidamente.
Em nossa própria comunhão encontramos filosofias e conceitos que suavizam e mitigam o horrível caráter do pecado. Encontramos grupos de estudo que gastam tempo examinando todas as facetas de assuntos que a Palavra de Deus inequivocamente declara serem pecado. São feitas sugestões sutis (ou não tão sutis) de que precisamos ser tolerantes e devemos ouvir o outro lado, que devemos examinar todos os ângulos de alguma prática proibida.
Quando ouço tais coisas, eu me pergunto: O pecado tem dois lados? O pecado não continua sendo pecado, seja qual for o lado que encaremos? Pecado, na mente de algumas pessoas, é o ato de julgar o que é pecado. Aqueles que aceitam esta definição rejeitam categoricamente qualquer pessoa que ouse levantar sua voz contra aquilo que a Bíblia chama de pecado. Eles sentem que tal atitude de "julgamento" é odiosa e desprezível. Além do mais, precisamos dar às pessoas liberdade para fazerem o que querem e respeitar sua individualidade. Não devemos denegrir qualquer indivíduo acusando-o de estar cometendo pecado.
Se esta atitude fosse reservada estritamente para aqueles fora da nossa igreja, não seria tão surpreendente. Além do mais, o que podemos esperar de Babilônia? Este não é, no entanto, o caso. O que me entristece é que esta atitude é encontrada também dentro da nossa igreja. Cheguei à conclusão de que não importa qual a atitude que uma pessoa tome, sempre haverá alguém dentro desta igreja que se oporá a ela. Minha pergunta é: quando vier o alto clamor para sair de Babilônia, estaremos prontos para receber um grande afluxo de almas que estão procurando a verdade, altos padrões e Cristo, ou nós os desapontaremos?
Os padrões morais estão se desintegrando como lenços de papel diante de um maçarico. O terrível trabalho de apostasia e rebelião continua a crescer. Por essa razão a mensagem do segundo anjo é mais importante e apropriada hoje. O chamado para sair de Babilônia, quando aplicado a nós individualmente, é um chamado para vir a Jesus e entregar tudo a Ele. O chamado para sair de Babilônia é também uma promessa de que teremos a vitória através de Jesus.
Jamais esqueçamos que as mensagens dos três anjos, em seu sentido mais amplo, se centralizam no evangelho eterno. Em 1905 Ellen White apelou para que nosso povo deixasse que Cristo e Sua justiça fossem o centro da nossa fé. (Ver Evangelismo, pág. 190.) Ela declarou, em algumas das suas últimas palavras, que o sacrifício de Cristo como expiação do pecado é a grande verdade ao redor da qual todas as outras verdades se agrupam. O grande monumento de misericórdia, regeneração, salvação e redenção é o Filho de Deus erguido na cruz. Este deveria ser o fundamento de cada sermão que pregarmos.
Não há maneira — maneira coerente e verdadeiramente vitoriosa — de ter a paciência dos santos e guardar os mandamentos de Deus e a fé de Jesus a não ser por um poderoso, profundo e inabalável amor por Jesus. E como podemos nós realmente amá-Lo a menos que compreendamos diariamente o trabalho que Ele fez e o que está fazendo por nós agora no santuário celeste? Falando sobre a intervenção de Cristo em favor da raça humana, Eilen White declara: "A natureza da intervenção deveria sempre levar o homem a temer praticar a menor ação em desobediência aos reclamos de Deus." — Mensagens Escolhidas, livro 1, pág. 234.
Não conheço outra maneira de ter ódio ao pecado do que ver o pecado em sua fealdade. Não posso ver completamente a horrível depravação do pecado, a menos que olhe para a cruz de Cristo e veja o que o pecado fez ao amado Comandante do Céu. Não conheço outra maneira de evitar o mundanismo em todas as suas formas, a não ser que de joelhos eu veja a Jesus. Não conheço outra maneira de praticar os princípios da reforma de saúde, a menos que eu me harmonize com as leis de vida e saúde como uma resposta de amor ao meu Salvador, sabendo que Ele me ama, deu-Se a Si mesmo por mim, perdoou meus pecados e gratuitamente me oferece poder para obedecer à Sua vontade. Não sei de nenhuma outra maneira de sacrificar tudo por Ele a não ser por olhar continuamente para Jesus.
Desta forma, o chamado para sair de Babilônia me oferece o privilégio e a oportunidade de demonstrar ao mundo que, através do poder de Cristo, obtido por meio de uma conexão de momento a momento com Ele, posso ficar firme em meio ao remoinho turbulento do mal.
Já saímos de Babilônia por experiência? Continuamos a temer a Deus e dar-Lhe glória? Isso faz parte da nossa experiência diária? E o sábado uma experiência com Jesus? E a hora do juízo de Deus uma experiência com Jesus? E o chamado para sair de Babilônia uma experiência com Jesus?
"Depois destas coisas vi descer do céu outro anjo, que tinha grande autoridade, e a Terra se iluminou com a sua glória." Apoc. 18:1. A antiga Babilônia estava arrasada em minas quando o apóstolo escreveu estas palavras inspiradas. Hoje há apenas ruínas daquela cidade antes orgulhosa e má. Não vamos nós deixar que Babilônia seja arrasada em ruínas em nossos corações e vidas? Não vamos nós deixar as ruínas das nossas vidas antes orgulhosas e más e sair de Babilônia para a santa atmosfera de completa harmonia com Deus ao fazermos soar o chamado profético para que milhares se unam a nós em nossa viagem para a Cidade da Liberdade de Deus, a Nova Jerusalém?